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Santo André tem disputa por legado de Celso Daniel na saúde

A cidade da grande São Paulo ganhou destaque na gestão de Saúde quando Celso Daniel era prefeito

Santo André tem disputa por legado de Celso Daniel na saúde
Notícias ao Minuto Brasil

08:52 - 20/10/20 por Folhapress

Política Eleições 2020

SANTO ANDRÉ, SP (FOLHAPRESS) - Tema central diante da pandemia do novo coronavírus, a saúde é destacada pelos candidatos que disputam a Prefeitura de Santo André, cidade de 721 mil habitantes no ABC Paulista que no passado já foi referência nacional por programas de atenção primária, mental e bucal.

Enquanto o prefeito e candidato à reeleição Paulo Serra (PSDB) destaca ter promovido uma transformação total nos equipamentos da rede pública, seus adversários na campanha criticam a qualidade do serviço e também elencam propostas para o setor.

O professor de saúde pública da Faculdade de Medicina do ABC, Hugo Macedo Junior, afirma que Santo André foi responsável por modelos que ajudaram a aprimorar o Sistema Único de Saúde. "Santo André era pioneiro. Fazia o que tinha que ser feito. O sistema de saúde era pleno no sentido de lutar por isso."

Os andreenses tem uma rede de 663 equipamentos de saúde, dos quais 104 são públicos. A cidade soma 2.371 leitos; destes, 53% da rede pública –que foi de 829 em dezembro de 2016 para atuais 1.268.

Esse cenário ajudou a lidar com a pandemia. Até domingo (18), a cidade registrava 623 mortos, com mais de 18 mil infectados desde abril, segundo dados do consórcio de veículos de imprensa. O modelo estatístico também indica desaceleração dos casos desde agosto e de mortes desde setembro.

Na atenção básica, são 34 equipamentos. Numa cidade dividida em três distritos, 65% dessas unidades estão em apenas um deles, conhecido como 1º subdistrito. Em Paranapiacaba, 3º subdistrito, são apenas duas unidades.

Na atenção primária, o município também conta com o programa Estratégia Saúde da Família, com 52 equipes que que atendem 185,597 mil cadastrado. Uma promessa de Paulo Serra era ampliar a cobertura para 85% da população. Porém, passou apenas de 24% para 25%.

O programa foi implantado na segunda gestão do prefeito petista Celso Daniel, responsável pela chegada do SUS à cidade. Assassinado em 2002, seu legado é hoje disputado pelos candidatos do campo da esquerda que tentam a prefeitura, entre eles, seu irmão mais novo e estreante no pleito pelo PSOL, Bruno Daniel, 67.

Além da ampliação, o candidato propõe a criação de pequenos consultórios nos bairros para servir como estrutura de atendimento.

A candidata do PT, Bete Siraque, 50, defende que o legado de Celso na saúde e em outras áreas é do partido, que governou o município por cinco vezes. Ela destaca a criação do Hospital da Mulher, obra da gestão de João Avamileno, 76, candidato pelo Solidariedade.

Vice de Celso Daniel, Avamileno assumiu a prefeitura após o assassinato do petista. Foi reeleito, mas não fez sucessor e decidiu deixar o PT, do qual era um quadro histórico, para voltar à disputa.

Na saúde, Avamileno diz ter feito reformas e também ampliado o Saúde da Família. Agora quer humanizar o atendimento, ampliando o número de médicos. Ele considera que a fragmentação da esquerda na cidade pode favorecer a reeleição de Serra, que tem ao seu lado outros dez partidos, como PSL e MDB.

Na saúde, o tucano diz ter feito uma "transformação total", resultado do que ele chama de novo modelo de gestão. "Quando assumimos tinha unidade de saúde fechada porque tinha pulga no telhado e tinha sido lacrada pela vigilância", diz o prefeito.

Foram entregues 22 equipamentos na saúde, dos quais seis foram feitos pela atual gestão, sete foram revitalizados e ampliados e seis, reformados, segundo a prefeitura.

A administração também destaca a retomada e finalização de outras três obras de gestões passadas: a casa da gestante, um centro de reabilitação para pessoas com deficiência e a Clínica da Família do Jardim Cipestre.

A gestão tucana é criticada, porém, pela falta de diálogo com a população sobre obras e projetos. Um exemplo disso foi o fechamento de sete unidades de saúde para reforma em 2017, início do mandato.

"A grande dificuldade foi fechar sem nenhum debate, inclusive rompendo contratos de funcionários. Tivemos quase 450 trabalhadores demitidos", diz o presidente do Conselho de Saúde da Cidade, Rodrigo Rodrigues Costa, 30.

