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Estudos não dão aval a pronunciamento de Bolsonaro

Entidades divulgaram notas rebatendo a fala do presidente e reforçando a necessidade de distanciamento social para conter o coronavírus

Estudos não dão aval a pronunciamento de Bolsonaro
Notícias ao Minuto Brasil

13:35 - 26/03/20 por Estadao Conteudo

Política Coronavírus

O pronunciamento feito na noite de terça-feira, 24, em rede nacional, pelo presidente Jair Bolsonaro contra medidas de isolamento da população para o combate ao novo coronavírus repercutiu de forma negativa nos meios médico e científico. Entidades divulgaram notas rebatendo a fala do presidente e reforçando a necessidade de distanciamento social para conter a pandemia. Atualmente, 2,6 bilhões de pessoas convivem com regras de confinamento mais ou menos rígidas, a depender do país. No Brasil, governadores de vários Estados adotaram medidas a fim de diminuir a circulação de pessoas para tentar reduzir a propagação do vírus.

"Assistimos estarrecidos ao pronunciamento do presidente da República em direção contrária às recomendações do próprio Ministério da Saúde, de organizações de saúde internacionais, como a Organização Mundial da Saúde, de cientistas e de governos de todo o mundo", afirmou a Sociedade Brasileira pelo Progresso da Ciência (SBPC).

O uso do termo "gripezinha" pelo presidente para falar sobre o coronavírus também foi questionado. "Tais mensagens podem dar a falsa impressão à população de que as medidas de contenção social são inadequadas e que a covid-19 é semelhante ao resfriado comum, esta sim uma doença com baixa letalidade. É também temerário dizer que as cerca de 800 mortes diárias que estão ocorrendo na Itália, realmente a maioria entre idosos, seja relacionada apenas ao clima frio do inverno europeu. A pandemia é grave", declarou em nota a Sociedade Brasileira de Infectologia.

O QUE ELE DISSE

Isolamento Social

"O sustento das famílias deve ser preservado. Devemos, sim, voltar à normalidade. Algumas poucas autoridades estaduais e municipais devem abandonar o conceito de terra arrasada, como a proibição de transportes, o fechamento de comércio e o confinamento em massa".

A Sociedade Brasileira pelo Progresso da Ciência (SBPC) diz que o isolamento é "fundamental" contra o vírus. "Estudos e análises em vários países têm mostrado que o isolamento social é uma medida fundamental para conter o crescimento muito acelerado de pessoas afetadas." Para a Sociedade Brasileira de Imunizações, incentivar os brasileiros a voltarem às ruas pode ter "consequências trágicas". Já estudo publicado na revista Science aponta que medidas "drásticas" - quarentena de cidades inteiras, fechamento de serviços não essenciais e restrição nas viagens aéreas - implementadas na China "reduziram substancialmente a disseminação da covid-19". As pessoas devem ficar em casa, já que, nas próximas semanas, a circulação do vírus atingirá o pico, afirma o infectologista Jean Gorinchteyn.

Fechamento de escolas

"O que se passa no mundo tem mostrado que o grupo de risco é o das pessoas acima dos 60 anos. Então, por que fechar escolas? Raros são os casos fatais de pessoas sãs, com menos de 40 anos de idade. Noventa por cento de nós não teremos qualquer manifestação, caso se contamine."

A declaração contraria a recomendação do diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, que já demonstrou preocupação especial com os jovens. "Esse vírus pode colocar você no hospital por semanas ou até matar. Mesmo que não fique doente, as escolhas que faz sobre onde ir podem fazer a diferença sobre a vida ou a morte de outra pessoa", afirmou. "Abrir as escolas faria o vírus circular muito mais, visto que as crianças voltariam para a casa e poderiam infectar os idosos", diz Jean Gorinchteyn, infectologista do Instituto Emílio Ribas. A medida não é exclusiva do Brasil. De acordo com informações da Unicef, 95% dos estudantes da América Latina e do Caribe estão sem aulas em razão da orientação da OMS sobre o novo coronavírus.

