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Vírus sem controle torna País atrativo para testar vacina

O Brasil fechou acordo em junho para receber 100 milhões de doses da vacina produzida pela Universidade de Oxford

Vírus sem controle torna País atrativo para testar vacina
Notícias ao Minuto Brasil

12:22 - 12/08/20 por Estadao Conteudo

Mundo Pandemia

Países ou regiões ricas como Estados Unidos, Reino Unido, União Europeia e Japão saíram na frente na corrida para estocar vacinas contra o coronavírus e, juntos, já reservaram mais de 1,3 bilhão de doses - todos esses imunizantes estão em fase de testes. O fato curioso é que o Brasil também está no topo desse ranking, mas por razões contraditórias. Por ter milhares de infectados, tornou-se atrativo para realização de testes e, como consequência, garantiu a prioridade na compra dessas possíveis vacinas.

O Brasil fechou acordo em junho para receber 100 milhões de doses da vacina produzida pela Universidade de Oxford e pela farmacêutica AstraZeneca. A aproximação aconteceu inicialmente porque na Inglaterra não havia quantidade de infectados suficiente para tornar rápida a fase de testes. E o Brasil, além reunir alto número de contaminados, tem laboratórios com tecnologia e capacidade para desenvolver vacinas. Foi firmada a parceria com a Fiocruz.

O acordo prevê compartilhamento de tecnologia e prioridade na compra das vacinas. O governo nacional investiu US$ 127 milhões por 30,4 milhões de doses mesmo sem eficácia comprovada: 15,2 milhões devem ser enviadas em dezembro e 15,2 milhões, em janeiro. Se a vacina for comprovadamente segura, as outras 70 milhões de doses serão compradas, com previsão de entrega entre março e maio de 2021.

A outra parceria brasileira é entre o Instituto Butantã e o laboratório chinês Sinovac. O acordo prevê entrega de 120 milhões de doses, em quatro remessas, até junho de 2021. A vacina começou a ser testada em 21 de julho em voluntários no Hospital da Clínicas. No total, serão 9 mil brasileiros testados em 12 centros no País.

"O lamentável alto número de óbitos e de infectados e a falta de política pública organizada colaboraram para a vacina chegar com maior antecedência no Brasil. É muito estranho, mas é o que está acontecendo", comentou Vitor Engrácia Valenti, professor da Universidade Estadual Paulista (Unesp).

Valenti acredita que o Brasil não conseguirá vacinar toda a população até o final do próximo ano. "É possível que em 2021, pensando em um número realista, entre 50% a 60% dos brasileiros possam estar vacinados. Isso coincide com a teoria da imunidade de grupo, de rebanho. Acredito que a covid-19 não será erradicada em 2021, mas o impacto será bem menos forte do que agora", disse.

No mundo, o cenário é ainda menos otimista, apesar de na terça-feira a Rússia ter anunciado uma boa notícia. O presidente Vladimir Putin disse que seu país se tornou o primeiro a aprovar a regulamentação para uma vacina contra a covid-19, após menos de dois meses de testes em humanos.

Segundo Kirill Dmitriev, CEO do Fundo Russo de Investimentos Diretos (RFPI, na sigla em russo), a Rússia já recebeu pedidos de mais de 20 países para 1 bilhão de doses do seu imunizante recém-registrado. O governo do Paraná negocia acordo com Moscou.

A corrida pela reserva das doses por países ricos pode dificultar o acesso de nações mais pobres às vacinas. Há países com reservas maiores do sua população, por exemplo, como é o caso da Inglaterra, por exemplo. "Já vimos isso em outras pandemias. É comum acontecer esse nacionalismo de vacinas. Há cerca de dez anos, com a H1N1 foi a mesma coisa. O que preocupa é que são justamente as nações menos favorecidas que mais sofrem com a falta de condições de higiene."

Deborah Suchecki, professora do Departamento de Psicobiologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), compara essa pressa por estocar as doses com o que se viu no início da pandemia. "As pessoas correram aos supermercados para guardar mantimentos. É um comportamento normal do ser humano, da espécie animal. As especulações de perigo, a ameaça da vida, faz existir essa luta para garantir a sobrevivência primeiro para si e para quem está próximo", disse.

A Organização Mundial da Saúde em parceria com outras entidades trabalha para conseguir um acesso igualitário e amplo às doses de vacinas do novo coronavírus. A meta é arrecadar US$ 18 bilhões em doações para garantir 2 bilhões de doses até o final de 2021 para serem distribuídas a nações de baixa e média renda.

A população mundial atual é de cerca de 7,8 bilhões de habitantes. "Chegar em 4 bilhões de pessoas imunizadas em 2021 seria satisfatório, mas é difícil. Não digo impossível porque em janeiro acharia impossível existir uma vacina até o final do ano", encerrou Valenti. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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