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Baseadas em ativos da floresta, startups da Amazônia impulsionam a bioeconomia

A economia verde, ou de baixo carbono, deve ajudar a Região Amazônica - que representa cerca de 60% do território brasileiro - a dar um salto em sua participação no Produto Interno Bruto (PIB), hoje de apenas 8%, segundo avaliação de especialistas no tema

Baseadas em ativos da floresta, startups da Amazônia impulsionam a bioeconomia
Notícias ao Minuto Brasil

18:30 - 23/08/20 por Estadao Conteudo

Economia Amazónia

O universo de startups que está nascendo na Amazônia com foco em atividades sustentáveis pode ser exemplo para fomentar a bioeconomia que governos, grupos empresariais, investidores e ambientalistas buscam para desenvolver a região e gerar renda para a população sem derrubar ou queimar a floresta. Baseados em produtos e projetos locais, que vão de açaí a cosméticos, pequenos negócios inovadores começam a transformar o cenário regional (veja mais nesta página).

A economia verde, ou de baixo carbono, deve ajudar a Região Amazônica - que representa cerca de 60% do território brasileiro - a dar um salto em sua participação no Produto Interno Bruto (PIB), hoje de apenas 8%, segundo avaliação de especialistas no tema.

O caminho trilhado por um número crescente de startups amazônicas para essa nova economia envolve comunidades ribeirinhas, indígenas, quilombolas e agricultores familiares. A lógica está em aplicar ciência e tecnologia a dezenas de ativos da região, desde o início da cadeia de produção, para aumentar o valor dos produtos e beneficiar as populações locais.

Fabricante de cosméticos com óleos extraídos de plantas da região, a startup Biozer se prepara para exportar seus produtos aos EUA, Emirados Árabes e Europa. Já o Café Agroflorestal de Apuí usa grãos de plantações em áreas sombreadas pela floresta e será enviado para a Alemanha. Os chocolates da De Mendes são feitos com cacau nativo colhido por ribeirinhos e índios e chegam a consumidores de vários Estados e também do exterior.

"Não tem como manter a floresta de pé sem gerar renda para a população local", afirma Mariano Cenamo, engenheiro florestal e diretor de Novos Negócios do Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia (Idesam), que promove programas de aceleração de negócios de impacto.

Potencial

Dono da maior biodiversidade vegetal do mundo, o Brasil possui cerca de 50 mil espécies de plantas, das quais pelo menos 20 mil endêmicas - que ocorrem somente no País. Embora todos os biomas nacionais tenham capacidade de desenvolver uma economia baseada na biodiversidade, é a região da Amazônia que oferece as condições para investimentos imediatos.

Estudo feito pelo WRI Brasil, lançado na semana passada, com base em dados do Censo Agropecuário do IBGE, mostra que 74% das atividades extrativistas não exaustivas (com sementes, folhas, frutos, óleos, sem levar à derrubada da árvore) estão na Amazônia.

Idealizador do projeto Amazônia 4.0, o pesquisador Carlos Nobre, do Instituto de Estudos Avançados da USP, diz que o conceito de bioeconomia visa a promover sistemas de produção baseados no uso e na conservação dos recursos biológicos da floresta em pé. Segundo ele, atividades extrativistas realizadas na região, apesar da pequena escala, já são mais lucrativas do que desmatar. O valor anual da produção de carne e soja, por exemplo, é de R$ 604 por hectare; no caso do açaí, cacau e castanha, chega a R$ 12,3 mil.

Especialista do WRI no tema, o economista e biólogo Rafael Feltran-Barbieri vai na mesma linha e calcula que o extrativismo não exaustivo é particularmente rentável para os pequenos proprietários. "Para as pequenas propriedades, os produtos nativos cultivados trazem renda média de R$ 3.100 por hectare ao ano. Quem faz rotação de soja e milho, tira cerca de R$ 1.762/ha/ano. Já a pecuária de corte, rende apenas R$ 1.250/ha/ano", afirma.

"Mas a exploração de produtos in natura é só a ponta do iceberg para a bioeconomia. Há uma grande diversidade de substâncias que podem ser produzidas em escala", diz.

Para Carlos Nobre, para isso vingar como uma alternativa econômica é preciso investir em uma bioindustrialização local, que possa beneficiar os produtos, gerando mais renda e empregos.

