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Destruído pelo fogo, Liceu de SP reabre após restauro

O espaço sai das cinzas de volta à vida cultural da cidade com a exposição permanente "História e Memória", sobre o próprio Liceu

Destruído pelo fogo, Liceu de SP reabre após restauro
Notícias ao Minuto Brasil

07:25 - 07/08/18 por Folhapress

Cultura Recuperação

Encravado entre as avenidas Tiradentes e do Estado, o Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo divide vizinhança com a Pinacoteca, os camburões do Quartel da Luz e as noivas da rua São Caetano. Em 2014, um incêndio destruiu o galpão centenário que abrigava o centro cultural da instituição e a maior parte do acervo de móveis, objetos e obras ali armazenados.

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Com a reabertura ao público marcada para este sábado (11), o espaço sai das cinzas de volta à vida cultural da cidade com a exposição permanente "História e Memória", sobre o próprio Liceu, e uma mostra temporária de design brasileiro e sustentabilidade. A entrada é gratuita.

"O centro cultural se prestará às atividades da própria escola e exposições e eventos sociais que podem nos ajudar a gerar receita", diz Livio de Vivo, advogado e há 12 anos presidente do Conselho Diretor do Liceu de Artes e Ofícios.

Do conselho voluntário faz parte também o arquiteto Ricardo Julião, cujo escritório cedeu o projeto de restauro e de reconstrução do galpão. Para a área externa, uma fachada em chapa metálica com floreiras foi pensada para interligar horizontalmente um antigo pórtico (também restaurado) e a nova entrada.

Do lado de dentro, o porão que funcionava como depósito foi aberto e integrado, formando o espaço expositivo com pé-direito de 11 metros. Toda a arquitetura do local foi pensada a partir da conjugação de elementos originais, como os tijolos que revestem os pilares, e a roupagem contemporânea.

"É um galpão industrial com uma história curiosa. A Alemanha participou de uma feira na virada do século e importou uma grande estrutura metálica. O Kaiser, ao invés de mandá-la de volta depois do evento, a doou ao Liceu", conta o arquiteto Ricardo Julião.

Segundo ele, houve uma avaliação de que a estrutura teria de ser preservada, apesar de ter perdido sua capacidade de suportar o prédio. Para isso, segundo ele, as peças foram desmontadas, numeradas e depois recolocadas em caráter decorativo.

No piso inferior, "História e Memória" revive a trajetória do Liceu e sua contribuição para a cidade: fundado em 1873 por um grupo de aristocratas da elite cafeeira, o Liceu se transformou em referência pelas oficinas de marcenaria, serralheria e desenho.

Atualmente, a instituição forma técnicos em eletrônica, automação, edificações e multimídia, além de ser uma escola de ensino médio com forte vertente filantrópica e 600 alunos. "Fizemos um levantamento de toda a documentação e escaneamos mais de 3.000 fotos. Constatei que a gente tinha memórias de excelência, esparsas e sem data, e resolvi fazer a exposição em linha do tempo, com uma área dedicada às relações entre o Liceu e São Paulo", diz Denise Mattar, curadora da mostra.

Das oficinas do Liceu, saíram por exemplo, as poltronas do Theatro Municipal, os portais em madeira da Catedral da Sé e as esquadrias metálicas do Masp. Na exposição, uma imagem ampliada deflagra uma centena de operários aglomerados dentro da base da estátua equestre de Duque de Caxias, concebida por Brecheret e hoje na praça Princesa Isabel.

"Era uma indústria escola. Os alunos aprendiam aqui e ficavam, trabalhando com uma qualidade impressionante", complementa a curadora. Enquanto uma exposição recupera o passado, a segunda mostra "Design Brasil Séc. XXI" (curadoria Fernanda Sarmento, primeiro piso) apresenta uma coleção de 50 móveis e objetos brasileiros que têm a sustentabilidade como parâmetro: usam materiais que reduzem o impacto ambiental e trabalham com inclusão social.

Expostos lado a lado, trabalhos de designers consagrados (Irmãos Campana, Zanini de Zanine, Marcelo Rosenbaum) dividem espaço com projetos inovadores de jovens, alguns recém-saídos da universidade.Uma programação de palestras a ser realizada em setembro traça vínculos entre design e tecnologia.

Associação sem fins lucrativos, a escola e o centro cultural são mantidos com os recursos da indústria Liceu de Artes e Ofícios, fabricante de hidrômetros e medidores de água desde os anos 1930. Parte dos terrenos que ocupa pertencem ao Governo do Estado de São Paulo cedidos em regime de comodato.

A instituição não divulga custo da recuperação, orçamento para o novo centro cultural nem montante recebido pelo seguro contra incêndio. Também não são claros os eixos que orientarão a programação no futuro –"Aquilo que o pessoal da área nos recomendar e aquilo que o clima artístico da cidade exigir", diz o presidente do conselho. Segundo ele, todas as atividades terão envolvimento de professores e alunos do Liceu.

O fogo no Liceu destruiu especialmente réplicas em gesso de esculturas clássicas, trazidas da Europa na virada do século e expostas no antigo Centro Cultural entre 1980 e 2014.Sem grande valor artístico, as peças tinham uso didático e das 28 existentes pelo menos 10 puderam ser restauradas.

"Foi um trauma em muitos sentidos", lembra o presidente do conselho. O prejuízo faz lembrar outros incêndios em equipamentos culturais: Teatro Cultura Artística (2008), Auditório do Memorial da América Latina (2013) e Museu da Língua Portuguesa (2015), este último com reinauguração prevista para o ano que vem.

Passados 20 anos da abertura da Sala São Paulo, ao lado da Estação da Luz, as promessas de revitalização da região pela multiplicação de equipamentos culturais parecem ter ficado a mercê. Insegurança, sujeira e o mal-estar social da cracolândia são alguns dos problemas complexos que a proliferação de exposições e atividades não bastou para resolver. Com informações da Folhapress.

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