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Ernesto confirma à CPI ação de Bolsonaro por cloroquina e mente sobre agressões à China

À CPI Ernesto confirmou informação de que o governo Bolsonaro mobilizou a estrutura diplomática brasileira para adquirir hidroxicloroquina

Ernesto confirma à CPI ação de Bolsonaro por cloroquina e mente sobre agressões à China
Notícias ao Minuto Brasil

18:30 - 18/05/21 por Folhapress

Política Governo

BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - Em depoimento à CPI da Covid no Senado nesta terça-feira (18), o ex-chanceler Ernesto Araújo confirmou que mobilizou a estrutura do Ministério das Relações Exteriores para a compra da hidroxicloroquina e afirmou que o processo contou com a atuação do presidente Jair Bolsonaro.

Ernesto também mentiu sobre seus atritos com a China, país fornecedor de matéria-prima para a fabricação de vacinas, e os ataques que ele próprio desferiu ao país asiático.

Nesse momento do depoimento ele foi repreendido pelo presidente da CPI, senador Omar Aziz (PSD-AM), que afirmou que o ex-chanceler estava "faltando com a verdade".

O depoimento de Ernesto Araújo era considerado fundamental pelos senadores da comissão, que queriam questioná-lo se a política externa ideológica e os ataques promovidos a alguns países, em particular à China, afetaram a compra de insumos e de vacinas contra a Covid-19.

À CPI Ernesto confirmou informação divulgada pelo jornal Folha de S.Paulo de que o governo Bolsonaro mobilizou a estrutura diplomática brasileira para adquirir hidroxicloroquina, medicamento sem eficácia comprovada para o tratamento da Covid-19.

"Naquele momento, março, havia uma expectativa de que houvesse eficácia no uso da cloroquina para o tratamento da Covid, não só no Brasil. Havia notícias sobre isso de vários lugares do mundo. Houve uma grande corrida aos insumos para hidroxicloroquina e baixou precipitadamente o estoque de cloroquina, fomos informados pelo Ministério da Saúde", disse.

Como mostrou a Folha de S.Paulo, o Itamaraty enviou telegramas à Índia a partir de março de 2020 para tentar garantir a importação do medicamento e de insumos.

E, embora Ernesto tenha citado o mesmo mês de março, o Itamaraty continuou acionando o corpo diplomático, em telegramas de junho, para garantir o fornecimento de hidroxicloroquina, mesmo depois de sociedades médicas terem desaconselhado o uso apontando efeitos colaterais graves.

O ex-chanceler também afirmou que o presidente Bolsonaro atuou pessoalmente nessa questão, embora o pedido inicial tenha sido feito pela pasta da Saúde. "No caso, o Ministério da Saúde foi quem nos pediu que procurasse viabilizar essa importação."

O senador Renan Calheiros (MDB-AL), relator da CPI, perguntou se Ernesto havia discutido com outras autoridades a situação.

"Não. Eu não me recordo não. Enfim, houve, claro, houve. Não foi exatamente um pedido para implementar esse pedido do Ministério da Saúde, mas o presidente da República, em determinado momento, pediu que o Itamaraty viabilizasse um telefonema dele com o primeiro-ministro [da Índia]", disse o ex-chanceler.

Renan então perguntou diretamente se houve participação do presidente da República. "Sim", respondeu Ernesto.

Em um dos momentos mais acalorados da sessão da CPI, o ex-chanceler negou que tenha feito qualquer ataque à China.

"Não vejo nenhuma declaração que eu tenha feito como antichinesa. Em notas oficiais, nos queixamos do comportamento da Embaixada da China, mas não houve nenhuma declaração que se possa classificar como antichinesa", afirmou.

Presidente da comissão, Aziz então contrapôs Ernesto e relembrou artigo escrito pelo ex-ministro no qual usa a expressão "comunavírus". "Na minha análise pessoal, vossa excelência está faltando com a verdade. Então, eu peço que não faça isso. Não faça isso", disse.

"Chegar aqui agora e desmerecer o que vossa excelência já praticou e dizer aqui, nesta CPI, para todos os senadores que o senhor nunca se indispôs em relação à China é... Aí vossa excelência está faltando com a verdade", completou o presidente da CPI.

No artigo citado, Ernesto disse que o surgimento do coronavírus acelera o "projeto globalista".

"O vírus aparece, de fato, como imensa oportunidade para acelerar o projeto globalista. Este já se vinha executando por meio do climatismo ou alarmismo climático, da ideologia de gênero, do dogmatismo politicamente correto, do imigracionismo, do racialismo ou reorganização da sociedade pelo princípio da raça, do antinacionalismo, do cientificismo", escreveu Ernesto.

"São instrumentos eficientes, mas a pandemia, colocando indivíduos e sociedades diante do pânico da morte iminente, representa a exponencialização de todos eles", diz outro trecho do artigo que foi publicado no blog pessoal do ex-ministro.

As contradições de Ernesto foram foco do discurso da senadora Kátia Abreu (PP-TO), que fez uma dura fala contra o ex-chanceler, dando sequência a uma troca de farpas que, em março, resultou na demissão do então ministro.

A senadora lembrou o episódio da reunião ministerial de 22 de abril de 2020, na qual o então chanceler afirmou que o novo coronavírus causará uma "nova globalização" e, sem citar diretamente a China, referiu-se ao país como "não democrático" e que "não respeita os direitos humanos".