Para o economista José Roberto Mendonça de Barros, há aí uma enorme oportunidade. "Com pesquisa, que foi justamente o que transformou o agronegócio brasileiro, é sim possível desenvolver esses projetos e ganhar escala", afirma. O caminho, segundo ele, passa pela transformação de matérias-primas em novos materiais e pelo pagamento por serviços ambientais, como dar a proprietários de terra uma renda para preservar uma nascente.

Mendonça de Barros ressalta que a pandemia acentuou a tendência de que a sustentabilidade é indispensável. "Ganha força a ideia de que é possível transformar partes do sistema de produção em direção à sustentabilidade. E isso vai entrar na experiência das grandes empresas."

Queremos ter itens premium

Cosméticos 100% naturais produzidos em Manaus (AM) começam a ser exportados para EUA, Dubai e Europa ainda este ano. Os embarques só não ocorreram ainda porque a pandemia atrapalhou os planos da startup Biozer, que usa óleos extraídos de árvores e plantas da Amazônia na produção de óleos fitoterápicos, cremes e, em breve, gel, espuma para limpeza facial e suplemento alimentar de frutas da região - todos com a marca Simbioze Amazônica, criada pela empresa.

Após passar por um processo de aceleração, a startup foi criada há três anos por Danniel Pinheiro, de 26 anos, formado em biotecnologia, em parceria com o administrador gaúcho Domingos Amaral, de 53 anos, que buscava um projeto para investir. "Queremos levar produtos premium para o Brasil e o mundo com o mesmo óleo que o caboclo e o índio usam há centenas de anos, sem nenhum aditivo", diz Amaral. São produtos com andiroba, breu branco, castanha, copaíba, patauá, pracaxi, priprioca, argila branca, cupuaçu, açaí, guaraná e tucumã.

Os extrativistas que fornecem os produtos passam por capacitação para garantir o padrão do óleo para a produção. "O preço é o mesmo que pagaríamos se o óleo viesse de São Paulo, ou seja, agregamos valor na extração, pois não há atravessadores", diz Amaral.

Hoje, a Biozer funciona no Centro de Incubação e Desenvolvimento Empresarial. Pinheiro informa ter planos para uma fábrica maior, que deve multiplicar por dez a capacidade atual, de 4 mil unidades diárias. O projeto está orçado em R$ 8 milhões e já há fundos interessados no negócio.

Mantemos uma relação justa

Formado em química e com cinco especializações e dois mestrados, César de Mendes desistiu da vida de professor, pesquisador e consultor e foi se dedicar ao cacau e ao chocolate. Acabou se tornando especialista no tema e se deu conta de que, na época, não havia nenhuma fábrica de chocolates de cacau nativo no Pará.

Após uma experiência de produção de chocolates em Belém, na empresa que batizou de Amazonas Cacau, mudou-se em 2012 para Colônia Chicano, comunidade de Santa Bárbara onde vivem 500 pessoas. Lá, instalou sua fábrica e, dois anos depois, mudou a razão social para De Mendes e passou por processo de incubação e tornou-se uma startup.

Fez parcerias com vários povos tradicionais da floresta - quilombolas, ribeirinhos e indígenas -, aos quais ensinou a fermentar a polpa com sementes, secar e macerar para obter o pó usado para fazer chocolate. "Mantemos uma relação justa de preço e pago em torno de quatro vezes mais que o mercado", conta o chocolatier. Com isso, os povos locais conseguem obter renda sem precisar destruir a floresta. "Quem preserva a Amazônia são os povos originários, que conseguem manejar a floresta sem derrubar, usam de forma sensata, sábia e equilibrada", diz o produtor, que teve seu chocolate premiado em festivais de Paris.

Hoje, a De Mendes recebe cacau de 3,5 mil colhedores da região. A empresa produz nove tipos de chocolate que são vendidos pela internet. Aos 57 anos, Mendes busca parceria e financiamento para ampliar a capacidade de produção, hoje de 600 quilos por mês.

Melhorou muita coisa na produção

Nascido em família de mineiros que cultivava café, Ronaldo Carlos de Moraes migrou há 12 anos para Apuí, cidade com alto índice de desmatamento na Amazônia. Lá, também plantou o grão no modelo convencional, a pleno sol, mas a produtividade era baixa.

A situação mudou quando adotou o sistema sombreado, com café conilon, mais rústico que o arábica. Para esse cultivo, ele teve de plantar árvores como as de copaíba e açaí que, além da sombra para o café, geram renda extra com extração de óleo e venda de frutos. "Após a mudança, melhorou tanta coisa que nem sei por onde começar", diz Moraes, de 41 anos. Ele relata alta de até 40% na renda e melhora na saúde após parar de usar agrotóxico.

