Meteorologia

  • 04 OUTUBRO 2024
Tempo
--º
MIN --º MÁX --º

Edição

Em novo livro, Sylvia Molloy discute língua e identidade

Escritora e ensaísta participa de evento no Instituto Cervantes durante lançamento de 'Viver Entre Línguas'

Em novo livro, Sylvia Molloy discute língua e identidade
Notícias ao Minuto Brasil

18:16 - 11/11/18 por Folhapress

Cultura Literatura

A escritora e ensaísta argentina Sylvia Molloy, 80, apresenta nesta segunda-feira (12), no Instituto Cervantes de São Paulo, às 19h30, "Viver Entre Línguas", obra que mistura algo de sua própria biografia, vivendo em vários países, e reflexões sobre identidade pessoal, literatura e bilinguismo.

"Essas questões começaram a me interessar quando, do ponto de vista pessoal, minha vida foi ocorrendo em distintos países e em distintos idiomas. E, do ponto de vista da literatura, no momento em que me dei conta de que vivemos em um mundo em que cada vez mais pessoas estão expostas à necessidade de falar, interpretar ou traduzir outros idiomas, por causa dos deslocamentos pessoais ou das imigrações em massa", contou à Folha, em entrevista num café de Buenos Aires.

+ Roberto Carlos lança 1º LP em 22 anos e segue a tradição da cor azul

Nascida na capital argentina, Molloy estudou na França até obter um doutorado em literatura comparada na Sorbonne. Depois, foi dar aulas nos EUA (nas universidades de Yale, Princeton e na de Nova York), onde vive há mais de quatro décadas. Em Buenos Aires, mantém um apartamento, onde passa breves temporadas.

"Dizem que o seu principal idioma é aquele em que você pensa, mas é possível transitar o seu pensamento dependendo do tema, existe uma linguagem para pensar em afeto, em recordações, para escrever, e para mim isso varia."

Molloy sempre escreveu mais de uma coisa ao mesmo tempo, geralmente colocando lado a lado a não-ficção e a ficção.

Por exemplo, quando se interessou em estudar autobiografias para um ensaio, provou escrever em primeira pessoa para saber como era, e acabou saindo daí seu romance autobiográfico "Em Breve Cárcel" (1981).

Diz identificar-se e admirar o escritor e ensaísta argentino Domingo Faustino Sarmiento (1811-1888), ex-presidente e precursor do sistema educacional argentino. "Creio que é preciso lê-lo hoje com outros olhos, pois ele viu coisas da Argentina e dos lugares pelos quais passou que muitos não viram".

Sarmiento é o autor de um clássico nacional, o ensaio "Facundo" (1845), em que trata do encontro de culturas europeias (a civilização, em suas palavras) com os restos do mundo colonial americano (a barbárie) e reflete sobre a melhor combinação de ambos para construir um país no futuro.

"Eu sempre recomendo suas obras menos conhecidas, como os relatos de viagens pela América do Sul e pela Europa. São muito atuais ao não tratar só de política, há ali uma obsessão com o modo de vida das pessoas, algo de esoterismo, e também uma busca para perceber o homossexualismo, numa época em que esse tema não era objeto de estudos".

O feminismo e a luta pelos direitos da comunidade LGBT são outros temas que a interessam. "Não escrevo sobre política diretamente, mas a reivindico por meio desses assuntos. Comparando com os anos 1960, creio que hoje há uma nova onda no que diz respeito à militância pelos direitos desses grupos. E creio que esta é uma resposta a essa onda conservadora que vemos em vários países."

Atualmente tem se preocupado com três temas, que devem ser assunto de seus próximos livros e ensaios: a relação dos homens com os animais "e essa estranha obsessão que temos de humanizar nossos mascotes", a imigração volumosa de latino-americanos aos EUA e a vida e os percalços dos intérpretes e tradutores.

"O intérprete é uma figura pouco tratada pela literatura, pouco estudada e meio invisível nos meios, mas essencial nos dias de hoje, na política, nos encontros entre líderes, ou na chegada de imigrantes a um país novo. São a ponte entre dois códigos, duas culturas, por meio de dois idiomas que às vezes nem é o idioma natural da pessoa. Imagine que um erro de um intérprete numa discussão diplomática ou política pode até causar uma guerra, eles sempre ficam com a culpa", afirma.

Por outro lado, "se eles não existissem, as culturas seriam ainda mais ensimesmadas do que já são, a política externa dos países seria inviável. É uma figura muito rica".

Haverá duas atividades com Molloy em São Paulo. Além do lançamento de "Viver Entre Línguas" nesta noite, em que debaterá com a crítica Paloma Vidal, a pesquisadora Mariana Pires e a tradutora Mariana Sanchez, haverá também uma palestra, na terça-feira.

"A relação entre a literatura argentina e a brasileira ainda está muito distante do ideal. Muitas vezes se coloca a culpa na diferença de idioma, mas creio que uma desculpa que nos dias de hoje não cabe mais. Deveríamos nos traduzir mais, deixar rivalidades para trás. Isso vem mudando, mas de forma muito lenta." Com informações da Folhapress.

Campo obrigatório