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Novo filme é como se Amélie Poulain encontrasse Wes Anderson

Ao que parece, ainda existem "famílias excêntricas" para atiçar o público nas traduções brasileiras

Novo filme é como se Amélie Poulain encontrasse Wes Anderson
Notícias ao Minuto Brasil

09:20 - 29/11/18 por Folhapress

Cultura Cinema

Em 1996, "A Excêntrica Família de Antônia" derrotou "O Quatrilho" na disputa pelo Oscar de melhor filme estrangeiro. No original, apenas "Antonia". Ao que parece, ainda existem "famílias excêntricas" para atiçar o público nas traduções brasileiras.

Acaba de estrear "A Excêntrica Família de Gaspard", terceiro longa-metragem do francês Antony Cordier. Sem o chiste do título original, que menciona um casamento ("Gaspard Va au Mariage").

A promessa de uma festa com coroinhas e cachepô dura poucos minutos. A veterinária Peggy (Marina Foïs) introduz o braço em, digamos, determinada cavidade de um animal. Peggy é da tal excêntrica família de Gaspard (Félix Moati).

O rapaz acabou de conhecer Laura (Laetitia Dosch), acorrentada em uma ferrovia durante manifestação contra experiências nucleares. Aliás, mesmo no estilo cômico, Dosch mantém a atuação trêmula pela qual ficou conhecida em "Jovem Mulher" (2017).

Gaspard convida Laura para acompanhá-lo no casamento do pai, Max (Johan Heldenbergh), um sátiro. Laura também conhece Coline (Christa Théret) e Virgile (Guillaume Gouix), irmãos de Gaspard. Todos administram um zoológico.

Aparente contradição: o libertário Max defende a permanência dos bichos no zoológico, algo que as "manifs" atuais não toleram. Já Coline imagina-se ursa. Literalmente. Carrega nas costas a pele de uma ursa e cheira pessoas.

Cordier não procura explicações cartesianas. O filme é uma coleção de gags visuais, não realistas, "tongue in cheek", como se Amélie Poulain encontrasse Wes Anderson e explorasse conflitos familiares, até mesmo incesto.

Curioso notar que o diretor-roteirista utiliza elementos da infância -cores, histórias sobre o passado da família, invenções-, bem distante de "Duchas Frias" (2005), retrato da adolescência e seus hormônios.

No recente "A Noite Devorou O Mundo", o diretor Dominique Rocher deixou no set brinquedos antigos do protagonista, para ambientá-lo no zombie movie. "As Boas Maneiras", de Juliana Rojas e Marco Dutra, segue na linha de contos de fada, entre outros tantos mistérios, sempre com os pés fora do chão.

O universo infantil não é ingênuo e alegre o tempo todo. Exatamente por isso, o filme acerta ao fazer uma dedicatória à falecida atriz Christine Pascal e à diretora Catherine Breillat. Ambas carregam uma doçura triste, ausente de facilidades.

A EXCÊNTRICA FAMÍLIA DE GASPARD

PRODUÇÃO França, Bélgica (2017)

DIREÇÃO Antony Cordier

ELENCO Marina Foïs, Félix Moati, Laetitia Dosch

AVALIAÇÃO Bom

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