Nascida nos EUA, patinadora do Brasil rebate críticas à nacionalidade

Isadora Williams conseguiu melhor resultado do país na modalidade em Jogos de Inverno. A atleta falou com exclusividade com o Notícias ao Minuto Brasil

© REUTERS / John Sibley

Esporte Entrevista 08/03/18 POR Raphael de Oliveira

O artigo 12 da Constituicão brasileira é claro: (também) “são brasileiros: os nascidos no estrangeiro de pai brasileiro ou de mãe brasileira, desde que sejam registrados em repartição brasileira competente”. E é nele que Isadora Williams se baseia para defender sua nacionalidade.

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 “Eu li alguns comentários de que não sou brasileira e não falo português. Eu tenho dupla cidadania. Sou americana e brasileira porque sou filha de brasileira”, diz a atleta.

Com 22 anos, a patinadora, BRASILEIRA, é a primeira da América Latina a conseguir uma classificação para uma final olímpica na modalidade. A jovem conseguiu algo quase impossível para um país tropical: ser destaque nos Jogos de Inverno.

“Eu faço parte do grupo das 24 melhores atletas da patinação artística do mundo. Eu sou uma atleta olímpica por duas vezes”, afirma com orgulho.

Representando a bandeira brasileira em PyeongChang, na Coreia do Sul, Isadora quase igualou o feito de Isabel Clark como melhor colocada nos ‘jogos do gelo’, mas a décima segunda posição não é menos importante que o nono lugar de Clark, do snowboard.

Em entrevista por email ao Notícias ao Minuto Brasil, Williams contou um pouco sobre sua rotina, como concilia estudos e treinos e também sobre cinema. Quem duvida de seu português, engana-se. Salvo os acentos, que são inexistentes em um computador dos Estados Unidos, Isadora nos respondeu em bom português. 

“Aos que não conhecem a minha história e fazem comentários maldosos, saibam que isso realmente não me afeta em nada, não diminui ou acrescenta nada. Efeito nulo. Eu cresci comendo comida brasileira, adoro pão de queijo e feijão com arroz. Visito o Brasil sempre que posso”, atestou.

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Isadora conta que sua paixão é a mesma de quando começou:

“Comecei a representar o Brasil aos 12 anos. Parecia muito legal representar um país que não possui muita tradicão nos esportes de inverno. E eu ainda sinto o mesmo aos 22 anos. Acho que PyeongChang despertou nos brasileiros uma grande paixão pela patinacão.”

Notícias ao Minuto Brasil: Você prevê um fenômeno na patinação como foi o de Gustavo Kuerten no tênis, por exemplo? Ou acredita que o caminho ainda é muito grande para um país como o Brasil investir em um esporte de inverno?

Isadora: Espero que sim. A patinação é um esporte lindo, que encanta e pode ser praticado tanto como recreação, como profissionalmente. Já se fala muito mais sobre a patinação artística no Brasil, principalmente desde de Sochi 2014. A minha confederação já realizou um campeonato nacional, tem o campeonato Sul-Americano, e tenho a esperança de que um ringue com medidas profissionais seja construído no Brasil. 

NMBR: Pensou em desistir após Sochi-2014? Em algum momento imaginou o sucesso conseguido em PyeongChang?

Isadora: Eu voltei muito frustrada de Sochi. Jurei que nunca mais colocaria patins nos meus pés. Cheguei a odiar o esporte. Mas depois de 5 meses, me deu uma saudade enorme e voltei a patinar, e a partir daquele momento eu encarei o desafio que era me classificar para os jogos olímpicos em Pyeongchang 2018 e lá classificar o Brasil para as finais. Missão cumprida!

NMBR: Desde os cinco anos você patina. Em algum momento pensou em praticar outro esporte? Ou até mesmo tentou ser uma competidora de ponta em outra modalidade?

Isadora: Claro que sim. Eu tentei jogar vôlei, nadar e fiz ballet. Sem muito sucesso. Até que não era tão ruim assim, mas não sentia motivação. Eu sempre quis ser uma patinadora, coisa de paixão mesmo. Não me vejo fazendo outro esporte porque eu amo patinar e me expressar através da música.

NMBR: Como você concilia estudos e esporte? Qual sua formação? Pensa em continuar na patinação para voltar em Pequim-2022?

Isadora: Eu estudo na Universidade Estadual de Montclair, New Jersey. Faço Engenharia de Alimentos. Treino na pista de patinacão dentro do campus Floyd Hall Arena. Eu fiz uma ótima apresentação no programa curto, mas não consegui fazer o mesmo no programa longo, fui a última do grupo e a espera foi muito angustiante para mim. Vou ficar sempre com a lembrança de que consegui levar o Brasil para as finais e estou no grupo das melhores 24 patinadoras do mundo. Não quero parar de patinar. Vou dar tempo ao tempo e ver o que o destino reserva para mim ate Pequim-2022

NMBR: Qual seu balanço sobre PyeongChang?

Isadora: Foi muito positivo. Eu consegui fazer um programa limpo, sem erros, e levei o Brasil para as finais. Não fiz o programa longo, que estava preparada para fazer, eu treinei muito, mas o nervosismo me atrapalhou. Ser a última do quarto grupo foi simplesmente angustiante, mas competir numa olimpíada é assim mesmo, uma guerra de nervos.

NMBR: Recentemente foi lançado o filme 'Eu, Tonya', sobre a polêmica patinadora americana das décadas de 80/90. Conhecia sua história? Acha que esse tipo de filme pode ajudar a dar mais audiência para o esporte, visto que foi premiado e conseguiu muito destaque na mídia?

Isadora: Quem não conhece esta história? Eu não era nem nascida nessa época. É uma historia real, com um final muito triste e polêmico. Existiu e ainda existe, sim, muita rivalidade na patinacão artística, mas não a esse nível. Assisti o filme e gostei muito. Mas espero que a patinacão seja vista também por seus campeonatos, pelos novos talentos que surgem e que as pessoas sempre assistam e torçam pelos seus atletas favoritos. É isto que nos motiva muito.

O Brasil ainda é discreto nos Jogos de Inverno. Este ano, a participação foi com apenas 10 atletas, três a menos que em Sochi, na Rússia, em 2014. Mesmo sem medalhas e com equipe reduzida, o país tem a terceira maior delegação das Américas na competição, perdendo apenas para os gigantes Estados Unidos e Canadá.

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