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'Uma Mulher Fantástica' reflete conflitos de personagem trans

Imagens refletem angústia de Marina ao ser alijada do seu companheiro de forma repentina

'Uma Mulher Fantástica' reflete conflitos de personagem trans
Notícias ao Minuto Brasil

21:23 - 27/04/18 por Folhapress

Cultura Cinema

Os espelhos que aparecem ao longo de "Uma mulher fantástica" mostram mais que as expressões da protagonista. Neles, é projetada a luta constante do ser transgênero em se afirmar como mulher, e ainda ter que enfrentar toda sorte de preconceitos. As imagens refletem ainda a angústia de Marina (Daniela Vega) ao ser alijada do seu companheiro de forma repentina, sem ao menos ter a oportunidade de consumir o luto.

Estas foram algumas questões do debate, nesta quarta-feira (25), na Cinemateca Brasileira, após a apresentação do longa de Sebastián Lelio e que deu ao Chile a primeira estatueta do Oscar de melhor filme estrangeiro, em 2018.

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Para a psicanalista Cândida Sé Holovko, a presença constante dos espelhos no longa foi uma forma sutil do diretor apresentar a dualidade da personagem, ora exaltando o seu lado feminino, ora o masculino.

"Os transgêneros pensam que houve um engano da natureza, que aquilo não os pertence. Ela sente que tem um corpo de homem, mas todo o interior é de mulher", afirmou.

"Uma Mulher Fantástica" apresenta a luta da protagonista ao lidar com a morte de Orlando (Francisco Reyes), seu companheiro. Além da perda, Marina precisa enfrentar o preconceito e violência da família dele e o constrangimento imposto por autoridades.

A especialista enxerga no título uma mensagem que pode ser interpretada por ângulos distintos. Mais do que apresentar uma mulher excepcional por encarar diferentes conflitos, o adjetivo mostra a identificação dúbia dela como um ser. "'Fantástico' também tem a ver com o fantasioso, e tem a ver com essa questão de pessoas transgêneros, e como as identificações nunca são unitárias, elas sempre têm um quê de ficcional."

As cenas de realismo fantástico exaltam a força da personagem, afirmou a psicanalista. O principal exemplo é a imagem de Marina andando em meio a um vendaval, se mantendo firme, apesar das folhas e objetos que são projetados contra seu corpo.

"Imediatamente nos remete a essa mulher que tem força para enfrentar situações muito difíceis. Ali se mostra uma série de conflitos, as tempestades internas com esse confronto do corpo que não bate com a alma."

O embate com a família do ex-companheiro desperta a curiosidade de saber como Marina era vista pelos seus próprios familiares, disse Miriam Tawil, psicanalista e mediadora do debate entre Cândida e a plateia.No longa, as únicas relações, de forma harmoniosa, se tratam com uma irmã e o cunhado da protagonista.

"Que tipo de família ela veio, o que aconteceu com ela? O diretor deixou para cada um imaginar. Na clínica, quando recebemos um paciente trans, sempre tem uma família muito complicada."

Segundo Cândida, após a morte de Orlando, as ações de violência por parte da família e da sociedade exaltam o sentimento de abandono enfrentado pela personagem. "As invasões de fora impedem que ela se retire e faça o luto. Não apenas o luto pela morte de Orlando, mas tudo que ela perdeu junto com isso: o seu apartamento, o olhar dele", afirmou.

O evento encerrou o primeiro módulo do Ciclo de Cinema e Psicanálise, realizado pela Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo e Cinemateca Brasileira, com apoio da Folha de S.Paulo.

A segunda etapa, o Mal-estar na civilização e amor, iniciará no dia 16 de maio, com exibição do longa "O filme da minha vida". A programação inclui "Ela" (30/5), "Me chame pelo seu nome" (13/6) e "45 anos" (27/6). Todas as sessões iniciam às 19h e são seguidas de um debate sobre o filme e o contexto psicanalítico. A entrada é gratuita, basta se inscrever em www.sbpsp.org.br. Com informações da Folhapress.

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