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Após greve de fome, Navalny surge debilitado em julgamento

O opositor russo voltou ao tribunal por novas acusações. Por videochamada a partir da prisão, Navalny negou ter difamado um veterano de guerra

Após greve de fome, Navalny surge debilitado em julgamento
Notícias ao Minuto Brasil

09:21 - 29/04/21 por Folhapress

Mundo Rússia

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Alexei Navalni, 44, principal opositor do presidente Vladimir Putin, voltou a fazer denúncias contra o sistema judiciário da Rússia nesta quinta-feira (29), durante sua primeira aparição em vídeo desde que encerrou uma greve de fome, na semana passada, após 24 dias.
O ativista, cujas declarações e rede de apoiadores vêm gerando dores de cabeça ao Kremlin, perdeu 22 kg nesse período, segundo um de seus advogados. "Ontem me levaram ao banheiro.Tinha um espelho, me olhei: sou um esqueleto horrível", disse Navalni em uma gravação de áudio obtida pela emissora Dojd.
Nesta quinta, ele participou em vídeo de uma audiência no caso em que é acusado de difamar um veterano russo da Segunda Guerra Mundial. Visivelmente mais magro, com a cabeça raspada e parecendo exausto, Navalni manteve o tom desafiador e exigiu que os promotores que o acusam sejam levados à Justiça criminal.
Imagens de Alexei Navalni exibidas em telas durante audiência em um tribunal de Moscou, na Rússia Tribunal Distrital de Babushkinski/Divulgação - 29.abr.21/Reuters ** Ele está preso desde janeiro, acusado formalmente de violar os termos de sua liberdade condicional ao sair do país, ainda que a saída tenha ocorrido sob uma justificativa médica –ele estava em coma.
Em fevereiro, no entanto, Navalni foi considerado culpado de difamar um militar russo que combateu na Segunda Guerra e que participou de um vídeo em apoio às reformas constitucionais no ano passado –um referendo autorizou a mudança que deu a Putin o direito de concorrer a mais dois mandatos no Kremlin e permanecer no poder até 2036.
Navalni descrevera as pessoas que aparecem no material promocional como traidores e lacaios corruptos, mas se defendeu dizendo que os comentários não foram dirigidos especificamente contra o veterano –na Rússia, é crime ofender aqueles que são considerados heróis de guerra.
A pressão crescente sobre Navalni, além de ter levado à sua prisão, também se traduziu em centenas de detenções a pessoas que participaram de manifestações contra o governo de Putin e operações policiais nas sedes das organizações ligadas a ele e até nas casas de seus colaboradores, o que a oposição denuncia como uma perseguição judicial com o objetivo de silenciá-la.
Nesta quinta, Leonid Volkov, um dos principais aliados de Navalni, publicou um vídeo no YouTube em que anuncia a suspensão das atividades de escritórios regionais da Fundação Anticorrupção (FBK, na sigla em russo), fundada pelo opositor.
"Estamos oficialmente dissolvendo a rede Alexei Navalni", disse Volkov, indicando, no entanto, que alguns escritórios de outros grupos ligados ao adversário do Kremlin manterão suas atividades de forma independente.
A dissolução das organizações obedece a uma decisão da Justiça que, na segunda-feira (26), determinou a suspensão com base em um processo em que os promotores pedem o banimento definitivo dos grupos, sob acusação de extremismo. O Judiciário russo é nominalmente independente, mas as decisões frequentemente estão alinhadas aos interesses do Kremlin.
O termo "extremismo" tem uma definição muito ampla na lei russa e permite às autoridades lutar contra organizações de oposição, facções racistas ou terroristas, como o Estado Islâmico, bem como grupos religiosos como as Testemunhas de Jeová.
O fim da FBK e de outros grupos ligados a Navalni ainda não é certo, já que a Justiça, em tese, ainda está analisando o caso para uma decisão definitiva. Se condenadas, as organizações ficarão proibidas de participar das eleições, organizar protestos ou publicar qualquer conteúdo na internet. Além disso, as autoridades terão poder legal para prender seus colaboradores e congelar suas contas bancárias.
"Manter o trabalho da rede de Navalni em sua forma atual é impossível: isso imediatamente levaria a sentenças criminais para aqueles que trabalham na sede, que colaboram com eles e para aqueles que os ajudam", disse Volkov.
Ainda segundo seus aliados, Navalni também é alvo de um novo processo criminal, segundo o qual ele teria criado uma organização sem fins lucrativos que infringe direitos de cidadãos russos.
A FBK é conhecida por apontar casos de corrupção da elite política russa. Uma das produções da organização acusa Putin de possuir um luxuoso palácio às margens do Mar Negro. O vídeo publicado em janeiro de 2020 teve mais de 11 milhões de visualizações no YouTube e forçou Putin a negar a acusação.
Blogueiro e advogado, Navalni surgiu na cena pública nos protestos contra Putin em 2012. No ano seguinte, candidatou-se a prefeito de Moscou e conquistou 27% dos votos. Mas foi em 2017 que ele apareceu para o mundo, ao comandar via internet a convocação de uma jornada de protestos que uniu milhares nas ruas. Devido a acusações judiciais, foi impedido de concorrer contra Putin em 2018.
Passou então a uma outra tática: fomentar qualquer candidatura em nível regional contrária ao Rússia Unida, o partido governista. Ele logrou sucessos simbólicos nos pleitos locais de 2019 e 2020, e sua volta à Rússia era vista como uma preparação para o embate das eleições parlamentares de setembro. Agora, com ele preso, há a expectativa de que sua esposa, Iulia Navalnaia, ganhe destaque na oposição a Putin.
Navalni foi envenenado em agosto de 2020 e acusou diretamente Putin pela tentativa de assassinato. Ele foi tratado em Berlim, onde os médicos afirmaram ter encontrado em seu corpo traços de Novitchok, famoso veneno utilizado pelos serviços secretos russos.
Depois, Navalni divulgou a gravação de um trote que deu em um dos agentes do FSB (Serviço Federal de Segurança, sucessor da KGB) apontados como autores do ataque -nele, o espião acredita falar com um superior e admite ter colocado veneno na cueca do ativista no quarto de um hotel. O Kremlin nega qualquer envolvimento, e Putin ironizou que, se a Rússia quisesse matar Navalni, o teria feito.
O opositor foi preso em janeiro, ao voltar à Rússia depois de receber tratamento na Alemanha contra o envenenamento. O ativista é acusado formalmente de violar os termos de sua liberdade condicional ao sair do país, ainda que a saída tenha ocorrido sob uma justificativa médica -ele estava em coma.
Navalni teve uma sentença de prisão por fraude comutada em 2014, em uma ação que classifica como perseguição judicial. A Justiça russa confirmou no mês passado a sentença do ativista anticorrupção. No total, foi condenado a três anos e meio de prisão, dos quais já cumpriu dez meses em regime domiciliar.Notícias ao Minuto
Alexei Navalny em tribunal, esta quarta-feira. © Reuters

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