Histórico de 'atleta'

"No meu caso particular, pelo meu histórico de atleta, caso fosse contaminado pelo vírus, não precisaria me preocupar, nada sentiria ou seria, quando muito, acometido de uma gripezinha ou um resfriadinho, como bem disse aquele conhecido médico daquela conhecida televisão."

A Sociedade Brasileira de Infectologia contesta a classificação do novo coronavírus como "resfriado" ou "gripe", já que a covid-19 tem causado mortes em dezenas de países. A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência também critica a tentativa de minimizar a doença. "Essa pandemia é muito grave, tendo já matado mais de 16 mil pessoas no mundo, e contaminado pelo menos 2,2 mil brasileiros." Não é possível relacionar o fato de Bolsonaro ter sido atleta com uma eventual alguma proteção contra a covid-19, segundo o médico Celso Granato. "Os trabalhos científicos ainda não chegaram a esse nível de detalhe", disse. Além disso, há casos de vários atletas infectados com o vírus, como o astro do basquete americano Kevin Durant e outros três jogadores do Brooklyn Nets, da NBA.

Condições da Itália

"Grande parte dos meios de comunicação foram na contramão. Espalharam exatamente a sensação de pavor, tendo como carro-chefe o anúncio de um grande número de vítimas na Itália, um país com grande número de idosos e com um clima totalmente diferente do nosso."

A relação feita pelo presidente entre o clima e a transmissão do coronavírus não é algo comprovado, segundo especialistas em saúde. Estudos apontam que o clima quente pode até diminuir o contágio, mas não o impede. Observando o número de casos notificados da doença, é possível notar um avanço considerável tanto no Brasil quanto na Itália em um curto espaço de tempo, embora haja mais casos na Itália. A Sociedade Brasileira de Infectologia afirma que é temerário dizer que as cerca de 800 mortes diárias que estão ocorrendo na Itália seja relacionada apenas ao clima frio do inverno europeu. "Se isso fosse um fator tão protetor assim, como justificar que agora, final, ainda temos uma epidemia em grande expansão?", questiona o virologista Celso Granato, do Fleury.

Tratamento

"O FDA americano e o Hospital Albert Einstein, em São Paulo, buscam a comprovação da eficácia da cloroquina no tratamento da covid-19. Nosso governo tem recebido notícias positivas sobre este remédio fabricado no Brasil, largamente utilizado no combate à malária, lúpus

e artrite."

No Brasil, uma coalizão que inclui o Hospital Israelita Albert Einstein, o Hospital do Coração (HCor), o Hospital Sírio-Libanês e a Rede Brasileira de Pesquisa em Terapia Intensiva (BRICNet), em parceria com o Ministério da Saúde, vem realizando estudos para testar a eficácia do medicamento no combate à covid-19. Já a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) informou que os testes ainda são preliminares e o uso do medicamento sem indicação médica pode causar efeitos colaterais. Em nota, o Hospital Albert Einstein que há três estudos em andamento para avaliar a eficácia e a segurança de potenciais terapias para pacientes com covid-19, ainda não concluídos. "Serão estudos multicêntricos robustos que possam fornecer respostas satisfatórias acerca do tema", informou o hospital.

Transmissão

"Nossa vida tem que continuar. Os empregos devem ser mantidos (...) Devemos, sim, é ter extrema preocupação em não transmitir o vírus para os outros, em especial aos nossos queridos pais e avós. Respeitando as orientações do Ministério da Saúde."

Especialistas em saúde afirmam que, como a doença é transmitida de pessoa a pessoa ou por contato com objetos e superfícies contaminadas, o isolamento e a correta higienização se tornam indispensáveis. Diante disso, afirmam, é difícil a população manter a rotina a qual está acostumada, como defendeu o presidente. "Sem essas medidas, o impacto poderá ser muito maior", diz a Sociedade Brasileira de Hipertensão. "Existe um perigo próximo, evidente, real e gravíssimo. Enfrentá-lo é prioritário. Todos nos preocupamos com o impacto do isolamento social na economia, particularmente o impacto da recessão sobre a saúde. Também isso não deve ser minimizado. Mas que não se deixe a preocupação com o futuro inviabilizar o presente", afirma a Associação Paulista de Medicina.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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