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Vamos resistir às Damares e ao retrocesso do governo Bolsonaro, diz Marta Suplicy

"Não importa o quanto resistam ao empoderamento feminino, as mulheres têm uma palavra: resiliência. Nós vamos resistir às Damares", diz, citando a ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves

Vamos resistir às Damares e ao retrocesso do governo Bolsonaro, diz Marta Suplicy
Notícias ao Minuto Brasil

15:00 - 07/03/21 por Folhapress

Política GOVERNO-RETROCESSO

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Militante feminista desde antes de entrar na política, Marta Suplicy, 75, vê o governo de Jair Bolsonaro (sem partido) como o revés mais violento para os direitos das mulheres na história recente do Brasil.


"Não importa o quanto resistam ao empoderamento feminino, as mulheres têm uma palavra: resiliência. Nós vamos resistir às Damares", diz, citando a ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves.


Hoje secretária de Relações Internacionais da Prefeitura de São Paulo, a ex-prefeita, ex-ministra e ex-senadora falou, na primeira entrevista depois da reeleição de Bruno Covas (PSDB), sobre seu apoio ao tucano e sua obsessiva ideia de formar uma frente ampla contra Bolsonaro.


Ela defende que o ex-presidente Lula (PT) deixe de lado o isolamento político e se una a outros nomes do campo democrático para derrotar o bolsonarismo em 2022.


Marta, que deixou o PT em 2015, após 33 anos, flertou com outros postulantes a prefeito da capital no ano passado, mas acabou fechando apoio a Covas, por considerá-lo "o candidato que melhor incorporou a frente ampla". Depois de passar por MDB e Solidariedade, hoje está sem partido.

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Feminismo e retrocessos


Feminismo é meu tema de vida. A nossa luta por direitos iguais é marcada por constantes "backlash", cuja tradução é rebote. Quando nós conseguimos alguma coisa, com muita luta, em seguida vem um "backlash", termo usado pela [jornalista americana] Susan Faludi.

Mulher na política


É nas esferas de poder político que o sexismo apresenta os piores índices de mudança. As mulheres não conseguem entrar nos centros decisórios. E, quando entram na política, passam por situações de escracho e ridicularização. O poder do país passa pela mão da política, e a mão da política é o patriarcado.
Tivemos uma presidente [Dilma Rousseff] e foi muito bom que tenhamos tido, mesmo que não tenha caminhado tão bem. Em todas essas transformações, a mulher negra não foi atingida. Se você não tem diversidade no movimento, o movimento não existe. É pó, ele morre.

Feminicídio e assédio


Atualmente, há duas grandes questões para a mulher. O "backlash" do feminicídio, em que houve a conquista da lei [que tipificou o crime], mas um aumento da violência contra a mulher. A outra coisa é o assédio sexual. Temos como exemplo o caso da Isa [Penna, deputada estadual do PSOL]. Quando você pensa que não vão cassar uma pessoa que se porta com esse desrespeito? Com o #MeToo [#EuTambém, no Brasil] a coisa tomou outra dimensão, porque ampliou no mundo inteiro a indignação com a situação que as mulheres são expostas.

Damares e o patriarcado


Não importa o quanto resistam ao empoderamento feminino, as mulheres têm uma palavra: resiliência. Nós vamos resistir às Damares. O "backlash" mais violento que já presenciei é o que esse governo está fazendo, guiado pelo retrocesso civilizatório.
Essa senhora que ocupa o ministério foca exatamente no que o patriarcado gostaria, que a gente voltasse para casa e aceitasse o comando masculino. Não adianta, ela pode querer quanto ela quiser, não iremos fazer isso, e Bolsonaro passará.

Eleição de mulheres


Vamos ter que repensar as cotas. Porque mesmo com recurso, agora, nós não conseguimos. Enquanto a gente não chegar às funções de decisão de poder nos partidos, de ser candidato prioritário, nós não vamos a canto algum.

Feminismo em plena crise


O principal nesse momento é que as pessoas não morram de fome. E a carga maior da pandemia é sobre as mulheres. Temos um presidente incompetente, psicopata e genocida. Não diria nem que ele é machista, porque teria que ter uma palavra mais violenta para designá-lo. O mais importante é a luta pela manutenção da democracia. Por isso que prego tanto a questão da frente amplíssima para o 1º e o 2º turno das eleições.

Composição da frente ampla


Deverá ir de Boulos [PSOL] a ACM Neto [DEM], passando por Haddad [PT], Lula [PT], Ciro [PDT], Huck [sem partido], Doria [PSDB]. Não é o momento agora de definir nomes. Essa definição vai ocorrer naturalmente.


A reconstrução do Brasil é uma tarefa para muitos. Não é só para um homem. Isso que os candidatos que se colocam têm que entender. Olha, isso parece um sonho de verão? Tanta coisa parece um sonho de verão e a gente acredita.


Todos têm direito de se colocar e são bem-vindos ao debate. Defendo uma frente ampla com três pilares: diminuição da desigualdade social, defesa intransigente da democracia e respeito à diversidade cultural, que é o grande patrimônio brasileiro.


