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Cineasta Godard não aparece em Cannes e manda alô pelo celular

Mais importante cineasta vivo não compareceu em pessoa à mostra de cinema, na qual seu novo filme, "Le Livre D'Image", compete pela Palma de Ouro

Cineasta Godard não aparece em Cannes e manda alô pelo celular
Notícias ao Minuto Brasil

12:36 - 12/05/18 por GUILHERME GENESTRETI para Folhapress

Cultura Festival

GUILHERME GENESTRETI - Assim como Bob Dylan no filme "Não Estou Lá", o diretor franco-suíço Jean-Luc Godard também é o homem que não está presente, mas cuja efígie se espalha por todo o Festival de Cannes deste ano. Vem de um longa seu, "O Demônio das Onze Horas" (1965), a imagem que ilustra o pôster desta edição: um beijo entre Jean-Paul Belmondo e Anna Karina. E no mês em que se completam os 50 anos do Maio de 1968, é a sua figura que é invocada quando se fala do grupo de cineastas que boicotaram o festival daquele ano, em apoio aos protestos.

Recluso, o mais importante cineasta vivo não compareceu em pessoa à mostra de cinema, na qual seu novo filme, uma provocação visual chamada "Le Livre D'Image", compete pela Palma de Ouro. Mas surpreendeu os jornalistas ao comparecer à entrevista coletiva de uma forma inusitada -por uma videoconferência via smartphone de um dos produtores. Ali, na telinha, respondeu aos questionamentos dos jornalistas que se enfileiravam para ouvi-lo. 

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"A maioria dos filmes em Cannes fala sobre o que está acontecendo ao redor. O meu é sobre o que não está acontecendo", afirmou Godard, 87. "Alguns diretores acham que o que faz um filme é uma história com começo, meio e fim. Acho que não precisa ser assim nem nessa ordem".

"'Le Livre D'Image"', de fato, sepulta linearidade com uma estrutura toda fragmentada. Comparado ao seu filme anterior, "Adeus à Linguagem", soa como mais radical. Sem atores, a obra compila citações soltas na tela (várias delas narradas pelo próprio cineasta), cenas de filmes que vão de Steven Spielberg a Michael Bay, imagens do Estado Islâmico feitas com o celular, desenhos de Cézanne e Gauguin e sons que saem de diferentes canais...

É difícil resumir o que liga tudo. O filme está mais para uma instalação cinematográfica, uma colagem que perpassa questões como natureza da imagem, linguagem, orientalismo, violência política.As críticas estrangeiras patinaram para resumir o longa no espaço de seus textos.

"Só os mais ingênuos se perguntariam o que tudo aquilo significa", escreveu Jonathan Romney, na revista Screen. Para Eric Kohn, da Indie Wire, "qualquer tentativa de interpretar o novo filme de Godard, em especial depois de ter visto apenas uma vez, não fará justiça à sua abordagem em fluxo de consciência".

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Ainda na competição, o chinês Jia Zhang-ke, apresentou seu novo "Ash Is Purest White", a produção mais cara da carreira desse cineasta que é um dos medalhões dos festivais europeus. Em sua nova obra, a história acompanha o turbulento envolvimento amoroso entre a namorada de um gângster e seu amado no período que vai de 2001 a 2018. Os 17 anos servem não só para que o cineasta faça uma reflexão sobre o que se perde com o tempo como o permite tratar das mudanças sociais em seu país.

Jia é provavelmente o mais conhecido cronista das transformações da China contemporânea. Enquanto Qiao (Zhao Tao) sai da cadeia e vaga em direção ao sul em busca do ex-namorado, Bin (Fan Liao), ela passa por lugares que estão acabando sob o crescimento exponencial do país. Ali, o povo dança ao som de "YMCA", do Village People, rendendo-se à abertura ao Ocidente.

À certa altura, a ex-presidiária cruza com a gigantesca barragem das Três Gargantas, talvez o maior símbolo da voracidade pantagruélica chinesa, já mostrada em "Em Busca da Vida", de Jia. No final, como se verá, até mesmo a velha criminalidade que grassava, não sem certo romantismo, está mudada para sempre. Com informações da Folhapress.

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