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Temor de vexame em SP faz Lula elevar pressão por candidatura Haddad

Haddad se tornou em um dos nomes mais fortes dentro do PT

Temor de vexame em SP faz Lula elevar pressão por candidatura Haddad
Notícias ao Minuto Brasil

14:00 - 12/02/20 por Folhapress

Política Eleições

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva intensificou a pressão para que Fernando Haddad (PT) se candidate à disputa pela Prefeitura de São Paulo em outubro.

Ocupante do cargo de 2013 a 2016, o ex-prefeito já disse não ao líder petista em conversa há poucas semanas, mas interlocutores de ambos acreditam que ele vai reconsiderar.

O motivo: o cenário sombrio que vem sendo pintado por especialistas em pesquisas do partido, a partir de dados de sondagens internas.

Nelas, apenas Haddad aparece como um petista conhecido e viável para chegar ao segundo turno -provavelmente para perder de qualquer nome, em especial o do prefeito Bruno Covas (PSDB).

Nas palavras de um auxiliar de Lula, contudo, a opção do PT é arriscar tornar-se linha auxiliar do PSOL na maior cidade do país, exatamente como ocorreu no Rio de Janeiro.

Hoje, o partido tem sete pré-candidatos que irão disputar uma prévia no dia 15 de março. Entre eles, o ex-deputado Jilmar Tatto é quem mais mobiliza a máquina interna do partido e é considerado favorito, mas não conta com o aval de boa parte da elite petista.

Para o entorno de Lula, Tatto corre o risco de ficar empatado ou atrás de Guilherme Boulos (PSOL), e isso num patamar baixo de votação.

O mesmo ocorreria, por gravidade, com a bancada petista na Câmara Municipal, onde a sigla tem hoje o segundo maior contingente de vereadores: 9 de 55.

O ex-prefeito insiste em não concorrer justamente por concordar com a segunda parte da formulação inicial, a alta chance de derrota.

Teme inviabilizar-se politicamente para uma candidatura em 2022, seja para a Presidência novamente como preposto do inelegível Lula, seja para o governo do estado no improvável caso de o ex-presidente conseguir anular as condenações que sofreu.

Lula não quer pressionar publicamente Haddad, a quem considera soldado leal. Em 2018, o ex-prefeito aceitou se registrar como vice de uma candidatura que seria barrada e depois assumiu o papel de representante de Lula no pleito, obtendo 44,87% dos votos válidos do segundo turno contra Jair Bolsonaro.

De todo modo, o chefe petista já deixou clara sua avaliação sobre a necessidade de um palanque paulistano forte.

Contra essa lógica há o fato de que Haddad foi humilhado em 2016, quando era prefeito e só obteve 16,7% dos votos, perdendo em primeiro turno para João Doria (PSDB).

Nem por isso o PT teve uma posição federal fraca na eleição presidencial seguinte. Já na disputa estadual o partido historicamente nunca chegou perto de eleger o governador.

Para os lulistas envolvidos nas articulações, o temor de Haddad é infundado.

Eles creem que uma candidatura que seja competitiva manterá o ex-prefeito em evidência, enquanto um período renovado de discrição o manterá como o nome ideal de um certo bolsão intelectual paulistano -e só.

A pressão é reforçada pelos pré-candidatos, que, à exceção de Tatto, já indicaram que abandonam a disputa se o ex-prefeito topar concorrer.

E apoiadores de alguns candidatos petistas a prefeituras da Grande São Paulo, como Elói Pietá (Guarulhos) e Emídio de Souza (Osasco), sugerem que o "recall" de Haddad pode espraiar a votação petista pelo entorno da capital.

Há também a questão das alianças. A ex-prefeita Marta Suplicy gostaria de ser vice de Haddad ou de um nome alternativo do PT, como o advogado Marco Aurélio de Carvalho, mas rejeita acordo com os nomes das prévias.

O grupo de Lula diz que a resistência a Marta no partido, devido ao apoio que ela deu ao impeachment da petista Dilma Rousseff em 2016, é superável. Agora resta saber se a Rede, legenda de Marina Silva, toparia a vice caso seja consumada a filiação da ex-prefeita ao partido.

Marina e Marta já se estranharam, mas estão em bons termos. A presidenciável de 2010, 2014 e 2018, contudo, não quer saber de aliança com o PT. A Rede quer Marta como candidata a prefeita. Já o Solidariedade do deputado Paulinho da Força é um porto mais seguro, enquanto a ida especulada ao PDT esbarra na provável resistência de Ciro Gomes, outro provável rival do PT em 2022.

A defesa de um nome pouco convencional já foi feita pelo próprio Lula em entrevistas, o que fez surgir o nome de Carvalho.

O advogado, nome de destaque em seu ramo e fundador do grupo de defesa de direitos Prerrogativas, já coordenou a área jurídica do PT e é muito próximo do ex-presidente -hoje, defende seu filho Fábio Luís. Não tem experiência eleitoral, o que segundo pesquisas pode ser um ativo. Isso porque há a permanência de sentimentos antipolíticos de 2018 na população.

Além disso, ele transita com fluidez em setores da elite que convivem bem com Haddad, mas dificilmente teriam interlocução com Tatto.

Toda a discussão petista é limitada pelas dificuldades naturais que o partido admite que terá em São Paulo.

O partido apenas conta com algum refluxo natural na onda conservadora de lá para cá, ainda mais com o estado agora na mão de Doria e a prefeitura, com seu antigo vice, Covas. Poder desgasta, afinal.

Do lado do bolsonarismo, ainda não há um candidato associado ao presidente. O apresentador José Luiz Datena poderia ser o nome.

Ele já descartou concorrer por motivos de saúde e depois voltou atrás. Um acerto estadual com Paulo Skaf (MDB, rumo ao futuro Aliança pelo Brasil, de Bolsonaro) será provável neste caso.

O pleito segue sob o signo da incerteza devido à condição de saúde de Covas, em tratamento contra o câncer.

Nenhum adversário ou aliado fala em público sobre isso, mas todos especulam cenários para o caso de o prefeito ter de se afastar da campanha.

Nesse caso, os olhos se voltam principalmente para a composição de sua chapa: apesar de Covas ter conversas avançadas com Celso Russomanno (Republicanos), a cúpula partidária tem falado cada vez mais em uma dupla puro-sangue, para garantir a primazia ao PSDB se o prefeito não puder concorrer.

Aí, a especulação mais comum envolve a presença de Lu, a mulher de Alckmin, seja para a cabeça da chapa, seja para fazer uma dobradinha com o marido como vice.

As possibilidades agradam a Doria, seu desafeto, por tecnicamente desobstruírem o caminho para o governador cumprir seu acordo com o vice, Rodrigo Garcia (DEM), e liberá-lo para disputar o Bandeirantes em 2022 -isso se o tucano mantiver a intenção de ser presidenciável.

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