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Líbano interrompe investigações sobre megaexplosão em porto após pressão política

A investigação trabalha com a hipótese de que os deputados sabiam dos riscos de explosão, mas nada fizeram para impedi-la

Líbano interrompe investigações sobre megaexplosão em porto após pressão política
Notícias ao Minuto Brasil

07:45 - 13/10/21 por Folhapress

Mundo Beirute

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - As investigações sobre a megaexplosão ocorrida em agosto de 2020 no porto de Beirute, no Líbano, foram interrompidas nesta terça (10) -pela segunda vez em três semanas- em meio à pressão de políticos sobre o juiz encarregado do caso.

Tariq Bitar havia emitido um mandado de prisão contra um parlamentar, o ex-ministro das Finanças Ali Hasan Khalil, que não havia respondido à convocação para um interrogatório. O mesmo procedimento havia sido usado contra o também ex-ministro Youssef Finianos no final de setembro.

Nas duas ocasiões, políticos apresentaram queixas sobre a conduta do magistrado à corte de apelações, forçando a interrupção das investigações até uma manifestação do Judiciário. No mês passado, o tribunal rejeitou os pedidos para a substituição de Bitar, com base em questões processuais, o que permitiu a retomada dos trabalhos na semana passada.

Khalil e Finianos -assim como Ghazi Zaayter, que deveria depor nesta quarta e também assinou a petição desta semana- são ligados ao movimento xiita Amal, aliado do Hizbullah.

Um líder do grupo, Sayyed Hassan Nasrallah, fez várias críticas públicas ao juiz nesta segunda (11). Em pronunciamento na TV, ele o acusou de politizar o inquérito com parcialidade e de comandar uma campanha de difamação.

O juiz havia chamado os políticos para depor para tentar aproveitar o recesso legislativo, durante o qual a imunidade parlamentar é suspensa, segundo a agência de notícias AFP. O período termina em 19 de outubro.

A investigação trabalha com a hipótese de que os deputados sabiam dos riscos de explosão do nitrato de amônio armazenado do porto, mas nada fizeram para impedi-la. O episódio deixou mais de 200 mortos, 6.000 feridos e destruiu bairros inteiros da capital libanesa. Depois, o país mergulhou em uma espiral de protestos da população e uma profunda crise política e econômica.

Em julho, Bitar chegou a convocar para depor várias autoridades, incluindo o ex-primeiro-ministro Hassan Diab. Políticos ignoraram os chamados, e os mandados de prisão emitidos tampouco têm sido cumpridos.

O juiz é o segundo responsável por tocar as investigações. Ele substituiu Fadi Sawan, afastado do caso em fevereiro com base no mesmo processo que o juiz enfrenta hoje: acusações de falta de parcialidade por políticos que se tornam alvo do inquérito.

De acordo com a Reuters, um representante do Hizbullah chegou a ameaçar Bitar há algumas semanas, dizendo que ele também seria removido do caso.

"Pela primeira vez o sistema judicial do Líbano quer funcionar, mas tem sofrido com a pressão política e seguidas intervenções", disse à agência de notícias o professor de direito Paul Morcos.

À tarde, em entrevista a uma TV local, o ex-ministro Khalil chamou o mandado de prisão contra ele de ilegal e criticou a condução do caso. "Todas as opções para uma escalada política estão em aberto", disse, referindo-se a uma reunião agendada para esta quarta para debater o assunto.

O Líbano rechaça a possibilidade de realização de uma investigação internacional sobre a explosão, enquanto famílias das vítimas e organizações humanitárias acusam o governo de prejudicar a apuração local.

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