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Inventividade de orquestra altera Pink Floyd com resultados agradáveis

Depois de um começo tímido, concerto ganha força impressionante

Inventividade de orquestra altera Pink Floyd com resultados agradáveis
Notícias ao Minuto Brasil

14:45 - 27/11/18 por THALES DE MENEZES para a Folhapress

Cultura Crítica

THALES DE MENEZES - SÃO PAULO, SP - Menos de dois meses depois do explosivo show de Roger Waters em São Paulo, pessoas nas arquibancadas do Allianz Parque voltaram a cantar entusiasmadas os versos de "Another Brick in the Wall Part 2".

Na noite de segunda (26), a Orquestra Petrobras Sinfônica apresentou sua versão para "Dark Side of the Moon", o álbum clássico do Pink Floyd lançado em 1973. No primeiro bis (seguido por mais dois), veio um medley de canções de outros discos do grupo: "Wish You Were Here", "Run Like Hell" e "Another Brick in the Wall Part 2".

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O maestro Isaac Karabtchevsky ter retornado três vezes ao palco, sob aplausos e gritos, já atesta a ótima reação das mais de 10 mil pessoas que lotaram o Allianz Parque Hall, a configuração para shows no estádio do Palmeiras que utiliza cerca de um terço do espaço total da arena.

Os 43 minutos do álbum original do Pink Floyd, tocado na íntegra, foram expandidos para 55 minutos de música. Em alguns momentos, a inventividade da orquestra alterou bastante o material, com resultados agradáveis, principalmente no início.

Com as mudanças, os espectadores demoraram um pouco a entrar na viagem sonora proposta pelo idealizador da adaptação, Ricardo Cândido, um dos contrabaixistas da orquestra.

Por isso, às vezes o público explodia em aplausos quando reconhecia aquelas canções que estão em sua memória afetiva. Mas, depois de um começo tímido, o concerto ganhou uma força impressionante.

Os músicos são ótimos e tocaram com empenho temas de um dos discos mais personalíssimos da história do rock. Seis das dez faixas do álbum têm letra, mas a proposta da orquestra foi quase inteiramente instrumental. Três cantores, muito bons, atuaram pontuando as músicas com coros breves. Suas vozes eram como instrumentos a mais no conjunto todo.

O spalla Ricardo Amado conquistou o público ao reproduzir no violino os belíssimos solos de guitarra de David Gilmour, uma das sonoridades mais consagradas do rock.

As músicas mais conhecidas ofereceram momentos empolgantes. "Time" e "Money" levantaram o estádio. Por mérito, retornaram nas várias entradas de bis ao final da noite. Essas voltas ao palco deixaram o concerto com quase uma hora e meia.

"Dark Side of the Moon" é um dos agentes transformadores da música pop, no sentido de deixar de ser um apanhado de canções para entregar ao ouvinte um conceito musical, uma obra completa.

Apresentados por uma orquestra, hinos do rock como "Time", "Money" e "Us and Them" ficaram expostos em todas as intrincadas ligações sonoras que existem entre eles. É possível perceber que Roger Waters, David Gilmour, Richard Wright e Nick Mason seguiram ideias muito parecidas com a concepção de uma obra erudita.

Assim, o disco do Pink Floyd é diferente dos outros dois já resgatados pela Petrobras Sinfônica no projeto Álbuns. Essa captura do pop para o ambiente de música de concerto começou com "Thriller", de Michael Jackson, e "Ventura", do Los Hermanos. Ambos apresentam canções independentes, longe do formato de "disco conceitual" inserido em "Dark Side of the Moon", ou "Tommy" (The Who) e "Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band" (Beatles).

"Amo Beatles, 'Sgt. Pepper's' é incrível, mas para o que 'Dark Side of the Moon' se propõe, como álbum conceitual, ele alcançou um resultado maior", diz o diretor executivo da orquestra, Mateus Simões, destacando as referências ao universo sonoro de Syd Barrett (1946-2006), fundador do Pink Floyd que se afastou do grupo em 1968, com problemas mentais causados pelo consumo de drogas.

"É uma sinfonia. Quando você chega ao final, com 'Brain Damage' e 'Eclipse', é como se você entrasse na cabeça do Syd Barrett. É um disco em que as músicas parecem não parar, estão conectadas."

Simões diz que a ideia do projeto, que norteia também os outros trabalhos da Sinfônica, é diminuir a distância entre a orquestra e um público que não frequenta os espaços de concertos tradicionais. "Com um repertório descolado, até na descontração das roupas dos músicos, a intenção é deixar confortável um espectador no ambiente de uma orquestra, sem ser um estranho no ninho."

Ele afirma que os concertos clássicos da Sinfônica estão cada vez mais cheios. "Há um público migrando. Não é um processo rápido, mas precisamos fazer esse trabalho."

Seguindo essa linha, a Petrobras Sinfônica faz no próximo mês, no Rio de Janeiro, concertos em tributo a Cartola e às trilhas sonoras dos filmes de Tim Burton. Em janeiro, começa uma turnê pelo Brasil tocando ao lado de Nando Reis o repertório do cantor.

E, para os roqueiros, Simões antecipa que a próxima edição do projeto Álbuns, no ano que vem, será dedicada ao "black album" do Metallica, o disco que leva o nome da banda e foi lançado em 1991 para se tornar um clássico do rock pesado. Com informações da Folhapress.

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