É chegar a uma pauta razoável e, dessa pauta, vai ficar uma pessoa [candidata] e todos vão entender que aquela pessoa é a que simboliza a união, a pacificação e a possibilidade de governança. A saída da pandemia só vai ser possível com um governo de união.

Centrão na frente ampla


Acredito que devamos atrair o centrão para o campo democrático. E acredito que os presidentes da Câmara e do Senado não vão ficar com Bolsonaro até 2022, pela própria questão da sua sobrevivência política. A economia vai desandar. O centrão não ajuda a carregar caixão. Bolsonaro não vai ganhar a eleição, mas a gente não pode bobear, porque ele tem muito poder. Vai ter uma conta para Bolsonaro no final. Ninguém mata tanta gente impunemente.

Lula


Fiquei muito decepcionada na hora que ele saiu da prisão. Imaginei que ele fosse sair com a bandeira brasileira, com um discurso de pacificação. O Lula acabou se isolando. Vejo pipocando dentro do PT que tem gente que apoia [a frente].


O Lula foi injustiçado. A Lava Jato agiu com parcialidade. O [Sergio] Moro deverá ser julgado. A maioria das pessoas está percebendo isso e ficando indignada. Acho que ele vai ter resgatada a sua liberdade.

Impeachment de Bolsonaro


Eu li o jornal hoje [sexta-feira, 5], me deu tanta raiva que peguei a caneta e escrevi. "Existe uma relação que está sendo trabalhada por Bolsonaro entre a crise sanitária e a democracia, e tudo indica que a estratégia fria, mortífera, é criar o desespero, o caos econômico, para poder impor um estado de emergência." É isso.

Como as pessoas não veem?


"Neste momento, a nossa indignação é tão grande que pede para esse genocida ser retirado do poder." Essa é a raiva que me deu, mas sou uma pessoa racional, então continuei. "Entretanto, a especificidade da situação que vivemos, com a correlação de forças, dificultará enormemente e aprofundará a crise. As manifestações de rua, que poderiam acelerar a perda desse apoio popular, sofrem um receio do vírus e das armas agora abundantes." Impeachment é enxugar gelo.

Futuro na política


Não vou entrar em partido e não sou candidata a nada. Nosso adversário é a ameaça do autoritarismo, é o risco institucional, é o desequilíbrio de um facínora cruel, que tira a vida de milhares de pessoas e diz que é mimimi. Se as pessoas não entenderem a dimensão do que estamos vivendo e ficarem pensando na sua própria candidatura, no fortalecimento do seu partido, corremos risco. A polarização não é entre PT e PSDB, que são partidos democráticos. A polarização é contra o autoritarismo.

Apoio a Bruno Covas
Sinto, como política, a responsabilidade de construir unidade democrática. É isso que me move. E apoiei o Bruno porque percebi que tinha condição de mostrar, com a minha adesão, a construção para 2022. Não dei a mínima [para o apoio de Celso Russomanno, candidato de Bolsonaro, a Covas no segundo turno]. Não significava nada. A minha entrada era muito mais forte.

Secretaria de Relações Internacionais


Quero ajudar o Bruno a deixar um legado. O Itamaraty está de braços cruzados. O Bruno tem um papel de colocar São Paulo em uma centralidade mundial na preservação do meio ambiente e da agenda climática. Falo com o BID, com o Banco Mundial, por exemplo, para obras de saneamento. Estou animadíssima.

Diálogo com secretarias


[Não estou agora no papel de prefeita], mas eu sempre sou a Marta Suplicy. Isso significa que eles dão todo o apoio [risos]. O tratamento que o Bruno me dá é muito delicado e gentil, de tapete vermelho para trabalhar. E todos percebem. Preciso que eles me indiquem o que precisam, e vou ajudar, buscando recursos.

Agenda da diversidade


O mais importante que o prefeito falou [para a minha atuação na secretaria] foi o saneamento básico. Depois, da minha cabeça, sugeri que São Paulo seja o farol do combate ao racismo estrutural, e o Bruno gostou muito.

Ida para MDB e apoio a impeachment de Dilma


Eu tinha trabalhado pelo "volta, Lula" [em 2014] porque achava que era a possibilidade de a gente dar um salto do que a Dilma estava fazendo, que considerei completamente inadequado. Eu era senadora pelo maior estado, tinha que ir para um partido [MDB] que me desse a possibilidade de fazer a intervenção, atuar em prol do Brasil. Quando saí da política, foi porque não queria mais enfrentar aquelas coisas absurdas, xingamentos no plenário. A polarização estava em um nível altíssimo e depois se acentuou.

Marta Suplicy, 75
É secretária de Relações Internacionais da Prefeitura de São Paulo, após apoiar a reeleição de Bruno Covas (PSDB) em 2020.

Foi deputada federal, ministra do Turismo no governo Lula (PT) e da Cultura no governo Dilma (PT), prefeita de São Paulo e senadora. Filiada ao PT desde 1981, foi para o MDB em 2015 e apoiou o impeachment de Dilma. Em 2018, anunciou a desfiliação e o fim da carreira política. Em 2020, se filiou ao Solidariedade, mas logo deixou o partido para apoiar Covas.

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