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Lava Jato muda rotina de força-tarefa no Rio Grande do Sul

O grupo de Porto Alegre tem trabalhado em momentos de folga com frequência

Lava Jato muda rotina de força-tarefa no Rio Grande do Sul
Notícias ao Minuto Brasil

05:30 - 24/09/17 por Folhapress

Política RS

Quando o juiz Sergio Moro despachou pela condução coercitiva do ex-presidente Lula, em fevereiro de 2016, a procuradora Maria Emília da Costa Dick teve que trabalhar do hospital, um dia depois do nascimento da sua filha.

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Integrante do grupo do Ministério Público Federal em Porto Alegre que atua na segunda instância da Lava Jato, ela viu o e-mail se encher de mensagens da força-tarefa de Curitiba. Do leito, repassou as informações aos colegas.

"A Joana nasceu antes do prazo e eu tive que ir para o hospital. Não pude avisar a Curitiba e os guris mandavam todos os pedidos para mim, porque era possível que alguém pedisse habeas corpus", disse à Folha de S.Paulo, na sede da PRR-4 (Procuradoria Regional da República da 4ª Região).

O grupo de Porto Alegre tem trabalhado em momentos de folga com frequência, conforme os casos de maior repercussão ganham sentença de Moro e chegam ao TRF-4 (Tribunal Regional Federal da 4ª Região).

Avessos a entrevistas e mais discretos que a força-tarefa de Curitiba, os seis integrantes entraram no Ministério Público no concurso de 1996. Quatro trabalhavam no combate à lavagem de dinheiro em primeira instância.

Eles reveem os autos e se posicionam, como Ministério Público Federal, nas ações que chegam ao tribunal.É da PRR-4 o próximo passo do processo de Lula no caso do tríplex do Guarujá (SP). O órgão se manifestará nos autos antes de o processo chegar ao gabinete do juiz relator, João Pedro Gebran Neto.

A peça, que será elaborada pelo procurador Maurício Gotardo Gerum, deve ser apresentada em 5 de outubro.

Esse é o prazo final previsto no processo eletrônico, de 20 dias após a intimação –embora a Procuradoria Regional não precise necessariamente seguir esse prazo e, a rigor, não tem seguido. Até agora, a média de entrega das manifestações da Lava Jato pela PRR-4 é de 45 dias.

"Esse é um processo difícil, que envolve uma questão política", diz Maria Emília. "Nossa postura é de fazer tudo de forma mais rápida, dentro da lei, sem esticar e sem diminuir o prazo. Fazer tudo exato. Não podemos dar nenhuma conotação política, porque é isso o que eles [a defesa] buscam: sempre dar uma conotação política quando o nosso trabalho é técnico."

A procuradora atuou no caso do ex-ministro José Dirceu, condenado a 20 anos de prisão em junho do ano passado e solto por habeas corpus do STF (Supremo Tribunal Federal) em maio. A manifestação do Ministério Público em segunda instância foi entregue em janeiro. O julgamento começou em 13 de setembro, mas foi paralisado por um pedido de vista.

"Trabalhamos durante todo o recesso nesse processo e entreguei. Depois, quando soltaram o Dirceu, o [ministro Ricardo] Lewandowski deu a entender que o processo estava demorado. Gente, se você comparar com o outro TRF, ninguém julga mais rápido que o nosso", afirma.

"Daí eu falei para o Gebran: 'Graças a Deus que eu entreguei aquilo. Imagina se fosse comigo, iam dizer que estava havia muito tempo com o Ministério Público'."

Além de manifestações nos autos, os procuradores participam das sessões da oitava turma do TRF, composta por Gebran e outros dois juízes, responsável pela Lava Jato.

Tanto Gebran como Moro já foram alvos de pedidos de suspeição da defesa de Lula e de outros réus da operação, com aval contrário da PRR-4.

Na manifestação de uma queixa-crime da defesa de Lula contra Moro, a procuradora Ana Luisa Von Mengden chegou a reclamar do tratamento feito pelos advogados aos juízes, sugerindo a possibilidade de processo pelos crimes de injúria e calúnia.

"O representante usa de expressões grosseiras e vulgares para descrever o que trata como fatos, ofendendo a honra do magistrado federal Sergio Fernando Moro e do desembargador federal João Pedro Gebran Neto (...) reunindo suposições em sequência ilógica e desconexa, tecendo, ao final, ilações com o nítido propósito de promover ataque pessoal", escreveu.

DESTAQUE

Ao contrário da força-tarefa de Curitiba, os procuradores da PRR-4 não são exclusivos da Lava Jato. Um dos membros, Adriano Augusto Silvestrin Guedes, também atua na Operação Carne Fraca –e ainda se espanta com o tamanho da repercussão dos casos em que tem trabalhado.

"Esses dias eu estava assistindo ao jornal em casa e falaram da Carne Fraca e depois do [Aldemir] Bendine. As duas estavam comigo", riu.

O aumento dos casos de destaque nas mãos da PRR-4 foi levada em conta pela atual procuradora-geral da República, Raquel Dodge, então candidata ao cargo, que iniciou sua campanha ao cargo em Porto Alegre. Segundo os procuradores, ela disse que o grupo da Lava Jato seria mantido.

O holofote também fez os seis passarem a solicitar segurança institucional em julgamentos de repercussão.

Uma atuação passada de Maria Emília só repercutiu nacionalmente após a própria Lava Jato: a Operação Sucuri, que apurava facilitação de contrabando com a participação de policiais federais. Entre os alvos estava Newton Ishii, conhecido como Japonês da Federal.

"Quando começaram a falar do Japonês da Federal, pensei: de onde conheço esse nome? Fui olhar", diz, e bate na mesa como quem tem uma epifania: "Meu réu! O Japonês da Federal era meu réu."

Com informações da Folhapress. 

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