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Canção de Chico Buarque fala de 'suburbanos tipo muçulmanos' no Rio

Nona e última música de disco do cantor aborda temática social

Canção de Chico Buarque fala de 'suburbanos 
tipo muçulmanos' no Rio
Notícias ao Minuto Brasil

19:17 - 15/08/17 por Folhapress

Cultura Lançamento

Com suas informações sendo estritamente controladas, "Caravanas", o novo álbum de Chico Buarque - que chega às lojas físicas e virtuais no próximo dia 25 -, mostrou até agora apenas sua face romântica.

"Tua Cantiga", primeiro single do disco, tem uma letra de amor, assim como duas outras canções já conhecidas -"Dueto" e "A Moça do Sonho", ambas regravações.

Mas ao menos uma das faixas aborda uma temática social e episódios do cotidiano: é "As Caravanas", nona e última canção do álbum.

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"É a música mais impressionante do Chico, entre as recentes. Fala dessas caravanas da garotada que vem de ônibus das favelas para as praias da zona sul e a reação das pessoas 'honestas e virtuosas' que morrem de medo dessas 'pessoas estranhas, suburbanos tipo muçulmanos'", diz a cantora Miúcha, irmã do compositor.

Os acontecimentos a que ela se refere ocorreram nos últimos verões cariocas, quando ônibus vindos dos subúrbios em direção às praias da zona sul do Rio foram alvos de blitze e revistas.

As autoridades acusavam os jovens de serem responsáveis pelos arrastões na orla. Houve também registros de brigas entre galeras, com lutadores de Copacabana perseguindo em bando quaisquer passageiros que considerassem suspeitos.

Segundo Miúcha, "As Caravanas" também trata do tema de seu título de forma mais ampla, remetendo às ondas de imigrantes internacionais.

"Ela é exatamente o avesso de 'Tua Cantiga'. Aborda as coisas que estão rolando, os refugiados pela Europa, as pessoas que estão sofrendo ao saírem de seus lugares. É uma música muito, muito impressionante."

Em termos de melodia, a canção "começa de um jeito e acaba meio que num funk", segundo a cantora.

Dado o cenário de crise generalizada em que o Brasil entrou desde o último disco de estúdio de Chico ("Chico", 2011) e o posicionamento público do cantor em diversos momentos políticos recentes, havia a dúvida sobre o quanto estes temas influenciariam as composições de "Caravanas".

Miúcha diz que seu irmão "não quer ser rotulado disso ou daquilo, como se tivesse um papel a desempenhar". "Ele quer estar livre na inspiração dele. Não tem essa preocupação em voltar a ser político [nas letras], mas, como todo ser humano, é sensível à realidade."

A cantora, que foi responsável por apresentar ao irmão a melodia de Cristóvão Bastos que viraria "Tua Cantiga", diz que o novo disco é o melhor de Chico em muito tempo.

"As pessoas estão com saudade de ouvir música bonita, melódica. A canção brasileira com melodia, começo, meio e fim, se perdeu muito. Esse disco tem bastante disso, com outros temas também. Tem coisas muito bonitas mesmo."

PASSEIO POR HAVANA

Entre as sete canções inéditas do CD, há um bolero, "Casualmente", criado em parceria com o baixista Jorge Helder -a dupla já havia composto "Bolero Blues" ("Carioca", 2006) e "Rubato" ("Chico", 2011).

Feito para a cubana Omara Portuondo cantar no CD de estreia de Helder, que atrasou e só será lançado em 2018, ele acabou incorporado ao disco de Chico. Sua letra, em espanhol, descreve um passeio romântico por Havana.

"Caravanas" também traz duas regravações, uma para "A Moça do Sonho", de Chico e Edu Lobo, que eles fizeram para a peça "Cambaio" (2001) e já haviam cantado com Maria Bethânia, e outra para "Dueto", que o cantor gravara com Nara Leão (em 1980) e com Zizi Possi (2001).

Desta vez ele se fez acompanhar da neta Clara Buarque, filha de Helena e de Carlinhos Brown. Num breve vídeo divulgado nas redes sociais, os dois improvisam e atualizam a letra da canção ("Consta nos mapas, nos lábios, nos lápis..." etc.), citando novas tecnologias como Instagram, YouTube, Facebook, Tinder e Telegram. Com informações da Folhapress.

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