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Sucesso no The Voice, Tiago Nacarato abre o coração sobre o Brasil

Em conversa com o Notícias Ao Minuto, o artista falou da herança cultural brasileira

Sucesso no The Voice, Tiago Nacarato abre o coração sobre o Brasil
Notícias ao Minuto Brasil

12:35 - 10/11/17 por Lorena Portela

Cultura Entrevista

Se não fosse o sotaque português, quem passasse por Tiago Nacarato, sentado num banquinho de frente ao Rio Douro, no Porto (Portugal), com violão a postos, dedilhando Bossa Nova, poderia jurar que se tratava de um brasileiro apaixonado. O músico de 27 anos, que deixou o público encantado e explodiu nas redes sociais há alguns meses, ao interpretar 'Onde Anda Você' (Toquinho e Vinicius de Moraes) no 'The Voice Portugal', nasceu no país de Camões, mas tem família e alma brasileiras. Fala fácil (e aproveita para cantarolar sempre que pode) sobre Gilberto Gil, Chico Buarque, Los Hermanos e sonha em cantar ao lado de Yamandu Costa.

Foi sobre essa paixão e herança, tanto genética quanto cultural, que Nacarato conversou com o Notícias ao Minuto Brasil. E mostrou que, sim, a simpatia e o talento que garantiram quatro cadeiras viradas no reality show musical têm muito mais do que apenas um pé no lado de cá do Atlântico. "O Brasil é muito forte pra mim", entregou, orgulhoso, o lusobrasileiro.

Antes de ser tornar cantor, você queria ser jogador de futebol e até chegou a jogar profissionalmente. O que te fez mudar de sonho?

Sim, queria ser jogador, cheguei a jogar numa equipa, ou num time, como vocês dizem no Brasil, participei de campeonatos. A virada aconteceu quando um dos meus irmãos me deu um violão. Nem éramos muito próximos e meu irmão me deu o instrumento porque eu estava inscrito em aulas de canto. E eu, a partir daí, mudei todos os planos da minha vida, foquei no violão e dediquei-me à música 100%. Fiz faculdade de cinema, mas não cheguei a terminar porque fui recebendo propostas de trabalho, mas ela [a vaga] está lá reservada, pode ser que eu um dia acabe.

Foi repentino ou aconteceu aos poucos?

A mudança de sonho não foi exatamente repentina, eu toco há quatro anos e venho aumentando meu público. Repentino foi o reconhecimento. A televisão é muito forte nisso. Qualquer artista precisa de um meio para chegar às pessoas, a televisão continua sendo o mais forte deles, junto com a internet.Eles me convidaram e eu pensei 'será que eu vou ter essa arrogância de não aceitar um convite?' 

Você já é cantor, toca numa banda [a Bamba Social, grupo que une cerca de 15 músicos brasileiros e portugueses]. O que te motivou a aceitar o convite para o 'The Voice Portugal'?

É engraçado. Eu gosto muito do [ator] Jim Carrey e ele tem um filme que se chama 'Yes, Man', e eu associei muito a isso. Eles me convidaram e eu pensei 'será que eu vou ter essa arrogância de não aceitar um convite? Uma coisa que parece estar tão presente na minha vida, que é a música?'. Então eu aceitei e eles me deram liberdade para eu fazer o que eu quisesse até agora. Nas próximas fases, eles que escolheram a música e acabou saindo muito da minha zona de conforto... Mas eles me deixaram tocar Vinicius de Moraes na primeira prova, na televisão, isso foi fenomenal. Eu amo essa canção. Ela sempre me disse muito, porque eu comecei tocando nos bares.

Como é a relação com a Marisa Liz, sua mentora no 'The Voice Portugal'?

Há uma relação de editora, sugestões de canções, basicamente.

O seu pai, Alexandre Nacarato, também é cantor e se apresenta em bares, restaurantes. Ele já deu algum conselho que você segue ou que foi útil na caminhada até agora?

Na verdade, o meu pai não tem muito esse papel de me aconselhar, mas houve uma história importante, para conjugar tudo isto. É um pouco pretensioso, mas, ok, é a história. Uma vez, ao soprar uma vela de aniversário, ele disse em voz alta: 'eu quero que esse menino seja melhor do que eu'. Eu, naquela altura, já tocava um 'Só Pra Contrariar' no parque ou uma coisa assim (ri). E ele disse isso e isso me marcou muito. Como se fosse uma missão e uma das minhas grandes motivações. Mas conselheiro meu, sou eu mesmo.

