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'Influencers' devem ser responsabilizados por desinformação, diz autor

"Alguém que compartilha mentiras, torna-se, por associação, mentirosa", disse o professor de Ciências da Saúde Francisco Goiana da Silva

'Influencers' devem ser responsabilizados por desinformação, diz autor
Notícias ao Minuto Brasil

10:51 - 14/05/20 por Notícias Ao Minuto

Tech Internet

Os 'influencers' deveriam ser responsabilizados no caso de compartilharem desinformação, já que os conteúdos que difundem abrangem milhares de pessoas e poderão representar um perigo para a saúde pública, defende o coautor de um estudo sobre desinformação na saúde.

O paradigma da transmissão de informação mudou e já não são apenas os "grandes grupos de imprensa" os "responsáveis e responsabilizáveis pela informação" que é transmitida, explicou à agência Lusa o professor de Ciências da Saúde Francisco Goiana da Silva.

'Influencers', 'instagramers', 'youtubers' e 'bloggers'. Esta é a terminologia utilizada para designar as pessoas que começaram a fazer carreira no mundo digital que surgiu no século XXI e cujo alcance é muito maior do que a generalidade dos órgãos de comunicação social.

Estas pessoas "têm de ser, de alguma forma, responsabilizadas pelo impacto que aquilo que defendem e que apresentam tem nos seus ouvintes ou nos seus seguidores e, neste momento, a legislação atual não prevê isso", prosseguiu Francisco Goiana da Silva.

O investigador fez um paralelismo entre, "por um lado, uma indústria midiática que é extremamente regulada e, por outro, uma indústria informal", que tem cada vez mais influência, mas que não tem "qualquer tipo de regulação".

Francisco Goiana da Silva dá um exemplo prático da necessidade de regulação destes 'novos difusores de informação':

O investigador lembrou que um 'influencer' é diferente de uma pessoa que apenas está presente nas redes sociais. O número de seguidores é muito superior e "deixa de ser só difusão de opinião" para começar a ser também "gerador de capital" e de rendimento.

Na opinião do especialista, é necessário "haver uma revisão da legislação no sentido de fazer, nada mais, nada menos, do que assumir que estes novos veículos de informação existem e têm de ser responsabilizáveis pela informação que transmitem".

Contudo, esta responsabilização não pode ser baseada em censura: "Isto nunca pode ser feito à custa da violação do direito à opinião, à expressão."

Mas a regulação não passa apenas pela responsabilização em relação aos conteúdos que são difundidos.

Para o coautor de "Desinformação e Saúde: Uma Perspectiva Bioética" é necessário criar uma plataforma que reúna os órgãos de comunicação social, as autoridades sanitárias e os 'influencers', para permitir uma verificação correta da informação que é divulgada, podendo impedir, inclusive, que chegue a ser difundida.

Em relação à saúde, "estamos falando de uma área muito específica", acrescenta o investigador, considerando que, neste campo, os órgãos de comunicação social não têm o "conhecimento técnico e as bases científicas para saberem o que é correto", acabando por divulgar notícias que citam estudos que carecem de validação científica.

"Há artigos [científicos] que não devem ser compartilhados porque são fracos e podem induzir em erro", sublinhou, uma vez que isso também é uma forma de propagar desinformação.

Por isso, Francisco Goiana da Silva destaca a necessidade de investir em plataformas nas quais "as entidades técnicas e científicas" possam "dar esse suporte" na exposição de 'fake news' sobre saúde e relatórios científicos deficientes.

A combinação destes dois fatores poderá contribuir para um novo tipo de literacia centrada na promoção "do espírito crítico" das pessoas.

"O cidadão já não tem falta de informação. O que tem é informação a mais e falta de capacidade de distinguir o trigo do joio", realçou, acrescentando que as autoridades nacionais e internacionais deveriam, por isso, "desenvolver ferramentas", como uma "'checklist' muito simples para que qualquer cidadão, independentemente do seu grau de escolaridade, consiga saber o que deve procurar numa notícia antes de partilhar".

O investigador lembra a necessidade, principalmente durante uma pandemia sobre a qual a comunidade científica ainda sabe pouco, de verificar a fonte das informações antes de divulgar uma possível 'notícia falsa', incluindo através do 'link' dessa fonte, para saber se remete, de fato, para autoridades oficiais, como, por exemplo, a Organização Mundial da Saúde (OMS).

"Alguém que compartilha mentiras, torna-se, por associação, mentirosa e, portanto, as pessoas têm de ter muito cuidado e rigor com tudo aquilo que partilham. Podem estar a veicular informação que pode colocar em risco a vida de terceiros", finalizou.

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