Moraes é um dos 45 produtores de Apuí que participam de projeto do Instituto de Conservação e Desenvolvimento da Amazônia (Idesam), que introduziu o cultivo de café sombreado na região. Por se tratar de área degradada, foi adotado o sistema agroflorestal, que combina plantio de floresta com agricultura, ajudando a recuperar a parte desmatada.

Hoje, a área tem mais de 40 hectares de café agroflorestal, com certificação orgânica e à venda em vários Estados e prestes a ser exportado com o nome de Café Agroflorestal de Apuí. "Antes a produção era de seis a sete sacas por hectare; após a introdução de técnicas de agricultura sustentável, a média é de 15 sacas", diz Pedro Soares, do Idesam. Em 2019 os produtores criaram a startup Amazônia Agroflorestal para captar investimentos e ampliar o negócio. A primeira chamada de captação ocorrerá no fim do ano ou início de 2021.

Potencial do produto da Amazônia

Joanna Martins sempre esteve envolvida com os sabores amazônicos, em especial com a culinária paraense, pois passou boa parte da vida vendo a avó, e depois os pais, divulgar pratos típicos da região em um pequeno restaurante da família inaugurado em 1972 em Belém (PA), o Lá em Casa.

Seu pai, Paulo Martins, foi o criador, em 2000, do Festival "Ver o Peso da Cozinha Paraense", que foi realizado anualmente até 2019. "Com o evento, cresceu a procura por ingredientes da cozinha local por chefs de várias partes do Brasil", conta Joanna.

Após se formar em Publicidade em São Paulo, ela retornou a Belém e passou a "enxergar potencial no produto amazônico". Abriu uma loja virtual com produtos da região que não se sustentou. Em 2014, com o sócio Paulo Reis, criou a Manioca.

Hoje, a startup tem linha de produtos naturais (tucupi, farinhas e feijão manteiguinha), geleias de pimenta de cheiro, priprioca e taperebá, e de temperos (molho de tucupi preto e tucupi temperado), além de doce de cupuaçu, licor de flor de jambu e granola de tapioca, castanha-do-pará, cumaru e cupuaçu. Em breve, vai lançar uma linha de temperos secos e, em 2021, uma de snacks de produtos como mandioca e castanhas, sem aditivos.

A startup se abastece de 45 famílias de pequenos agricultores e fornece produtos para grandes restaurantes de comida brasileira de São Paulo e do Rio, e tem entre seus clientes o chef Alex Atala. Seus produtos estão em redes como Pão de Açúcar e San Marché. Para um cliente nos EUA envia 30 quilos de tucupi a cada três meses. Tem oito funcionários e faturou R$ 900 mil no ano passado. A Manioca captou R$ 250 mil em recursos de investimentos de impacto em 2019 e neste ano.

Geração de renda produz autoestima

Criada em 2012 por Amanda Santana, de 38 anos, a Tucum vende artesanatos de 30 povos indígenas do Brasil. Em 2019, a startup passou por processo de aceleração e captou R$ 360 mil, recurso que está sendo usado na mudança do negócio para uma plataforma de marketplace. Hoje, boa parte dos produtos são trazidos por seu parceiro, Fernando Niemeyer, cientista social e antropólogo, que atua como indigenista desde 2004, e por ela, em viagens que faz às regiões da Amazônia. Com o marketplace, as vendas serão feitas diretamente pelos artesãos.

Em 2019 a Tucum - nome de uma palmeira cujas folhas são usadas em artesanatos - vendeu R$ 330 mil em cestarias, adornos, cerâmicas, redes, instrumentos musicais e telas. Desse valor, 40% voltaram para os artesãos em pagamento pelos produtos.

Além de vender os artesanatos, a Tucum presta consultoria às comunidades indígenas em gestão comercial, melhoria de produtos e precificação. "A geração de renda com seus próprios produtos gera autoestima e autonomia desses povos e mostra ao consumidor que é possível viver da floresta mantendo ela em pé", diz Amanda.

A ideia com o marketplace é promover a autonomia dos cerca de 3 mil artesãos que são seus fornecedores. Lideranças dos grupos vão receber aulas sobre como prover esse tipo de venda e terão ajuda de associações locais com infraestrutura, computadores e internet.

