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Livro mostra como ciência, tão discutida hoje, está no dia a dia

O livro "Ciência no Cotidiano" (ed. Contexto) é da bióloga Natália Pasternak e o jornalista e escritor Carlos Orsi

Livro mostra como ciência, tão discutida hoje, está no dia a dia
Notícias ao Minuto Brasil

08:29 - 01/06/20 por Folhapress

Cultura Cotidiano

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Nós, humanos, não nos damos conta de toda a ciência e tecnologia que estão embutidas em nossa realidade e que formam uma espécie de estrutura invisível para os olhos desatentos. "Ciência no Cotidiano" (ed. Contexto), livro que a bióloga Natália Pasternak e o jornalista e escritor Carlos Orsi acabam de lançar, tenta trazer esses elementos à luz.

Ao ignorarmos o conhecimento científico e tecnológico, que, como escrevem os autores, "são como os fios, cabos, e engrenagens que operam debaixo do capô da civilização", estamos expostos ao risco de sermos enganados por vigaristas e nos tornarmos vítimas da ganância de pessoas sem escrúpulos.

O modo de vida que a ciência construiu (com água encanada, luz elétrica, antibióticos etc.) é visto mais como uma espécie de pano de fundo que sempre esteve aí, diz Orsi."A noção de que essas condições são precárias –no sentido de que podem sumir se descuidarmos delas– e dependem de um modo de pensar e analisar a realidade muito específico vem se perdendo, e isso é perigoso. Sempre me lembro de episódios de 'Star Trek' em que a Enterprise chega a algum planeta onde os habitantes acham que a infraestrutura deixada pelos ancestrais é mágica, porque a ciência por trás dela se perdeu."Para Orsi, que escreve sobre ciência há mais de 20 anos, a ciência ainda é considerada um "conjunto de fatos sobre o mundo", quando deveria ser apresentada como uma disciplina mental, um jeito de pensar. No livro, ele e Pasternak escrevem: "O poder maior da ciência não está em suas conclusões, descobertas e afirmações, mas em sua estrutura: trata-se da única atividade humana construída e projetada para reconhecer, revisar e aprender com os próprios erros".Um dos capítulos da obra versa sobre energia, que, fisicamente, pode ser definida como a capacidade de realizar trabalho, ou seja, de mudar a posição, a forma, o tamanho, a temperatura ou a velocidade de alguma coisa. Essa energia não tem nada a ver, por exemplo, com "energias positivas" enviadas a atletas pelo público, e essas "vibrações" supostamente emanadas por uma pessoa em busca de inspiração ou influência sobrenatural nada têm a ver com a vibração das moléculas de um objeto, característica que determina sua temperatura.Outro tema abordado no livro são micróbios e sua importância para nossa vida, da produção de vinhos e queijos à formação das defesas do nosso intestino e no surgimento de doenças. Micro-organismos como vírus, bactérias e fungos microscópicos somam 50% de toda a biomassa terrestre, ou seja, pesam a mesma coisa que todas as plantas e animais somados. Só no organismo humano, há em média 2 kg de micro-organismos.O livro também vai às origens do mito, infelizmente conhecido, de que vacinas causam autismo. Tudo culpa do médico britânico Andrew Wakefield, que em 1998 publicou na conceituada revista médica inglesa The Lancet um estudo que tentava associar o uso da vacina tríplice viral (contra sarampo, caxumba e rubéola) ao surgimento de autismo em crianças.O problema é que Wakefield havia manipulado os dados do estudo a fim de promover a venda de sua própria versão de vacina contra sarampo. Além disso, dois anos antes Wakefield havia sido contratado pelo advogado de pacientes interessados em processar a fabricante da vacina para dar respaldo científico à acusação e recebeu o equivalente a US$ 750 mil à época.Mesmo com a retratação do artigo e a avalanche de críticas que veio na sequência, o estrago já havia sido feito."O livro é uma maneira de trazer ciência para perto das pessoas, mostrar como as decisões, se não forem baseadas em