O STF (Supremo Tribunal Federal) liberou a divulgação do teor daquele encontro, exceto por "poucas passagens do vídeo e da respectiva degravação nas quais há referência a determinados Estados estrangeiros".

"Quero lembrar ainda -que o senhor está esquecido, porque sua memória não é boa- uma reunião ministerial que houve no palácio aonde foram ditas algumas coisas e foi pedida a abertura dessas falas nessa reunião. E o ministro Celso de Mello autorizou. E a AGU [Advocacia-Geral da União] pediu encarecidamente que um pedaço fosse retirado 'pelo amor de Deus, ou vai dar um problema diplomático seríissimo'", afirmou Katia na sessão.

"E adivinha de quem era esse trecho? De vossa senhoria, aonde o senhor atacava fortemente a China. E, portanto, o ministro Celso de Mello, graças a Deus, permitiu a retirada da sua fala, porque só estava fazendo bonito para a família Bolsonaro", completou a senadora.

Kátia falou durante 20 minutos, sem ter feito nenhuma pergunta ao depoente. Inicialmente ironizou a fala de Ernesto na CPI, afirmando que ele tem duas "personalidades".

Ela então explicou que o ex-chanceler na comissão adotava um tom mais contido, negando críticas à China, mas que nas redes sociais e em artigos costumava ser mais virulento.

A senadora reconheceu que houve aumento no volume das exportações para a China no último ano, mas afirmou que ela aconteceu "a despeito" de Ernesto.

Kátia também afirmou que o comportamento do então chanceler com a China foi nocivo para o país, em particular na aquisição de vacinas. "Que bajulação à China? Eu quero bajular qualquer país que tenha vacina", afirmou.

Ao terminar sua fala, Kátia disse que Ernesto colocou o Brasil na condição de pária e de irrelevância. Afirmou que o ex-chanceler é um "negacionista compulsivo". "O senhor no MRE [Ministério de Relações Exteriores] foi uma bússola que nos direcionou para o caos, que nos levou ao iceberg, ao naufrágio", disse.

No comando do Itamaraty, Ernesto manteve uma relação conflituosa com senadores, especialmente no último ano. Em uma postagem nas redes sociais, no fim de março, Ernesto sugeriu que Kátia Abreu o procurou para fazer lobby em favor da tecnologia chinesa para o 5G. Dias depois, foi demitido.

Ainda na comissão, Ernesto foi questionado a respeito da carta enviada pela Pfizer ao Brasil ainda em 2020 na qual ela formalizava a oferta de doses ao país.

O documento foi endereçado a Bolsonaro com cópia para ministros, mas também foi encaminhado à Embaixada do Brasil nos Estados Unidos, que comunicou Ernesto sobre o recebimento e o teor do documento.

O ex-chanceler afirmou à CPI que não avisou o presidente sobre a carta porque presumiu que ela já havia sido entregue ao mandatário, alegando que Bolsonaro era o destinatário do documento. "Presumia que o presidente da República já soubesse", afirmou o ex-chanceler.

Senadores também questionaram Ernesto sobre outra linha de investigação da CPI, que busca esclarecer se havia um "ministério paralelo" que aconselhava o presidente no combate da pandemia, à revelia do Ministério da Saúde.

O ex-chanceler negou a existência de um "aconselhamento paralelo internacional" de Bolsonaro, mas afirmou que o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) e Filipe Martins, assessor internacional da Presidência da República, auxiliavam o mandatário nos assuntos ligados à política externa.

"Não havia aconselhamento paralelo internacional de que não tenha atribuição para fazê-lo. É claro que o presidente tem assessores na área internacional com os quais se aconselha sobre temas da política internacional", disse.

Segundo Ernesto, Eduardo exerceu papel como presidente da Comissão das Relações Exteriores na Câmara e Martins atuava "dentro das suas atribuições", aconselhando o presidente como assessor internacional.

"[Eu] conversava muito frequentemente com o Filipe Martins, o que é natural e extremamente útil na execução de uma política externa entre o chanceler e o assessor internacional do presidente. Tivemos momentos no passado em que havia rivalidades e divergências entre os chanceleres e os assessores internacionais que prejudicaram a política externa de outros presidentes. Tinha um relacionamento fluido com o Filipe Martins", relatou Ernesto.

O ex-ministro ainda afirmou que "é possível" que Martins tenha dado opiniões sobre vacinas. Martins e Eduardo são alunos do escritor Olavo de Carvalho, que já fez críticas à China.

Em outro momento, em resposta ao senador governista Marcos Rogério (DEM-RO), Ernesto tentou desconstruir argumentos da oposição ao avaliar que não houve motivação política em atrasos na entrega de insumos da China.

Rogério questionou o ex-ministro a respeito de falas de oposicionistas de que as críticas de integrantes e aliados do governo ao país asiático contribuíram para que faltasse insumos para produção de vacinas.

"Não tenho conhecimento de que tenha havido interferência política nos atrasos que registramos", afirmou Ernesto. "Acho que a China não tem interesse em propagar a imagem de que administraria algo tão importante como a vacina de acordo com considerações políticas", continuou o ex-chanceler.

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