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Nick Cave prova ser incomparável em músicas ritualísticas

Por duas vezes, Cave estimulou gritos de "ele não" do público

Nick Cave prova ser incomparável em músicas ritualísticas
Notícias ao Minuto Brasil

08:36 - 15/10/18 por THIAGO NEY para a Folhapress

Cultura São Paulo

THIAGO NEY - SÃO PAULO, SP - Nick Cave tem 61 anos e está no meio da música há mais de quatro décadas. Ainda assim, em um show de 2h25 de duração repleto de momentos emocionantes pinçados de diversas etapas de sua carreira, ele é capaz de criar uma faixa tão delicadamente transcendente como "Push the Sky Away", canção que dá nome ao disco lançado em 2013 e que foi tocada no final da apresentação no Espaço das Américas, em São Paulo, na noite de domingo (14).

Não é usual encontramos no rock and roll alguém produzir coisas tão relevantes e impactantes depois de anos e anos de carreira. Mas Nick Cave não é nada usual.

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Esse australiano que já morou em São Paulo com a ex-mulher brasileira (no início dos anos 1990) e que hoje vive na Inglaterra possui uma voz inconfundivelmente melodramática que dá vida a músicas que muitas vezes pintam um mundo cinzento, infestado de demônios e dogmas estúpidos -mas não há motivos para jogar a toalha. Tem esperança ali.

Como em "Push the Sky Away": "E se seus amigos acham que você deveria fazer diferente/ Se eles acham que você deveria fazer o mesmo/ Você só precisa continuar empurrando/ Empurre o céu para longe". Cave à frente do palco, como um maestro, o público cantando junto. Bonito demais.

Em entrevista coletiva realizada na sexta-feira em um hotel da capital paulista, Cave brincou com o fato de Roger Waters estar em turnê pelo Brasil (Cave e Waters se desentenderam anos atrás quando o australiano fez show em Israel e foi repreendido pelo ex-Pink Floyd). "Não faço músicas para mudar o mundo. Deixo isso para Roger Waters", brincou Cave na entrevista.

Bem, no show paulistano ele não teve a intenção de mudar o mundo, mas tocou no atual momento político do país. Por duas vezes, estimulou gritos de "ele não" do público. Na primeira vez, no intervalo entre músicas. Na segunda, pediu silêncio ao público e deu o microfone para uma fã que estava à frente do palco. Ela disse "ele não" e então o cantor passou a ouvir novamente o coro da plateia (não foram ouvidos gritos de "ele sim").

A grande banda liderada por Cave sai de momentos quase silenciosos para uma catarse barulhenta sem nenhum solavanco. E o vocalista coloca a energia lá no alto em faixas como "Stagger Lee", "City of Refuge" e "From Her to Eternity".

Mas Nick Cave mostra ser incomparável ao transformar canções elegantemente fortes em hinos ritualísticos. Como na balada "Into My Arms", em que, ao piano, canta: "Eu não acredito em um deus intervencionista/ Mas eu sei, querido, que você acredita/ Mas se eu acreditasse/ Eu me ajoelharia e pediria para ele/ Não intervir em você/ Não tocar em um cabelo da sua cabeça/ Para deixar você como você é".

E, também, no encerramento, com "Rings of Saturn", em que repete em um quase mantra versos como "E este é o momento, isso é exatamente o que ela nasceu para ser/ E isso é o que ela faz e isso é o que ela é". Isso é o que somos. Com informações da Folhapress.

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