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'Macabro' mostra detalhes obscuros de crimes dos irmãos necrófilos

O filme mostra uma série de assassinatos que ocorreram na região serrana do Rio de Janeiro entre 1991 e 1995

'Macabro' mostra detalhes obscuros de crimes dos irmãos necrófilos
Notícias ao Minuto Brasil

07:01 - 28/07/20 por Folhapress

Cultura Cinema

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Macabro é um adjetivo que sumariza bem a série de assassinatos que ocorreram na região serrana do Rio de Janeiro entre 1991 e 1995. Conhecidos como os irmãos necrófilos, Ibraim e Henrique de Oliveira aterrorizaram o local ao matar e depois estuprar suas vítimas, o que desencadeou uma complicada caçada à dupla em plena mata atlântica.

O caso real inspira o filme "Macabro", de Marcos Prado, que passou pela 43ª Mostra Internacional de Cinema e que agora faz sua estreia ao público geral no que restou de cinema em meio à pandemia -num drive-in. A sessão de lançamento acontece no Memorial da América Latina, em São Paulo, nesta terça-feira. Em seguida, o longa amplia seu circuito para outras atrações do gênero.

Mas não espere ver nas telas um retrato fiel dos crimes dos irmãos necrófilos. "Macabro" não se propõe a recontar de forma imaculada o caso e toma várias licenças poéticas no meio do caminho.

Na trama, Renato Góes vive Teo, um sargento fictício que cresceu na região serrana e que é enviado a Nova Friburgo para comandar a caçada à dupla, como forma de se redimir. Lá, ele se depara com uma população nervosa, armada e com medo, mas também profundamente racista.

A história desse policial inexistente se mescla à veracidade dos crimes e dá origem a uma narrativa que mergulha no caso em busca de detalhes obscuros e jamais esclarecidos. O principal deles é que Henrique de Oliveira, condenado a 49 anos de prisão, talvez nunca tenha cometido nenhum dos assassinatos, que seriam de autoria exclusiva do irmão, Ibraim, que foi morto durante sua captura.

"Há cerca de dez anos, quando tive acesso a detalhes do caso, comecei a desenvolver um roteiro e fui procurado pelo advogado do Henrique", afirma Marcos Prado. "Ele me disse que o cliente dele não tinha cometido os crimes, que não havia provas contra ele e pediu cuidado para não o condenar injustamente uma segunda vez."

Diante do relato do advogado, de mudanças no depoimento de uma vítima que sobreviveu -que inicialmente havia inocentado Henrique- e também do acirrado resultado dos júris que condenaram o garoto, o cineasta decidiu embrulhar o caso em ficção.

Prado também resolveu buscar os motivos para que aqueles irmãos (ou pelo menos um deles) virassem homicidas, já que eram descritos, antes da adolescência e do começo dos assassinatos, como "muito solícitos".

"A região onde o caso ocorreu é formada por várias fazendinhas de colonos. É uma área de imigração suíça e alemã, principalmente. Você entra lá e parece que entrou em outro planeta, com montanhas, pessoas bem brancas, bochechas rosadas. Mas, até o século 19, havia ali muitas plantações de café, com muitos escravos."

Prado, então, se perguntou se o racismo da população local poderia ter influenciado o julgamento de Henrique, já que ele e o irmão eram negros. "A gente decidiu dividir a responsabilidade pela criação desses monstros. A gente fez da sociedade a vilã da trama", diz o cineasta.

"Enxergamos naquela situação sintomas que vemos na sociedade brasileira como um todo e pusemos uma lente de aumento. Pensamos sobre o que existe nesse caso que coincide com a vida brasileira. Primeiro, somos um país racista. Os crimes são feminicídios, e nossa sociedade é machista. Existe também a questão da violência policial. Então pegamos esses elementos para mostrar que, no fundo, ninguém nesse filme é do bem."

Essa é a impressão que fica de "Macabro". Além das vítimas, o espectador não é levado a ter pena de ninguém, nem mesmo de seu protagonista, que já começa a trama assassinando um inocente durante uma operação policial numa favela. Todo esse contexto contribui para um clima de thriller, que se intensifica conforme novas vítimas dos irmãos necrófilos vão aparecendo.

"Mas não é só um suspense ou filme de terror", diz Prado. "É algo que aconteceu, o que, de certa forma, dá uma credibilidade extra para a história."

"Quis fazer um thriller psicológico por causa dessas distorções e exageros sobre o caso –a população local acreditava que aqueles garotos tinham poderes sobrenaturais– e foi aí que usei a ficção como técnica dramatúrgica. Mesmo assim, quando você assiste ao filme, você pensa 'caramba, a realidade é mais cruel do que a ficção'."

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