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Discurso pró-armas e antiaborto faz Trump manter reduto apesar da crise

Caminhando entre lojas e supermercados, homens e mulheres desfilam camisetas com frases a favor da posse de armas e bonés que pedem para "Fazer a América Grande de Novo", slogan da campanha à reeleição de Donald Trump

Discurso pró-armas e antiaborto faz Trump manter reduto apesar da crise
Notícias ao Minuto Brasil

17:45 - 20/09/20 por Folhapress

Mundo EUA

MARTINSBURG, EUA (FOLHAPRESS) - O centro comercial de Martinsburg, na Virgínia Ocidental, é uma espécie de Disneylândia do discurso trumpista, onde não são necessários nem três minutos para achar um eleitor fervoroso do presidente americano.


Caminhando entre lojas e supermercados, homens e mulheres desfilam camisetas com frases a favor da posse de armas e bonés que pedem para "Fazer a América Grande de Novo", slogan da campanha à reeleição de Donald Trump.


Na manhã de segunda-feira (14), Betty Grandel estacionou seu carro com um enorme adesivo em apoio ao presidente e repetiu um discurso que poderia ter sido feito de dentro da Casa Branca.


"Trump não deve ser julgado pela pandemia. Temos lutado contra o coronavírus, temos a melhor economia em anos, emprego e acordos comerciais que economizaram muito dinheiro aos EUA."


Betty diz que sua vida melhorou na gestão Trump, mas sua cruzada por valores conservadores é o que a mantém fiel a ele.

Aos 70 anos, ela defende a manutenção do direito à posse de armas, que está na Constituição americana –e é uma das bandeiras de Trump–, nega que haja racismo sistêmico nos EUA e se diz contrária ao aborto, legalizado em alguns estados, mas não na Virgínia Ocidental.


"Abortar é assassinar. Eu não pensava assim quando era mais jovem, mas agora vejo que estão matando crianças [quando fazem o procedimento]", afirma para, em seguida, acrescentar sua percepção sobre os protestos antirracismo que tomaram o país.


"Foi uma pena que o homem negro morreu", diz Betty, em referência a George Floyd, que foi asfixiado por um policial branco em Minnesota. "Mas essa questão de brancos e negros é voltar a 1960, quando havia segregação racial e era terrível. Hoje as pessoas não ligam para a sua cor. Estão usando isso politicamente para separar as raças. Isso não é racismo, é má política."


De maioria branca e rural –92% do 1,8 milhão de habitantes da Virgínia Ocidental são brancos e 64% vivem em áreas rurais–, o estado reflete a influência que a narrativa conservadora ainda exerce sobre parte importante da base de Trump, mesmo diante da pandemia que já matou mais de 195 mil pessoas e deixou milhões de desempregados.


Em 2016, o republicano venceu em todos os 55 condados de Virgínia Ocidental e derrotou Hillary Clinton no estado por 67,9% a 26,2%. Em novembro, Trump espera repetir a performance, ampliando o número de pessoas que foram às urnas há quatro anos.


No segundo maior condado da região, onde fica Martinsburg, mesmo eleitores que se dizem independentes ou que já votaram em democratas seguem o roteiro a favor das armas e minimizam a responsabilidade de Trump na crise.


"Ninguém nunca satisfaz a todos. Qualquer coisa que Trump fizesse [em relação à pandemia], iria ser xingado", diz Tom Byers.


Membro da NRA (Associação Nacional do Rifle), mais poderoso grupo de lobby pró-armas nos EUA, o aposentado de 65 anos se classifica como um eleitor independente que escolhe "pessoas, e não partidos" no dia da votação. Mas alguém que defende ferozmente o direito a armas, explica, vai ter sempre sua confiança.


A poucos quilômetros dali, no subúrbio, o democrata Jim Mullen preparava cachorro-quente em sua churrasqueira enquanto tentava fazer o diagnóstico sobre o voto de pessoas como Byers.


"A Virgínia Ocidental é socialmente conservadora. Trump aposta na raiva das pessoas, no discurso anti-aborto e a favor das armas, dos valores da família e no racismo para conquistá-las", diz.


Para Mullen, o fato de o coronavírus não ter atingido o estado de forma grave –foram 12,8 mil casos e 275 mortes até agora– é um elemento importante para o negacionismo trumpista na região.


A Virgínia Ocidental não elege um democrata àpara a Casa Branca desde 1996, mas Mullen reclama da ausência de Joe Biden no estado.


"Biden sabe que não tem chances aqui, mas políticos só pensam no hoje, não no amanhã. As coisas poderiam mudar devagar."


No passado, a Virgínia Ocidental tinha prestígio entre democratas, principalmente por sua tradição sindicalista –o sul do estado era forte produtor de carvão, atividade que entrou em decadência, mudando o cenário.

Pesquisa da WPA Intelligence mostra que Trump lidera na Virgínia Ocidental com cerca de 66% ante 31% de Biden. Nacionalmente, o democrata está na frente –50,5% a 43,5%, de acordo com o site Five Thirty Eight.


O entregador Dave, 38, não quis dar o sobrenome, mas celebra os números e resume por que a Virgínia Ocidental deve reeleger o presidente com ampla vantagem.


Para ele, os americanos vão perceber que as três principais crises que assolam os EUA hoje –pandemia, recessão econômica e questão racial– não são tão graves e que o racismo só voltou à pauta com a eleição de Barack Obama, primeiro presidente negro do país.


Dave afirma que, ao demonstrar empatia com o assassinato de Trayvon Martin, um jovem negro morto por um segurança em 2012, Obama "usou a carta racial e começou tudo isso". Na ocasião, Obama disse que Martin poderia ser ele e, meses depois, ativistas fundaram o movimento Black Lives Matter, que hoje lidera a maior parte dos atos contra o racismo no país.


"Quando se é presidente dos EUA, não tem raça, não tem nacionalidade, não tem gênero. Trump só vê uma cor, que é verde. Todo mundo sabe disso", afirma Dave, em referência às cédulas da moeda americana. "Ele não é político, é um homem de negócios que não precisa encher o bolso."


A Virgínia Ocidental tem só 5 dos 270 votos necessários no Colégio Eleitoral para vencer em novembro, mas reflete o discurso que mobiliza redutos conservadores no país. Em uma eleição disputada, a ampliação da base fiel de Trump será fundamental para que o republicano permaneça na Casa Branca.

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