Criamos feiras digitais

Democratizar o acesso e fornecimento de produtos naturais regionais é a proposta da startup Onisafra, idealizada por Macauly Souza de Abreu, de 25 anos, morador de Manaus (AM). Ele se juntou a três sócios - entre eles, Daniel Bandeira - e, no ano passado, a plataforma foi inaugurada. Ela atua com rastreabilidade, comercialização e distribuição de alimentos produzidos por agricultores da região.

"Nós criamos feiras digitais online", diz Abreu. Como os agricultores só vão ao centro para a feira uma vez por semana, os consumidores fazem a encomenda online, repassada pela startup aos produtores. "A vantagem é que eles já vêm com uma garantia mínima de produtos vendidos e podem colher e trazer só o que foi encomendado, sem risco de desperdício", afirma.

Os produtos são entregues na casa do consumidor pela equipe da Onisafra, que tem 10 pessoas. Neste ano, a startup transacionou cerca de R$ 100 mil para as dez famílias de pequenos agricultores que fazem parte da plataforma de produtos como açaí, tucumã, goma de tapioca e hortifrútis. A startup recebe 15% sobre a venda.

Para o mercado de São Paulo, a Onisafra criou o Clube Amazônia, em que o interessado faz uma assinatura e todo mês recebe uma "caixa surpresa" com produtos regionais. "Teremos uma página específica para os pedidos, em parceria com a empresa Amazônia Hub, que deve entrar no ar até outubro", diz Bandeira.

Bioeconomia precisa se industrializar

Referência em estudos sobre o aquecimento global no Brasil, o cientista Carlos Nobre, hoje ligado ao Instituto de Estudos Avançados da USP, de uns anos para cá começou a iniciar suas apresentações afirmando que na maior parte de sua carreira ele "foi portador de más notícias sobre a Amazônia". É dele o primeiro estudo que mostrou os riscos de a floresta tropical passar por um processo de savanização em decorrência do aquecimento global e do desmatamento.

"Já fiz muitos alertas, mas não estava resolvendo. Comecei, então, a procurar soluções", diz. Nobre é o idealizador de um projeto chamado Amazônia 4.0, em que ele lança mão de conceitos da chamada Quarta Revolução Industrial para propor saídas para desenvolver economicamente a região e, ao mesmo tempo, proteger a floresta.

Para ele, a bioeconomia, quando se refere à Amazônia, é um conceito que prevê a promoção de sistemas de produção baseados no uso e na conservação de recursos biológicos da floresta em pé. Em entrevista ao Estadão, ele explica como a industrialização pode ajudar nisso. Leia a seguir:

Sua ideia de bioeconomia na Amazônia não é só explorar os recursos naturais, mas levar a industrialização para lá?

A indústria 4.0 no mundo moderno tem, logicamente, um caminho que é o da bioindústria fazendo um produto que chega ao consumidor. Mas esse não é o maior mercado possível, mas sim o chamado ‘business to business’, em que os produtos de uma indústria fluem para outra empresa normalmente maior, mais próxima dos centros consumidores ou centros exportadores, que faz o produto final. Esse potencial tem de ser desenvolvido, porque ele é bem grande.

Como isso pode ser feito?

Estamos desenvolvendo um conceito de Laboratórios Criativos da Amazônia para capacitar população, universidades, estudantes universitários, para criar novas biofábricas. Um dos que desenhamos agora, e estou atrás de recursos para construir, é para desenvolver óleos comestíveis de alta qualidade com produtos da floresta. Lógico que se pode fazer um óleo, colocar uma marca e vender no mercado, mas o maior potencial desse tipo de industrialização é processar o produto da floresta, fazer o óleo e depois ele entrar na cadeia de produção de uma empresa grande, que vai usar aquele óleo em seus produtos. É a bioindustrialização.

Por essa proposta, a bioeconomia não se atém apenas a incentivos ao extrativismo, então?

A ideia é que não seja só para comunidades pequenas, não, mas um modelo para a Amazônia: para as comunidades, para as cidades e também para as cidades grandes. E que seja descentralizado. Tem coisas produzidas em comunidades, em pequenas cidades, mas também em cidades como Manaus e Belém, em várias escalas diferentes. A Tatiana Schor, secretária de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação do Amazonas, está liderando um esforço para criar o que está sendo chamado Zona Franca Verde, que vai exatamente nessa linha. É uma industrialização dos recursos da floresta em pé. Usamos essa definição de bioeconomia exatamente para contrapor a uma ideia mais antiga que tem como foco a expansão da área cultivável da agricultura.

