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Otan anuncia reforço militar contra a Rússia no Leste Europeu

O Kremlin disse que o Ocidente está histérico e agravando a situação

Otan anuncia reforço militar contra a Rússia no Leste Europeu
Notícias ao Minuto Brasil

22:48 - 24/01/22 por Folhapress

Mundo Tensão

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Em uma ação mais simbólica do que efetiva do ponto de vista militar, a Otan (aliança militar ocidental) anunciou o reforço das defesas do Leste Europeu contra o que considera ameaça iminente de invasão da Ucrânia pela Rússia.

Em um comunicado nesta segunda (24), o secretário-geral do clube de 30 países, o norueguês Jens Stoltenberg, listou as medidas e disse que "nós sempre vamos responder a qualquer deterioração no nosso ambiente de segurança".

O Kremlin respondeu dizendo que o Ocidente está histérico e agravando a situação. "Acerca de ações específicas, vemos o reforço no flanco oriental. Tudo isso leva ao fato de que as tensões estão crescendo", disse o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov.

A Dinamarca enviou uma fragata para o mar Báltico e quatro caças F-16 à Lituânia, para reforçar as patrulhas multinacionais sobre as três ex-repúblicas soviéticas da região -uma ação que começou após a Rússia anexar a Crimeia em 2014.

Já a Espanha mandará um número não revelado de navios para o Mediterrâneo e caças para a Bulgária. A Holanda enviará dois caças avançados F-35 para a Bulgária e colocou uma base naval em prontidão.

Além disso, a França disse que está pronta para posicionar tropas na Romênia e os EUA "deixaram claro que consideram aumentar sua presença na porção oriental da aliança".

Batendo e coando, não dá nem meio copo de poderio militar antes ao posicionamento maciço de 100 mil homens, equipamentos e linhas de suprimento estabelecidas em torno das fronteiras do leste ucraniano por Vladimir Putin, mobilização que começou em novembro, após ter sido testada numa breve crise em abril de 2021.

Mas é uma resposta política à crescente divisão da Otan, aliança criada em 1949 para conter a expansão soviética na Europa. Até então, o envio de reforços era previsto apenas em caso de ação militar russa contra os ucranianos. Com o acirramento da crise, o racha interno ficou evidente.

A Alemanha, não por acaso a principal cliente do gás natural russo na Europa, ficou sob fogo por insistir em saídas diplomáticas para a crise e com falas ambíguas de oficiais, assim como a França. O presidente americano, Joe Biden, piorou tudo na semana passada ao dizer publicamente que havia dúvidas entre membros da Otan se uma "incursão menor" deveria ter uma resposta proporcional.

A Casa Branca tentou consertar depois, mas Biden ao fim retratava a realidade. Com a excisão da Crimeia e o domínio de dois pedaços do leste ucraniano por rebeldes pró-Rússia desde a guerra civil de 2014, ora congelada, o desejo de Kiev de ser parte das estruturas ocidentais esbarra em vetos previstos em regras sobre conflitos dos membros da Otan e da União Europeia.

Além de decidir acerca de tropas, houve uma sinalização importante: um grupo de ataque liderado pelo porta-aviões liderado pelo USS Harry S. Truman se colocou sob comando da Otan no Mediterrâneo, a primeira vez que isso ocorre desde a Guerra Fria. No mesmo mar, os russos preparam um grande exercício naval com 140 navios e 10 mil homens.

A impotência europeia também ficou evidente quando Putin decidiu negociar diretamente com os EUA, em duas conversas virtuais com Biden e com uma série de encontros entre delegações dos dois países -que sempre antecedem reuniões ampliadas com a Otan.

Seja como for, nesta segunda haverá uma reunião entre União Europeia e EUA para tentar coordenar melhor os esforços na crise.

Nesta semana, os americanos irão responder por escrito às demandas russas para recriar uma zona tampão entre suas forças e as da Otan. Os pedidos centrais são impraticáveis: retirada de países que entraram na Otan depois de 1997, ou seja, todo o bloco ex-comunista, e a promessa de que Ucrânia, Geórgia e outros nunca sejam parte da aliança.

Por outro lado, há pontos negociáveis, sobre monitoramento de exercícios militares e controle de mísseis de alcance intermediário.

"Há a possibilidade de que haja uma garantia informal de que a Ucrânia ficará onde está e ainda abrirá negociação final sobre o status das áreas rebeldes ocorra", disse por mensagem o analista político moscovita Konstantin Frolov.

"Isso não ocorreu, mas creio que vá ocorrer. Não haverá guerra", escreveu em redes sociais o ex-consultor de Putin Serguei Markov. Na quarta (26), deverá haver uma reunião de diplomatas russos, franceses, alemães e ucranianos para discutir soluções, o que sugere espaço para negociação.

Enquanto isso, a tensão só faz crescer e os membros mais expostos à Rússia da Otan, como os países do Báltico, reafirmam pedidos de apoio. "Precisamos de contramedidas apropriadas" para fazer frente à escalada russa e belarussa, disse o chanceler letão, Edgars Rinkevics, no Twitter.

A ditadura da Belarus está fazendo manobras militares com forças russas junto ao norte ucraniano, aumentando os temores de um ataque combinado.

Nesta segunda, o Reino Unido seguiu os EUA e pediu que familiares de diplomatas e funcionários da embaixada em Kiev deixem o país, dado o risco de confronto com a Rússia. Washington também aconselhou que todos seus cidadãos se preparem para sair.

Após tomar a liderança entre europeus na crise, acusando Moscou de planejar um golpe em Kiev, Londres baixou o tom nesta segunda. O governo diz que não prevê apoio militar com tropas à Ucrânia em caso de guerra. Por outro lado, o premiê Boris Johnson, sob pressão interna pelo escândalo das festas sob a pandemia, disse que há 60 batalhões russos prontos para "tomar Kiev numa guerra-relâmpago".

Putin, por sua vez, está em um momento de estabilização de seus arranjos regionais de poder. Depois de ajudar o autocrata do Cazaquistão a vencer uma rebelião no começo do ano, com o envio de tropas da aliança militar que comanda, o russo agora patrocina uma mudança na Armênia.

Antiga aliada, sede de uma enorme base militar do Kremlin, a nação do Cáucaso está sob pressão desde que perdeu uma guerra fronteiriça para o Azerbaijão em 2020. Seu presidente agora renunciou, abrindo espaço para que premiê Nikol Pashinyan, seu rival, concentre poder.

Pashinyan era odiado em Moscou, por ter acedido ao governo em meio a uma revolta que havia derrubado o governo anterior, pró-Rússia. Muitos armênios consideram até hoje que os russos não se envolveram em nada além da pacificação com os azeris como retaliação, mas o fato é que o premiê voltou a alinhar-se ao Kremlin.

"Ele fez o que Putin pediu na crise do Cazaquistão, apoiando com tropas a iniciativa russa", escreveu Markov. "Aparentemente, agora irá colher os frutos", afirmou.

Mesmo em uma frente distante, a esquecida guerra civil da Síria, a Rússia resolveu dar uma rara demonstração de força, fazendo um exercício militar aéreo inédito com a ditadura de Bashar al-Assad, que foi salva por Putin com a intervenção de 2015.

Nesta segunda (24), bombardeiros táticos Su-34 e caças Su-35 russos foram escoltados por caças MiG-29 e MiG-23 sírios ao longo da fronteira com as colinas de Golan, ocupadas por Israel, durante ataques a alvos em solo.

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