USP desenvolve teste que identifica vírus da zika com maior precisão

USP desenvolve teste que identifica vírus da zika com maior precisão

© iStock (Foto ilustrativa)

Brasil ZIKA-VÍRUS 16/10/19 POR Folhapress

SÃO CARLOS, SP (FOLHAPRESS) - Um novo teste desenvolvido por pesquisadores da USP consegue identificar a infecção pelo vírus da zika com precisão sem precedentes, o que deve facilitar o trabalho de médicos e autoridades de saúde pública que ainda tentam entender os riscos trazidos pela doença.

PUB

"Até hoje, o maior problema para chegar a esse tipo de teste era a grande semelhança entre as proteínas do vírus da zika e as da dengue. Era muito difícil separar um do outro", explica o virologista Edison Luiz Durigon, pesquisador do ICB-USP (Instituto de Ciências Biomédicas da universidade) e um dos responsáveis pelo trabalho.

Para contornar o problema, a equipe conseguiu identificar um pedaço de uma das moléculas virais, a chamada NS1 (sigla de "proteína não estrutural 1"), que é suficientemente diferente de um vírus para o outro. Graças à escolha desse alvo, o teste tem tanto especificidade quanto sensibilidade de 92%. A especificidade de testes anteriores era de 75%.

Isso significa que o novo exame raramente produz falsos positivos (ou seja, não identifica a presença de outro vírus como sendo o da zika) e falsos negativos (isto é, não "deixa passar" o vírus da zika como se fosse outro causador de doenças).

O trabalho levou ao depósito de uma patente (ou seja, uma invenção, com direitos de propriedade intelectual garantidos) e ao licenciamento do teste para produção comercial pela empresa AdvaGen Biotech, de Itu (SP).

A comercialização dos kits com 96 testes cada um já foi aprovada pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). Os pesquisadores calculam que o custo por pessoa fique em torno de R$ 30, o que viabilizaria o uso em grande escala no SUS.

Para obter a aprovação, o teste foi validado com mais de 3.000 mulheres – elas, com efeito, são o principal "público-alvo" da tecnologia, já que os efeitos mais graves da zika registrados até agora são a microcefalia (tamanho da cabeça e do cérebro menor que o normal) e outras anomalias severas no sistema nervoso de recém-nascidos cujas mães foram infectadas pelo vírus.

Tudo indica que o patógeno destrói as células que dão origem aos neurônios durante a gestação na mãe infectada, o que explica os problemas neurológicos nas crianças. "Se uma gestante chega a um pronto-socorro com sintomas que lembram os da zika e faz esse teste, um resultado negativo já seria suficiente para deixá-la mais despreocupada", afirma Durigon.

Outra aplicação relevante da abordagem é no acompanhamento de populações como a do Nordeste, nas quais boa parte da população já foi infectada com um ou mesmo vários subtipos da dengue e que, portanto, oferece mais dificuldade na hora de determinar quem pegou zika pela primeira vez, já que os sintomas são bastante parecidos com os da dengue.

"Para um trabalho como esse, não existe nada que seja comparável em outros lugares do mundo", diz Luís Carlos de Souza Ferreira, diretor do ICB e membro da equipe de desenvolvimento do teste.

Assim como diversos outros testes do gênero, o sistema desenvolvido pelos pesquisadores depende de uma série de reações envolvendo anticorpos, moléculas produzidas pelo organismo como arma contra invasores.

Em pequenas cavidades de uma placa fica o fragmento de molécula específico do zika. Em seguida, os pesquisadores colocam amostras sanguíneas do paciente. Caso a pessoa tenha tido contato com o vírus zika, seu organismo terá produzido anticorpos contra ele, e esses anticorpos vão se ligar ao pedaço de molécula do vírus de modo específico.

No passo seguinte, a placa recebe anticorpos contra o primeiro anticorpo – sim, é estranho, mas isso existe. O importante nesse caso é que o segundo anticorpo se liga de forma específica ao primeiro, e a ele está acoplado uma enzima – grosso modo, uma tesoura molecular.

Finalmente, acrescenta-se uma última molécula, projetada para ser cortada pela enzima. Nessa reação, o conjunto muda de cor – caso, é claro, haja anticorpos contra o vírus no sangue.

Se esses anticorpos não estiverem ali, as várias lavagens da placa vão carregar todas as moléculas embora. O processo todo dura dez ou quinze minutos e pode ser totalmente automatizado.

A tendência é que os especialistas passem a entender melhor a dinâmica de espalhamento da zika entre a população. Há boas pistas de que a primeira onda da doença no país infectou milhões de pessoas, em tese deixando-as imunes à doença. "Isso pode inclusive ajudar a decidir se vale a pena investir numa vacina", diz Durigon.

A pesquisa contou com financiamento da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo).

PARTILHE ESTA NOTÍCIA

RECOMENDADOS

mundo EUA Há 15 Horas

Mãe pede e filma filho se despedindo do pai momentos antes de matá-lo

brasil Rio Grande do Sul Há 8 Horas

Inmet emite alertas de grande perigo para RS e regiões Sudeste, Centro-Oeste e Sul

justica Goiânia Há 16 Horas

Mãe admite ter retirado sonda de alimentação e oxigênio do filho pequeno

mundo Olivier Masurel Há 14 Horas

Acidente aéreo: campeão de voo acrobático morre após colisão com abutre

mundo Guerra Há 13 Horas

Ucrânia detém agentes russos que preparavam assassinato de Zelensky

mundo Bioparc Há 7 Horas

Dor da perda: chimpanzé carrega o corpo da sua cria ao colo há meses

brasil CHUVA-RS Há 15 Horas

Porto Alegre esvazia bairros após falha em sistema de escoamento, e número de desabrigados dobra no RS

brasil CHUVA-RS Há 16 Horas

Se não é todo mundo aqui, ia ter corpo boiando, diz voluntário de resgates no RS

fama MET Gala Há 17 Horas

Veja os looks dos famosos no tapete vermelho do Met Gala, em Nova York

esporte França Há 14 Horas

Kylian Mbappé aceita desafio e promete correr contra Usain Bolt