Meteorologia

  • 19 ABRIL 2024
Tempo
--º
MIN --º MÁX --º

Edição

Reforma pode aumentar Imposto de Renda de 6,8 milhões de contribuintes, diz FGV

Entenda!

 Reforma pode aumentar Imposto de Renda de 6,8 milhões de contribuintes, diz FGV
Notícias ao Minuto Brasil

07:40 - 30/06/21 por Folhapress

Economia IMPOSTO-RENDA

BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - A limitação de uso da declaração simplificada do IR (Imposto de Renda), presente na proposta do governo para a reforma tributária, tem potencial para aumentar o imposto a ser pago por 6,8 milhões de contribuintes. A conclusão é do Observatório de Política Fiscal do FGV Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas).

Atualmente, qualquer contribuinte pode optar por fazer a declaração simplificada. Nela, não há necessidade de incluir gastos que viabilizam deduções de imposto, porque há um desconto padrão e automático de 20% sobre a renda tributável. O limite atual desse desconto é de R$ 16.754,34.

Pela proposta do governo, a declaração simplificada só será liberada para contribuintes com renda anual de até R$ 40.000, um valor aproximado de três salários mínimos por mês.

O estudo da FGV, produzido pelos economistas Manoel Pires e Fábio Goto, pressupõe que todas as pessoas com renda de até R$ 40.000 já declaram pelo modelo simplificado. Desse modo, usa dados da Receita Federal para estimar que a mudança aumentará o imposto de 6,8 milhões de contribuintes.

Com a alteração, a estimativa é que haverá uma elevação de R$ 103 bilhões na base tributária, o que levaria a um aumento de R$ 11,6 bilhões no imposto devido por essas pessoas.

Como a projeção pode sofrer influência do novo comportamento que será adotado pelos contribuintes na tentativa de reduzir o imposto, além de depender de informações internas do governo, os pesquisadores defendem que a Receita divulgue seus números.

Desde o ano passado, o Ministério da Economia estudava extinguir o mecanismo da declaração simplificada. Na formulação final da proposta, no entanto, o governo optou por manter o modelo para faixas menores de renda.

Membros da pasta argumentam que o modelo simplificado somente fazia sentido quando o mundo não era digitalizado e os contribuintes tinham um trabalho enorme para guardar, reunir e recuperar a papelada que seria apresentada para viabilizar as deduções.

Para um auxiliar do ministro Paulo Guedes (Economia), com a manutenção das deduções médicas e educacionais existentes hoje no modelo de declaração completa, o contribuinte continuará com o direito de abater aqueles gastos que efetivamente foram feitos.

Os pesquisadores da FGV também analisaram o aumento na faixa de isenção do IR de R$ 1.903,98 para R$ 2.500 proposto pelo governo. Segundo eles, a atual faixa isenta de cobranças é de aproximadamente metade do que foi em 1995, considerando a variação da inflação no período.

A tendência desde 1995 foi de redução real da faixa de isenção, o que amplia o número de contribuintes que precisam pagar o imposto. A proposta apresentada agora pelo governo reverte essa trajetória e faz com que o valor real da parcela isenta retorne ao patamar de 2015.

Caso aprovada, a reforma do governo ampliará o número de contribuintes isentos de 10,7 milhões para 16,3 milhões.

Na reforma, o governo também propôs uma redução do Imposto de Renda de empresas de 15% para 10% em dois anos. A alíquota adicional de 10% sobre o lucro que exceder R$ 20.000 foi mantida.

"Ressalta-se que a alíquota nominal do Brasil está entre as mais elevadas do mundo e, portanto, a redução faz sentido dentro de uma estratégia de convergência de padrões tributários. Apesar da redução proposta, o Brasil ainda manterá alíquotas mais elevadas do que a média mundial", afirma o documento.

Pires e Goto afirmam ainda que é necessário ler a proposta do governo de maneira agregada. Segundo eles, o texto desenhado pelo time de Guedes deverá elevar a carga tributária para a maior parte das empresas. Isso porque a isenção sobre dividendos acabará, passando a incidir uma cobrança de 20% sobre sua distribuição a acionistas.

No caso das companhias que optam pelo regime de lucro real, a carga tributária média deve subir de 34% para 43,2%, avaliam os pesquisadores.

Como no projeto do governo a distribuição de dividendos deixará de ser isenta, os pesquisadores afirmam que o novo sistema deve gerar um forte incentivo para a retenção de lucros dentro das empresas.

O texto do governo mantém a isenção apenas para a distribuição de dividendos por micro e pequenas empresas, até o limite de R$ 20.000 por mês. Para os economistas, essas companhias já possuem um sistema tributável favorável. Além disso, afirmam que essa brecha deve gerar incentivo para que haja subdivisão de empresas com o objetivo de aproveitar o limite de isenção.

Além disso, ressaltam que estabelecer uma faixa de isenção para pequenas empresas obrigou o governo a aumentar a alíquota do tributo para o restante das companhias.

"A alíquota de 20% parece elevada para uma redução de apenas 5% do IRPJ e pode atenuar o impacto positivo da medida", afirmam.

Para as empresas no sistema de lucro presumido, os economistas afirmam que as mudanças propostas pelo governo devem reverter a baixa tributação existente hoje nesse regime e que é responsável por gerar benefícios fiscais, estimulando o fenômeno da "pejotização" (trabalhador que abre CNPJ para prestar serviço como empresa, normalmente por exigência do empregador).

"As propostas possuem um impacto positivo na distribuição de renda porque desestimulam a pejotização e aumentam a tributação nos segmentos de renda mais elevados. Esse efeito redistributivo da reforma será utilizado para financiar a ampliação do consumo no curto prazo sobre os estratos mais baixos de contribuintes do imposto de renda", diz o estudo.

Campo obrigatório