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100 dias do segundo Governo de Tsipras com novo plano de resgate

Os primeiros 100 dias do segundo governo Syriza na Grécia revelaram as contradições entre a aplicação das novas medidas de austeridade exigidas pelos credores em troca do terceiro resgate financeiro e o programa "anti-austeridade" do partido de esquerda.

100 dias do segundo Governo de Tsipras com novo plano de resgate
Notícias ao Minuto Brasil

09:18 - 25/12/15 por Notícias ao Minuto Brasil

Mundo Grécia

O atual governo grego saiu de eleições antecipadas realizadas em 20 de setembro, um mês após o primeiro-ministro, Alexis Tsipras, ter anunciado a demissão, para tentar recuperar uma maioria parlamentar que perdeu após a deserção da ala esquerda durante a discussão e votação, entre julho e agosto, do terceiro plano de resgate de cinco anos.

O acordo de princípio deste memorando foi assinado em 13 de julho para evitar a saída da Grécia da zona euro e Tsipras, também líder do Syriza, comprometeu-se a aplicá-lo, apesar de reivindicar alguma margem de manobra para "suavizar" os custos sociais. O plano está avaliado em 86 bilhões de euros que devem ser entregues em parcelas ao longo de três anos, em troca da aprovação de novas reformas e medidas de austeridade.

No escrutínio de setembro, o partido de Tsipras, que já tinha ganho eleições em janeiro, garantiu de novo uma vantagem confortável (35,5% dos votos, contra 36,3% em janeiro) repetindo uma maioria relativa e optando por se aliar de novo à direita soberanista dos Gregos Independentes (Anel) para formar um governo de coligação. Mas a nova vitória eleitoral não foi celebrada nas ruas como tinha sucedido em 20 de janeiro. A Grécia tinha mudado.

O novo executivo, empossado a 21 de setembro, contou de início com o apoio dos 145 deputados eleitos pelo Syriza (em 300 lugares) e dos dez garantidos pelo Anel, que conseguiu no limite ultrapassar a barreira dos três por cento que permite representação parlamentar (3,69%). Uma maioria que dispõe agora de 153 votos "seguros" no parlamento.

Com quatro membros do Anel, incluindo o seu líder Panos Kamenos reconduzido como ministro da Defesa, o novo governo de Tsipras, o único primeiro-ministro da área da esquerda radical na União Europeia (UE), pouco diferiu do precedente nos postos chaves, em particular na pasta das Finanças, de novo entregue a Euclid Tsakalotos.

Na perspetiva dos dirigentes gregos, a prioridade deste executivo que completa 100 dias consiste em terminar com as obrigações do acordo "já cumprido em 60%" e recuperar as finanças e a economia do país, confrontadas com seis anos de crise, recessão e duras negociações com os credores entre janeiro e julho, quando a Grécia foi forçada a ceder.

Como contrapartida para a "derrota" de julho, Tsipras esperava iniciar em novembro as negociações destinadas a reduzir a dívida pública do país, que atinge mais de 170% do PIB, o que ainda não sucedeu.

Mas o grande desafio está em saber se as medidas inseridas no terceiro resgate (após os anunciados em 2010 e 2012) vão resultar, e se a Grécia garante a retoma econômica.

Os primeiros resultados não foram animadores, talvez pela aparente contradição nas opções programáticas.

O primeiro-ministro grego disse que a sua principal aposta é acabar com a "lógica neoliberal" de obter o crescimento através da destruição dos direitos sociais, mas dispôs-se a aplicar as reformas do terceiro resgate e que já originaram a convocação de duas greves gerais, com adesões irregulares, pelas centrais sindicais dos setores público e privado e pela central do Partido Comunista.

A insistência num "programa paralelo" de medidas para 2016 que acompanhe as negociações com os credores é outros dos planos do Syriza, que também fez aprovar nova grelha salarial para a Função Pública.

Ainda em dezembro, e também por pressão dos credores, a Grécia assinou a cedência de 14 aeroportos regionais ao operador alemão Fraport, associado a um empresário helénico, por 1,2 mil milhões de euros, no que constituiu a primeira importante privatização do Governo de esquerda.

Na perspetiva de Bruxelas o avanço das privatizações, incluindo de novas estruturas portuárias, e novas medidas de austeridade são condições necessárias para a avaliação positiva do programa de resgate até ao final de janeiro, e a garantia do envio de novas parcelas do empréstimo.

A Comissão Europeia já veio referir que a Grécia aplicou todas as reformas exigidas para obter uma parcela de bilhões de euros, decidida pelo Mecanismo Europeu de Estabilidade (MES). E em paralelo, Atenas também terá cedido à pretensão dos credores em voltar a incluir o FMI neste novo plano de resgate.

Neste período, a Grécia também permaneceu confrontada com o fluxo de refugiados, sobretudo provenientes das zonas de conflito no Médio Oriente e Ásia. A larga maioria dos refugiados e migrantes, mais de 821.000, passou pela Grécia, com 816.000 a chegarem por mar.

Atenas e Bruxelas voltaram a divergir sobre a forma como o país estava a enfrentar esta crise, através de reparos mútuos. Mas este diferendo parece ultrapassado, ao contrário da crise econômica e social que não dá sinais de cedência.

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