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Cinema foi um tanto ingrato com o trabalho de Tom Wolfe

Obra do escritor, que morreu nesta terça-feira (15), nunca obteve sucesso ao ser adaptada para as telas

Cinema foi um tanto ingrato com o trabalho de Tom Wolfe
Notícias ao Minuto Brasil

17:56 - 15/05/18 por Folhapress

Cultura CRÔNICA

INÁCIO ARAUJO - Philip Kaufman ainda não havia cedido à tentação do filme de prestígio quando adaptou "Os Eleitos - Onde o Futuro Começa", que antes de ser filme foi a narrativa do longo acompanhamento de 15 anos feito por Tom Wolfe do programa espacial americano e de seus primeiros astronautas.

O próprio Wolfe adaptou seu livro não ficcional junto com Kaufman. O filme acabou levando quatro Oscar secundários do ano de 1983. Talvez fosse um pouco injusto. Kaufman fez um filme tremendamente sedutor, em parte graças à opção de colocar no centro não um dos astronautas escolhidos (John Glen, Alan Shepard e outros), mas justamente aquele que era considerado o melhor piloto de todos, Chuck Yeager, mas que não tinha "The Right Stuff", isto é, as qualidades certas (e não raro medianas) para conhecer o espaço.

Quem interpretou Chuck Yeager foi o também dramaturgo Sam Shepard, que trazia a imagem do "outsider" e levava toda a simpatia do público para o esquecido Yeager. Shepard, assim como o roteiro adaptado de Wolfe e Kaufman, foi esnobado pelo Oscar num ano em que "Laços de Ternura" deu todas as cartas: havia um quê de contestação na figura de Yeager, num momento em que a América já buscava se reconciliar consigo mesma após o trauma do Vietnã.

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Bem outro foi o caminho de "A Fogueira das Vaidades": a primeira ficção de Wolfe foi um enorme best- seller desde 1987, quando foi lançado. Narrava de maneira bem convencional a história de um jovem e bem-sucedido financista que certa noite, entrando por uma rua errada no Bronx, acaba atropelando e matando um jovem negro que, supunha, pretendia assaltá-lo.

Brian De Palma não trouxe Wolfe para participar da adaptação e, a bem dizer, fez seu filme contra o romance: contra sua construção tradicional, contra seu humor, contra os ataques de Wolfe a meia sociedade nova-iorquina. Ele fez do jovem Sherman McCoy (Tom Hanks) uma espécie de reencarnação do presunçoso George Minafer no "Soberba" que Orson Welles dirigiu em 1942 .

Público e crítica o rejeitaram. De Palma injetou nos protagonistas tal carga de antipatia que o filme parece mesmo fazer todo o possível para afastar de si os espectadores.

Esse é um mal de que não sofreu "O Importante É Vencer", saga de um jovem motorista da Carolina do Norte que trabalha para o pai contrabandista. Depois deste ser preso, Elroy Jackson Jr. (Jeff Bridges) decide usar suas habilidades para se tornar um grande corredor de automóveis. O modesto porém eficiente artesão Lamont Johnson dirigiu esse filme simpático, primeira experiência de Wolfe como corroterista, muito valorizado pela interpretação de Bridges.

Wolfe voltaria a trabalhar como corroteirista em 1998, na comédia "Os Quase Heróis", em que dois jovens exploradores tentam superar as proezas de Lewis e Clark, a célebre dupla que explorou a Luisiana no começo do século 19. Nem a crítica nem o público se interessaram por essa proposta. Tom Wolfe não voltaria ao cinema, que, afinal, foi-lhe um tanto ingrato.

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