Uma obra de 15 metros de altura do muralista Eduardo Kobra, que ficava na Rua Oscar Freire, nos Jardins, na Zona Sul de São Paulo, foi apagada e substituída por uma pintura do coletivo SHN, atendendo ao pedido da loja proprietária da fachada. O mural “Genial é andar de bike” foi pintado na fachada da loja Schutz em 2015 e apagado no último domingo (7). O caso virou polêmica nas redes sociais.

Após um vídeo que mostra o mural sendo apagado viralizar na internet, os fãs de Kobra cobraram um posicionamento do artista.

“Embora eu saiba que a minha obra está sujeita a uma série de imprevistos por estar exposta na rua, embora já tenha perdido 90% dos murais que fiz de formas parecidas, seja grato aos proprietários do prédio, que cederam o espaço para o meu trabalho por um tempo e saiba que eles estão no direito de fazer o que quiser com a própria fachada, fiquei triste, sim”, disse Kobra ao 'G1' nesta sexta-feira (12).

“Tenho muito carinho pelos murais que faço em São Paulo, me dediquei àquele e acho que faltou uma comunicação. Soube pelas redes sociais”, explicou ele.

Sobre a repercussão, Kobra disse ter se surpreendido: “Eu não sabia que as pessoas tinham tanta afinidade por este trabalho e isso mostra que a obra realmente havia sido incorporada ao espaço urbano e que a população está mais ligada à arte de rua", comentou.

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O artista sugeriu que as cidades se esforcem para abrir mais espaço para obras, ao invés de substituí-las. “Gosto de arquitetura e história, e penso que trabalhos que não são feitos em escala industrial, deveriam ser preservados, mesmo na arte de rua. É delicado pensar em como seria viável, eleger o que é bom ou ruim, mas acho que vale uma discussão sobre tudo que é público e pensar que existe uma diferença entre o efêmero e o descartável”, argumentou.

Ele aproveitou para anunciar que quer encontrar um espaço para refazer o mural: "Pretendo encontrar outro espaço para refazer esse mesmo mural em outra área. Quem quiser ceder um espaço, estou à disposição”, pediu Kobra.

De acordo com o artista, após a repercussão, a loja Schutz demonstrou o interesse em custear a produção de um novo painel.

Em nota, o Grupo Arezzo, dono da Schutz, explicou a troca. Segundo a empresa, a Schutz "dedica-se a propagar a arte de rua e apresentar novos artistas temporariamente com diferentes atuações em street art. Em 2015 o artista Kobra estreou com sua arte engrandecendo o projeto; agora o muro recebe a obra do coletivo de arte SHN formado por Eduardo Saretta, Haroldo Paranhos e Marcelo Fazolin”.

O novo mural do coletivo SHN ficou pronto na última na terça-feira (9), após dois dias e meio de trabalho sob chuva.

O artista Eduardo Saretta, que já foi diretor da galeria Choque Cultural e curador no Museu de Arte de São Paulo (Masp), é integrante do coletivo SHN. Para ele, “a arte de rua está exposta a riscos, especialmente na parede de uma loja na Rua Oscar Freire, que é o lugar onde mais giram vitrines no Brasil”.

“Entendo que a obra passa a ser parte da cidade e que as pessoas se acostumam com elas, mas daí, para preservar, ou você precisa pintar em óleo sobre tela ou você se mobiliza para que o espaço seja tombado”, concluiu.