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Rappers mulheres transformam preconceito em rimas em festival

Mais que isso, são em sua maioria negras, e algumas marcadas por outros ímãs de discriminação: Yzalú usa uma prótese na perna direita

Rappers mulheres transformam preconceito em rimas em festival
Notícias ao Minuto Brasil

19:34 - 23/11/18 por Folhapress

Cultura Red Bull Music Fest

Um olho na recente ascensão de mulheres no rap, o outro atento à realidade social, política e cultural do Brasil em 2019: passado e futuro se chocam na programação da segunda edição paulistana do Red Bull Music Festival.

O evento, que começa nesta sexta (23) e vai até 2 de dezembro, começa com encontro de conteúdo militante entre as cantoras-rappers Yzalú, Rosa Luz e Jessica Caitano e o grupo feminino de hip-hop Rimas & Melodias nesta sexta (23), a partir das 19h, na praça do Patriarca, no centro de São Paulo.

São mulheres ascendentes em um meio até há pouco predominantemente masculino.

Mais que isso, são em sua maioria negras, e algumas marcadas por outros ímãs de discriminação: Yzalú usa uma prótese na perna direita por conta de uma deficiência congênita, e Rosa Luz é transexual.

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Na profissão há 16 anos, Yzalú -nome artístico de Luiza Yara Lopes Silva, 36- ficou conhecida há cerca de quatro anos, quando vídeos seus tocando sua mescla de rap e violão viralizaram na internet.

Ela sobe ao palco nesta sexta (23) vendo melhora na situação das mulheres na música autoral independente e celebra o crescente protagonismo feminino no meio do hip-hop.

"Apesar das limitações do machismo estrutural, acredito que hoje há mais mulheres do que antes; não tínhamos tanto espaço de fala", diz a cantora.

Na ocasião, Yzalú fará show baseado em seu disco "Minha Bossa É Treta" (2016), no qual mescla o rap e a MPB em temas como "Figura Difícil", e receberá Shirley Casa Verde, com quem lançará um EP em janeiro de 2019.

Aliás: cantora ou rapper? Tanto faz, diz a artista, para quem rimar aconteceu depois de aprender a tocar violão.

"Embora desde cedo tenha entendido que a minha realidade estava mais próxima daquela das canções de hip-hop, só mais tarde fui perceber que tinha muita facilidade para compor rap ao violão", ela explica.

Sua trajetória profissional começou em 2002, quando conheceu o grupo feminino de rap Essência Black, que passou a integrar. "Elas quem me ensinaram sobre o que é ser uma mulher preta no rap", diz Yzalú, que depois desenvolveu carreira solo e, em 2007, apresentou-se pela primeira vez num palco de rap.

Mulher, negra e deficiente, ela sente o preconceito de maneira particular -"são predicados que pressionam para me inserir nessa ou naquela caixinha", diz.

Ela acredita que a classe artística passará por tempos difíceis sob o governo de Jair Bolsonaro (PSL), mas acredita no poder transformador da informação.

"A arte não vai morrer só porque o governo não tem interesse na gente; ela vai sair fortalecida e vai continuar informando a sociedade. Mesmo que incomode. Eu acho muito positivo quando uma pessoa num show se incomoda e sai com a cabeça borbulhando de tanta informação que recebeu. Vão aparecer mais vozes, sobretudo femininas."

O próximo álbum já está nos planos, "lá para maio do ano que vem". Nele, Yzalú deve explorar outros caminhos: "Pretendo explorar mais as rimas e o flow do rap e ter instrumentais mais eletrônicos, mas sem perder minha característica de fusão de gêneros", ela diz.

Outro destaque nesta primeira noite do festival é a rapper Rosa Luz.

Natural de Gama, no Distrito Federal, a artista transgênero fará show baseado em seu primeiro EP, "Rosa Maria, Codinome Rosa Luz" (2017) e também apresentará canções que tem produzido com outras artistas transexuais de hip-hop, como Zaia.

Para ela, a distinção entre rapper ou cantora é relevante:

"Me defino como rapper, pois foi no rap que encontrei meu lugar de expressão artística. Sempre tive vontade de cantar e sempre escrevi poesia, mas nunca acreditei que tinha talento. Quando entrei na universidade, percebi que o conceito de talento estava muito atrelado a uma questão de privilégio social."

Conhecida por versos incisivos, como "Que a morte não chegou, é mais um dia de sorte", Rosa também teme a realidade que artistas como ela viverão no Brasil sob a presidência de Bolsonaro.

"Não sei qual vai ser o papel da arte no governo Bolsonaro, mas ele sempre criticou pessoas trans. Na perspectiva dele, eu não sou uma pessoa, um indivíduo com vontades, mas um fruto de uma ideologia esquerdista. O Brasil é o país que mais mata trans e travestis no mundo, e 90% delas se encontram na prostituição. Se já não era fácil existir no governo do PT, imagine no governo desse homem que defende publicamente que minha existência não é legítima."HOMENAGEM E TRANSMISSÃO

Até o domingo (2) da semana que vem, o Red Bull Music Festival reunirá outras atrações em diversos pontos da cidade.

Neste sábado (24), na Fabriketa, no Brás, a partir das 22h, a festa Concreto Som Sistema reunirá expoentes da cultura sound system, tradição nascida na Jamaica nos anos 1950.

O evento terá apresentações da cantora Lei di Dai, do coletivo Dubversão Sistema de Som, do duo feminino Sound Sisters e do produtor Buguinha Dub, que já trabalhou com bandas como Racionais MC's e Nação Zumbi e é um notório pesquisador do gênero dub no Brasil.

Na segunda (26), Elza Soares participará de um bate-papo na Red Bull Station com mediação de Zeca Camargo, colunista da Folha, que escreveu biografia da cantora recém-lançada.

Os ingressos, limitados, estão disponíveis pelo site redbullmusic.com/rbmsp.

Elza fará show na quarta (28), na Casa Natura Musical, apresentando seu disco mais recente, "Deus É Mulher", em formato inédito, com participação do grupo de percussão Ilú Obá de Min, formado por mulheres influenciadas pela cultura afro-brasileira e nascido como um bloco de Carnaval homônimo.

Outro destaque será a dupla de DJs Selvagem, composta por Millos Kaiser e Augusto Olivani. Eles vão celebrar sete anos da festa de mesmo nome com uma transmissão de 12 horas exibida ao vivo pela Red Bull Radio, com pérolas e raridades da música brasileira ao house.

Na sexta (29), músicos como Lúcio Maia (Nação Zumbi), Fábio Sá, Mauricio Fleury (Bixiga 70) e Bnegão se reúnem para apresentar o álbum "Krishnanda", clássico do músico Pedro Sorongo (1919-1993) lançado em 1968. Com informações da Folhapress. 

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