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Crise do governo expõe fraturas internas do peronismo na Argentina

A crescente insatisfação popular foi escancarada nas prévias de domingo, quando a frente governista foi derrotada nas primárias para o pleito legislativo de 14 de novembro, ficando com cerca de 30% dos votos

Crise do governo expõe fraturas internas do peronismo na Argentina
Notícias ao Minuto Brasil

08:35 - 17/09/21 por Folhapress

Mundo ARGENTINA-GOVERNO

BELO HORIZONTE, MG, E GUARULHOS, SP (FOLHAPRESS) - Um dia depois de receber pedidos de renúncia de cinco ministros, o presidente argentino, Alberto Fernández, tenta juntar as peças de seu governo em meio a uma crise doméstica que expôs não apenas a insatisfação popular, como também as fraturas internas da aliança de peronistas e kirchneristas que possibilitou sua eleição para a Casa Rosada.

Fernández não aceitou os pedidos de demissão e tenta apaziguar as relações com sua vice, a ex-presidente Cristina Kirchner, que vem exigindo reformas ministeriais e pressionando pela substituição de figuras do alto escalão do governo, como o chefe da pasta de Economia, Martín Guzmán.

A reviravolta política teve início em Buenos Aires após os resultados das primárias legislativas de domingo (12), que trouxeram uma derrota para a coalizão governista Frente de Todos. Uma espécie de funil que decide quais candidatos terão o direito de concorrer às eleições de novembro, as primárias têm participação obrigatória e servem de termômetro para a avaliação do governo.

A crise ganhou novos elementos ao longo desta quinta (16). Mais cedo, o jornal argentino Clarín teve acesso a um áudio da deputada Fernanda Vallejos, aliada de Cristina, no qual a parlamentar se refere a Fernandéz como "doente", "usurpador", "cego" e "surdo". Ela segue argumentando que o presidente está "entrincheirado" na Casa Rosada após o fracasso do governo e que o peronista só está ali graças à aliança que costurou com o kirchnerismo.

No Twitter, Fernandéz pregou moderação. "Nós temos de dar respostas honrando o compromisso assumido em dezembro de 2019 [quando assumiu a presidência]. Não é a hora de semear disputas que nos desviem desse caminho", escreveu.

E seguiu: "A arrogância e a prepotência não me abalam. A gestão do governo continuará da maneira que eu considerar conveniente. Para isso que eu fui eleito."

No início da noite desta quinta, Cristina publicou uma carta na qual pede que Fernandéz honre a decisão que ela fez ao propor que o peronista liderasse a aliança na corrida eleitoral. "Peço não apenas que honre essa decisão, mas, acima de tudo, que honre a vontade do povo argentino."

Além da disputa de poder -CFK, como é conhecida Cristina, e Fernandéz não tinham relação amigável antes da eleição-, outro ponto central do embate entre peronistas e kirchneristas é a política econômica adotada pelo atual ministro da Economia, Martín Guzmán.

No que tange a negociação da dívida argentina com o FMI (Fundo Monetário Internacional), por exemplo, Guzmán defende ajustes fiscais para cumprir a obrigação com o fundo internacional, e a ala kirchnerista alega que o país não tem recursos para bancar a dívida.

Numa tentativa de apoio ao presidente, movimentos sociais foram às ruas de Buenos Aires nesta quinta. Fernandéz, de acordo com informações da mídia argentina, pediu a suspensão das manifestações, temendo que os protestos pudessem causar ainda mais divergências com nomes fiéis ao kirchnerismo.

Movimentos sociais mais à esquerda fizeram protestos pedindo maiores subsídios para refeitórios e alimentação, além de enfatizarem suas rejeições contra um eventual acordo com o FMI. Um dos grupos que organizaram as manifestações contrárias ao presidente foi Movimento Sem Trabalho (MST), que apoia a Frente de Izquierda, coalizão que ficou em terceiro lugar nas prévias argentinas.

De acordo com a imprensa argentina, Fernández está "indignado" com a vice-presidente e teria dito a nomes próximos que "por meio de pressão, não vão me obrigar a nada".

A Argentina está em recessão desde 2018, quando ainda era governada pelo político de centro-direita Mauricio Macri. Eleito em 2019, Alberto Fernández não conseguiu colocar a economia do país nos trilhos. A inflação está em 50% ao ano, e a gestão da pandemia é contestada -o país tem, hoje, 114 mil mortes e cerca de 40% da população totalmente imunizada.

Em agosto, o presidente foi indiciado devido à realização de uma festa de aniversário para a primeira-dama, Fabiola Yáñez, em julho, quando as restrições para conter o avanço do coronavírus estavam em sua fase mais dura no país.

A crescente insatisfação popular foi escancarada nas prévias de domingo, quando a frente governista foi derrotada nas primárias para o pleito legislativo de 14 de novembro, ficando com cerca de 30% dos votos. Em primeiro lugar ficou a principal força de oposição, a coalizão de centro-direita Juntos, liderada por Macri, que alcançou 40,02%.

"Fizemos algo errado e precisamos entender o que foi", disse Fernández na segunda. "O rumo tomado em 2019 [quando ele assumiu a Presidência] não vai ser alterado. Existem razões pelas quais as pessoas não nos acompanharam nessa votação, e nós agora vamos escutá-las melhor."

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