Desde que começou a defender o projeto de bioeconomia na Amazônia, o sr. cita como exemplo o que ocorreu com o açaí. Qual é o pulo do gato?

O açaí hoje já traz mais de US$ 1 bilhão por ano para a economia da Amazônia. São produzidas mais de 250 mil toneladas de polpa de açaí, beneficiando mais de 300 mil pessoas, principalmente no Pará. Já é um fator econômico do tamanho da exploração da madeira, sendo que 80% da madeira é ilegal hoje. O açaí é legal. E beneficia muito mais gente. A madeira, que é em boa parte roubada, beneficia talvez 10 mil, 15 mil madeireiros, quase todos ilegais. Mas a industrialização do açaí na Amazônia é mínima. Hoje se pega o fruto, tira a polpa, liofiliza e exporta. E isso já melhorou muito a vida das pessoas. A ideia é começar a desenvolver uma indústria de processamento do açaí e fazer produtos que atendam a outras indústrias. Isso gera empregos industriais e uma economia mais local muito mais vibrante. Sem empregos industriais, a economia extrativista acaba ficando mais limitada e gera menos bem-estar social.

CNI vê biodiversidade como nova ‘ revolução industrial’

Na busca por retomar o crescimento da economia e fazer isso de um modo a atender às preocupações com o meio ambiente, um caminho defendido por cientistas e ambientalistas, e também visto com bons olhos pela indústria e pelo governo, é investir na bioeconomia. O conceito é amplo e depende de quem está defendendo - mas, em geral, vai de estratégias focadas em aprimorar o extrativismo na Amazônia (mais informações nesta página) a planos para aumentar o potencial de usos de produtos agrícolas, como a cana-de-açúcar.

Na sexta-feira, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) lançou o estudo Bioeconomia e a Indústria Brasileira, em que defendeu que a "biodiversidade pode subsidiar a Quarta Revolução Industrial" no País.

O trabalho defende o desenvolvimento de uma nova indústria que "se apropria de soluções desenvolvidas pela natureza para a produção de combustíveis, commodities químicas e moléculas de alto valor agregado". E aponta que isso poderia ajudar o Brasil a reduzir a dependência externa de insumos e ainda aumentar a conservação da biodiversidade.

"A biodiversidade pode subsidiar a Quarta Revolução Industrial, ao fornecer materiais a serem transformados em fonte de riqueza. Se conseguir se apropriar de forma sustentável dessa biodiversidade, o Brasil pode se reinventar como superpotência tropical da biodiversidade, o que, forçosamente, se dará a partir da conexão entre conhecimento e empreendedorismo, como bases para a inovação", aponta o documento.

"A Quarta Revolução Industrial pode vir a ser uma Revolução da Biodiversidade, na qual o Brasil se fortaleça, valorize e usufrua de sua rica biodiversidade, centrada no desenvolvimento, na capacidade de criação e no empreendedorismo", completa.

Velha economia. Apesar de apontar as possibilidades da biodiversidade, o estudo trabalha com um conceito um pouco mais elástico de geração de renda a partir de recursos biológicos, explica Davi Bomtempo, gerente executivo de Meio Ambiente e Sustentabilidade da CNI. Assim, cadeias já consolidadas, como o setor sucroalcooleiro e de papel e celulose, são os destaques.

Segundo a publicação, da cana-de-açúcar o Brasil tira sete produtos (açúcar, etanol, rum, cachaça, pellets, eletricidade e biogás), mas poderia tirar outros 11: bioplásticos, corantes, ácidos orgânicos, aminoácidos, lubrificantes, fármacos, enzimas, fragrâncias, cosméticos, detergentes e solventes.

O mesmo poderia ocorrer com o setor de base florestal, composto principalmente por plantações de eucalipto e pinus. "Atualmente, o setor gera principalmente celulose, papel, pisos, painéis, carvão vegetal, pellets e eletricidade. Em 2018, foram gerados R$ 86,6 bilhões, equivalentes a 1,3% do PIB e 6,9% do PIB industrial. Entretanto, é possível ampliar a escala e/ou desenvolver outros produtos como lignina, etanol celulósico, bioplásticos, nanofibras, ‘tall oil’ e bio-óleo, além de tornar viável alternativas a materiais metálicos, plásticos, telas de LCD e outros", aponta o documento.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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