O prefeito diz que houve um "grande susto" diante da mudança, mas que o atendimento continuou em outras unidades. Na Policlínica da Vila Humaitá, uma das unidades reformadas, localizada num bairro de classe média, os usuários elogiam as mudanças.

"A reforma foi uma bênção. Agora tem médico, respeito. Aqui era um descaso", diz o padeiro e confeiteiro Sergio da Silva, 51, que conta não ter votado em Serra em 2016, mas que dessa vez o fará.

Nas periferias, a avaliação do tucano muda. No Jardim Alzira, uma Unidade de Saúde iniciada em 2011, na gestão de Aidan Ravin (PTB), e ainda não finalizada, é motivo de queixa. Com paredes pichadas, o local está cercado e tem uma placa que prevê o término da obra para fevereiro.

Segundo a prefeitura, as obras foram retomadas em setembro de 2019, mas moradores disseram à reportagem que só em setembro voltaram a ver funcionários trabalhando ali.

Na favela Tamarutaca, urbanizada na segunda gestão de Celso Daniel, enquanto o antigo prefeito é lembrado com carinho pelas moradoras, que falam do político tomando café nas casas, o atual é criticado pelo projeto enviado à Câmara para mudar a US Vila Guiomar.

A unidade construída pelo Programa Metropolitano de Saúde tem dois andares em um terreno de 3.250 metros quadrados. São 54 funcionários e cerca de 6.300 atendimentos e procedimentos mensais de moradores de sete bairros.

A proposta enviada pela prefeitura prevê a construção de uma nova unidade pela iniciativa privada em um terreno de 968 metros quadrados, localizado a poucos minutos dali, numa esquina movimentada.

A diferença do valor da troca seria usada para revitalizar uma praça e reformar a antiga base da Defesa Civil, onde seria instalado um Núcleo de Inovação Social.

Moradores contam que souberam da mudança pelo jornal e se mobilizaram contra. No início de outubro, uma decisão da 1ª Vara da Fazenda Pública barrou o projeto.

Na decisão, o juiz apontou que a lei exige licitação na modalidade de concorrência para realização de permutas e que o parecer jurídico do Legislativo apontou a ilegalidade do projeto. Nas vielas da Tamarutaca há cartazes alertando sobre a proposta.

"Sempre gostei do posto, mas na atual gestão não tenho gostado porque falta muita coisa, de médico e medicamento. É um lugar que precisaria de mais assistência, não mudar de endereço. Uma reforma talvez", diz a dona de casa Tainá Santos, 25.

A agente comunitária de saúde Sheila Fiorotti, 35, conselheira da unidade, diz que a unidade é referência no país.

"Nós temos pertencimento ao que é nosso. Foi pensando o lugar onde foi construído e para quem. Aqui dentro da Tamarutaca são mais de 8.000 pessoas", diz.

A prefeitura diz não ter sido notificada e que será "a população da Vila Guiomar que vai escolher, de maneira transparente e democrática, se quer que a prefeitura reforme a Unidade de Saúde existente ou construa uma unidade completamente nova".

Hugo Macedo defende a retomada da assistência primária à saúde e a ampliação do programa Saúde da Família.

"Acho que retrocedeu, no que chamamos de desqualificação. Outros governos já vinham num enxugamento, que é um retrocesso para a cidade", afirma sobre o programa, iniciativa que candidatos de esquerda prometem priorizar.

Sheila reclama da falta de um médico na equipe de Estratégia Agente Comunitário de Saúde (EACS), na qual atua, apesar da promessa de ampliação no início da gestão.

A prefeitura afirma que a unidade é a única que tem uma equipe do programa e que a intenção é transformá-la em Estratégia Saúde da família, com a contratação de um médico, quatro agentes e uma técnica de enfermagem.

A gestão tucana também ficou marcada pela transferência do serviço de saneamento para a Sabesp, no final de 2019. O contrato de concessão de 40 anos tirou da prefeitura uma dívida de R$ 3,4 bilhões. Segundo a empresa, o tratamento de esgoto era de 42% e atualmente já chega a 62%.

Serra destaca a mudança como uma salvação para o Semasa (Serviço Municipal de Saneamento Ambiental de Santo André), autarquia que cuidava do serviço e hoje faz a gestão compartilhada das políticas ambientais.

Siraque diz que, se eleita, pretende analisar juridicamente a possibilidade de retomada do serviço pela cidade.

Avamileno e Bruno prometem pressionar a Sabesp para o cumprimento dos serviços que estão no contrato, além de investir em reflorestamento.

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