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Políticas de Trump ameaçam agravar desigualdade nos EUA

Pesquisas mostram que problema tem aumentado no país nos últimos anos

Políticas de Trump ameaçam agravar desigualdade nos EUA
Notícias ao Minuto Brasil

08:12 - 07/04/19 por Folhapress

Mundo Governo

DANIELLE BRANT - NOVA YORK, EUA (FOLHAPRESS) - Dados mais recentes sobre a desigualdade de renda nos EUA apontam que o problema está aumentando -e, para alguns especialistas, medidas adotadas pelo presidente Donald Trump podem agravar a situação.

As pesquisas que apontam para o aumento do fosso entre o 1% mais rico e os 99% mais pobres se avolumam na academia e nas revistas especializadas e ganharam mais destaque depois que o francês Thomas Piketty expôs o crescimento da desigualdade em países desenvolvidos no livro "O Capital no Século 21" (editora Intrínseca, 672 páginas, R$ 47,90 ou R$ 33,53 o ebook), publicado originalmente em 2013.

Nos EUA, as famílias do topo tinham, em média, uma renda que era de 26,3 vezes a dos demais 99% mortais em 2015, segundo os últimos dados compilados pelo centro de estudos apartidário EPI. Em números: a renda anual média do 1% era de US$ 1.316.985 e a do resto era de US$ 50.107 –em alguns estados, a diferença era ainda maior.

O fenômeno também já era apontado pelo coeficiente de Gini, métrica que calcula a desigualdade nos países e que vai de 0 (igualdade absoluta) a 1 (mais desigual). Para as famílias americanas, o índice foi de 0.48 em 2017, estável desde 2011, mas alta na comparação com o 0.43 de 1990.

Nos EUA, a tendência de alta vem desde os anos 1970. A parcela da renda total do país detida pelo 1% mais rico diminuiu de cerca de 24% em 1928 para 9% em 1978, quando voltou a crescer. Em 2015, havia retornado para 22%.

A piora é em parte atribuída aos efeitos da crise financeira de 2008, mas algumas políticas de Trump também podem contribuir para aumentar o problema no futuro.

Uma de suas principais bandeiras, o corte de impostos, ajudou a injetar dinheiro no país, mas vai beneficiar sobretudo os mais ricos, afirma um estudo do Tax Policy Center.

A medida foi aprovada em 2017. O levantamento indica que, uma década depois, 82,8% dos cortes de impostos vão aliviar o topo. Isso porque, para os indivíduos, as reduções expiram ao longo dos dez anos. Para as corporações, serão permanentes.

Camille Busette, diretora do centro de estudos Brookings, diz que o corte de impostos favorece quem tem dinheiro ou recebe tratamento tributário preferencial por ter ativos como imóveis ou ações.

Ela avalia que o propósito da reforma tributária foi dar alívio fiscal a empresas e aos mais ricos. "O pacote ocorre no contexto de uma desigualdade já grande e só exacerba isso", afirma.

Em seu estudo, o EPI também diz que o presidente teria se alinhado a interesses empresariais ao permitir que as companhias forcem trabalhadores a assinar acordos de arbitragem que impedem que eles recorram à Justiça.

Para Daniel Graff, professor de história da Universidade de Notre Dame, o principal fator para o aumento da desigualdade é o enfraquecimento dos sindicatos e do poder de barganha dos trabalhadores.

Em 1979, 34% dos trabalhadores americanos do setor privado pertenciam a sindicatos. Hoje, são 11%.

Ruth Zambrana, professora da universidade de Maryland, concorda com essa visão. "Houve uma erosão dos sindicatos e isso é uma perda para a sociedade, que é individualista e não tem senso de coletividade ", diz.

Ela aponta ainda para fatores raciais históricos para a desigualdade. Essa posição foi reiterada por um estudo de 2018 do centro de estudos Pew, que mostrou que a proporção da renda dos 10% mais ricos em relação à dos 10% mais pobres é maior entre asiáticos e negros do que em brancos –ou seja, o fosso é menor entre os brancos.

"Nos EUA, os brancos conquistaram a riqueza às custas dos outros. Mexicano-americanos, afro-americanos e nativo-americanos são três grupos que representam uma parcela grande da população e que, no passado, tiveram dificuldade ou foram impedidos de ter terra ou de ir à escola", critica Zambrana.

Para o EPI, a situação só vai melhorar quando o governo devolver o poder de barganha para trabalhadores e investir em saúde, educação e moradia. "Essas políticas ajudariam a impedir que os poucos mais ricos se apropriassem de mais do que sua fatia justa na torta do crescimento econômico do país", diz o estudo.

Já Graff sugere uma medida controversa: limitar o ganho do 1% mais rico. "Eu acredito em regulação da economia, em limitar o excesso de renda do topo. Tão importante quanto um salário mínimo é um teto de renda", diz. "Queremos uma discussão sobre excessos, que diga que ninguém vai cair abaixo disso, mas também que ninguém sobe além disso."

Fabian Pfeffer, professor de sociologia e responsável pelo laboratório de Desigualdade da Universidade de Michigan, avalia que a proposta da senadora democrata Elizabeth Warren de taxar os mais ricos poderia ajudar a diminuir a concentração no topo. "É um debate que vai acontecer. O topo tem mais riqueza do que jamais teve", diz ele.

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