66% das mutações que causam câncer ocorrem por "falta de sorte"

Coordenado por Cristian Tomasetti, da Universidade Johns Hopkins (EUA), o estudo está na edição desta semana da revista especializada "Science"

© iStock

Lifestyle PESQUISA 24/03/17 POR Folhapress

A maioria das mutações no DNA que acabam levando ao câncer não são resultado de uma vida pouco saudável ou de genes defeituosos legados por pais e avós, mas de pura falta de sorte. A conclusão pode parecer fatalista, mas foi formulada a partir de dados sólidos sobre a incidência de 17 tipos de tumores em 69 países e dá mais peso a análises que já tinham chegado ao mesmo resultado com base em registros americanos.

PUB

Leia também: 15 boas razões para os homens fazerem mais musculação

Coordenado por Cristian Tomasetti, da Universidade Johns Hopkins (EUA), o estudo está na edição desta semana da revista especializada "Science". Tomasetti e seus colegas Lu Li e Bert Vogelstein usaram métodos estatísticos e análises genômicas para tentar estimar com mais precisão o papel relativo das três grandes variáveis associadas ao surgimento do câncer, designadas em inglês pelas letras E (de "environment", ou ambiente), H (hereditariedade) e R (replicação errada do DNA por motivos randômicos ou aleatórios -a tal má sorte).

As letras E e H são facílimas de entender, obviamente. Fumar feito uma chaminé, ingerir grandes quantidades de álcool, ser obeso, ficar exposto a doses elevadas de radiação -esses e outros fatores de risco multiplicam o risco de alterações indesejáveis no DNA de qualquer pessoa, e tais mutações, se afetarem genes que controlam a correta multiplicação celular, podem desencadear o surgimento de tumores, que não passam de um conjunto de células que se pôs a proliferar rapidamente e de forma destrambelhada.

Quanto à letra H, sabe-se há décadas que os descendentes de certas famílias correm risco aumentado de desenvolver câncer por conta de mutações que afetaram o genoma de um ancestral e foram sendo transmitidas para seus rebentos -nenhum mistério aí.

Falta o R, e a questão apontada pelo grupo dos EUA é a seguinte: embora o organismo humano seja uma máquina biológica fantástica, ele não é perfeito. Toda vez que uma célula se divide, dando origem a duas células-filhas, ela precisa produzir uma nova cópia de todo o seu DNA. "Esse processo não é 100% eficiente, apesar de ficar muito próximo disso", explica Emmanuel Dias-Neto, pesquisador do A.C. Camargo Cancer Center, em São Paulo, e um dos maiores especialistas em genômica do câncer no Brasil.

As pequenas ineficiências do procedimento acabam levando a errinhos de cópia nas "letras" químicas do genoma. Estima-se, por exemplo, que uma célula-tronco humana acabe sofrendo, em média, três mutações toda vez que se divide (células-tronco são as responsáveis por dar origem à diversidade celular de um órgão ou tecido, como as diferentes células que compõem o sangue ou o cérebro).

Três mutações são quase nada perto dos 3 bilhões de pares de "letras" do DNA -mas, em raros casos, elas afetam justamente os delicados genes associados à proliferação celular. E eis que surge o câncer.

CAUSAS NA BALANÇA

A questão, conforme mostram os dados recolhidos pelos autores do estudo em países de todos os continentes, é que existe uma correlação muito forte entre a incidência de tumores e o número de divisões celulares pelas quais as células-tronco passam ao longo da vida de uma pessoa.

Trocando em miúdos: se as células-tronco de um órgão se dividem muito, a chance de aparecer uma mutação que desencadeie um tumor ali também é bem mais alta. Estatisticamente, essa correlação é expressa pelo número 0,8 -o que significa que ela não acontece sempre (se fosse assim, o número seria 1), mas é muito comum.

"Já os tecidos com pouca divisão de células-tronco teriam a tendência a apresentar mutações mais relacionadas a fatores ambientais ou hereditários", aponta Dias-Neto.

Tumores como os adenocarcinomas de pulmão, típicos de pacientes fumantes, correspondem ao segundo caso, enquanto muitos tumores de próstata, por exemplo, encaixam-se no primeiro, com mutações oncogênicas (desencadeadoras de tumores) derivadas de erros aleatórios de cópia do DNA.

Ao investigar em mais detalhes uma base de dados considerada de alta qualidade, a da Cancer Research UK (órgão britânico de pesquisa sobre câncer), os pesquisadores estimaram que nada menos que 66% das mutações ligadas à doença estariam ligadas ao fator R -o proverbial azar mesmo.

SENTA E ESPERA?

Engana-se, porém, quem acha que tal conclusão é uma senha para ficar sentado esperando a morte chegar.

"Esse trabalho, na verdade, vem tentar reparar o estrago feito por um artigo anterior do Bert Vogelstein, que foi muito mal interpretado porque as pessoas acharam que câncer é algo inevitável e medidas de prevenção não servem para nada", diz Dias-Neto.

A nova pesquisa ressalta que, embora a maioria das mutações pareça derivar do fator R, é comum que elas, sozinhas, não sejam suficientes para desencadear o câncer. Frequentemente, é necessário que duas ou mais mutações ocorram juntas para "desencaminhar" uma célula. Se uma dessas mutações for R, enquanto a outra é do tipo E, isso significa que ainda dá para prevenir aquele tipo de tumor.

De quebra, lembram os pesquisadores, mesmo quando apenas as mutações R são suficientes para produzir um tumor, o esforço de detectar e tratar o problema precocemente ajuda muito a aumentar as chances de sobrevivência dos pacientes.

"Com o avanço de várias frentes, o câncer vai se tornando uma doença crônica, tratável e controlável", afirma Dias-Neto.

Não é inconcebível, além disso, que as próprias mutações aleatórias sejam minimizadas no futuro, talvez por meio de terapias antioxidantes, que removeriam do organismo os radicais livres (átomos e moléculas com alta capacidade de induzir alterações químicas) que são um subproduto da respiração e parecem estar por trás de muitas das alterações no DNA. Com informações da Folhapress. 

Leia também: 20 hábitos arruínam a saúde do seu coração

PARTILHE ESTA NOTÍCIA

RECOMENDADOS

fama Vídeo Há 12 Horas

Influenciadora digital agride mulher na rua em MG; veja vídeo

mundo Coreia do Norte Há 14 Horas

Coreia do Norte confirma míssil e promete reforçar "força nuclear"

fama Sean Diddy Combs Há 14 Horas

Imagens de videovigilância mostram rapper agredindo a ex-namorada

brasil CHUVA-RS Há 10 Horas

Submersa há 15 dias, cidade mais afetada do RS reabre casas a conta gotas

justica São Paulo Há 14 Horas

Professora e os dois filhos são mortos em SP; PM é suspeito

brasil Vídeo Há 13 Horas

Menino de 6 anos é salvo de apartamento em chamas no Rio Grande do Sul; veja vídeo

lifestyle Signos Há 15 Horas

Os cinco signos mais estranhos do zodíaco. Conhece alguém da lista?

mundo EUA Há 15 Horas

Motorista de 23 anos morre após ser atingida na cabeça por pedra nos EUA

brasil sul do brasil Há 14 Horas

Nova frente fria avança no Sul, e Inmet coloca parte do RS, Santa Catarina e Paraná em alerta

justica Pridão Há 13 Horas

Casal de influencers é preso por suspeita de movimentar R$ 20 milhões ilegalmente em jogo