Com pais brasileiros e parte da sua família vivendo no Brasil, o que o país representa para você, como artista e pessoa?

O Brasil representa 70% das minhas referências musicais e de cinema, representa muita saudade porque eu tenho lá a metade da minha família, minha madrinha, meu tio, que é uma figura paterna também, meio irmão de parte de pai, que mora em Uberlândia (MG)... então, algumas das pessoas que mais gosto nesta vida estão lá. O Brasil é muito forte para mim. Nunca tive vontade de morar lá porque tenho alguma consciência política do que se passa lá e não concordo com quase nada. Mas tenho vontade de ir constantemente.

Um tributo a caetano. @caetanoveloso

Uma publicação partilhada por Tiago Nacarato (@tiago_nacarato) a Out 27, 2017 às 12:04 PDT

Na relação Brasil x Portugal, o que é o melhor e o pior dos dois mundos?

Há uma falta de entrega à emoção no povo português, há uma falta de liberdade que veio muito do 25 de abril, e as pessoas sempre foram muito oprimidas e respeitosas a nível religioso. O lado bom é que estamos no paraíso. A classe média vive muito bem, qualquer pessoa com mil euros é feliz aqui. Temos muito intercâmbio cultural, parece que estamos no centro do mundo e muita coisa passa por aqui. Agora, em relação ao Brasil, realmente é um país com a matéria-prima mais maravilhosa de todas, mas que é abusada. Ou seja, os "engravatados fazem mal aos índios que, supostamente, são os que estão vivendo da maneira correta". Uma pessoa se torna autossuficiente naquele clima, não precisamos de ocidentalismo para nada.

O Brasil realmente é um país com a matéria-prima mais maravilhosa de todas, mas que é abusada".Você tem planos de ir para o Brasil e investir no mercado musical brasileiro?

Eu gostaria muito! Sempre prometi à minha família que eu iria para lá, mas fazendo shows. Talvez agora esteja perto, cada vez mais perto.

Acho melhor já ir arrumando a mala...

Nós [inclui os amigos da Bamba Social] já temos tudo pronto, a mala, a sunga... (ri).

Quem é seu maior ídolo, o artista que lhe inspira mais?

Só posso dizer um? Acho que eu não tenho um ídolo, mas tenho muitas pessoas que me inspiram. Minha banda de juventude foi Los Hermanos. Estou sempre tocando músicas de Marcelo Camelo e Rodrigo [Amarante]. Acho que o disco 'SOU' não pode ser superado. Ele nunca vai fazer nada igual, nem nenhum disco dos Los Hermanos vai superar aquilo. Tem uma música desse disco que está no pináculo da criação pra mim, que é 'Santa Chuva'. E depois o disco todo do Rodrigo Amarante também, intitulado 'Cavalo'. Os dois são figuras muito fortes pra mim. E depois tem Chico Buarque, Gilberto Gil, Caetano, Dominguinhos... Talvez, Dominguinhos seja o meu grande ídolo, em termos de composição e verdade.

E você consegue citar uma música preferida?

[Tiago não responde, mas canta toda a primeira parte de 'Lamento Sertanejo', composta por Dominguinhos em 1973. Pergunta se eu conheço a música 'Foguete', de Maria Bethânia, e começa a cantar também]

Se pudesse escolher uma pessoa ou grupo para gravar hoje, quem seria?

Nesse momento, eu queria ser a Mayra Andrade, naquele DVD do Dominguinhos, que ela está entre o Yamandu Costa e o Hamilton de Holanda. Mas o Gilberto Gil também seria uma opção.

Seu vídeo cantando 'Onde Anda Você' fez um sucesso estrondoso no Brasil, nas redes sociais com milhares de compartilhamentos e mais de 2 milhões de views. Muitas pessoas, muitas mulheres, começaram a ficar curiosas sobre a sua vida pessoal. Você está namorando?

[Pensativo] Não... eu estava... mas não, não estou.

Mas está procurando alguém?

Acho que não estou pensando nisso agora. Deixa andar, deixa andar... a vida está muito atribulada e uma namorada precisa de atenção. Eu não sei até que ponto eu vou ser bom nesse sentido.

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