ciência, podem ser perigosas para a saúde, para o bolso e para decisões de governo. Uma maneira de superar essa dificuldade é mostrar o 'fazer ciência', e não a ciência como um prato feito", diz Pasternak, pesquisadora especializada em genética micro-organismos e presidente do Instituto Questão de Ciência.Exemplo de atitude perigosa para o bolso é fazer apostas. Os autores citam as análises que contabilizam quais dezenas a Mega Sena estaria "devendo", como se houvesse uma força mágica prestes a compensar a ausência desses números nos sorteiosEsse tipo de leitura é conhecida como "falácia do jogador". É a mesma que faz alguém pensar que, após um grande número de resultados "cara", uma moeda seria obrigada pelo Universo a dar "coroa" após um lançamento.Várias pesquisas de opinião dizem que o brasileiro gosta de ciência, diz Pasternak. "Mas o brasileiro gosta do que ele acha que é ciência, e não gosta o suficiente para apoiar o financiamento para as pesquisas, para entender por que tem medicamentos que não devem ser usados e outros que devem (e quem consegue responder a isso é a ciência)."Por causa da pandemia de Covid-19 o livro não teve um lançamento físico. Neste período, diz Orsi, a ciência tem sido mais ouvida. "Nunca cientistas tiveram acesso à mídia generalista como agora. Por outro lado, a ciência também nunca foi tão disputada, sobre quem tem a 'ciência verdadeira', ou o que realmente conta como ciência. Essa disputa se dá ao longo de um espectro que vai das discordâncias normais do processo científico até carteiradas de charlatões que querem grudar o rótulo de 'científico' em seus delírios. Isso é um problema exatamente porque a população em geral é pouco instruída sobre os métodos e critérios de qualidade da ciência e sobre a natureza dos consensos científicos", afirma."Creio que chegamos a uma encruzilhada em que podemos tanto finalmente fazer com que a ciência seja respeitada e ouvida como merece ou ver a 'autoridade da ciência' ser reduzida a um fetiche nas mãos de espertalhões. Esta é a batalha do momento", diz Orsi.Veja exemplos de como a ciência permeia o dia a diaVacinas e 'sobrecarga' do sistema imunológicoAntes das vacinas, uma em cada cinco crianças morria de doenças infecciosas, como sarampo ou poliomielite, antes de completar 5 anos de idade. Vítimas do próprio sucesso, as vacinas hoje encontram opositores com acusações de que elas sobrecarregariam o sistema imunológico. Vacinas compõem apenas uma pequena fração dos antígenos ao quais somos expostos, e usam ao todo apenas 0,1% da capacidade do sistema imunológicoAlimentos 'naturais'As principais culturas da humanidade, como arroz, milho, soja e trigo, foram intensamente modificadas pelo homem ao longo dos séculos, não sendo capazes de sobreviver na natureza. Nem os chamados orgânicos escapam: muitos são resultados de hibridização (cruzamento entre espécies), mutagênese por agentes químicos ou mesmo seleção de variedades poliploides (com cromossomos duplicados), a fim de aumentar o tamanho de sementes e frutosAcidentes e probabilidadeMuitos podem achar que andar de avião é perigoso, mas a chance média de uma pessoa morrer num acidente automobilístico é de 1 em 114 (0,9%), enquanto a chance de morrer num acidente aéreo é de 1 em 9.821 (0,01%), segundo estatísticas americanas. Os autores argumentam que, pelo fato de acidentes aéreos serem muito noticiados (já que são eventos excepcionais), fica para o público a ideia de que o extraordinário é comum, e vice-versaO GPS do GPSA Terra é redonda, e, não importa onde estejamos, ao menos quatro satélites estão aptos a nos ajudar a saber exatamente em que ponto do planeta estamos, caso tenhamos à disposição um dispositivo com GPS (Sistema de Posicionamento Global). Mas como os satélites sabem onde estão? Os pontos de referência no Cosmos são quasares, objetos celestes gigantescos e tão distantes que, da Terra (e dos satélites que nos orbitam), parece que estão parados

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