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Eleição na pandemia tem briga sobre Doria, incerteza e velho normal em SP

A previsão inicial de ausência total de atos de rua deu espaço à flexibilização, com a manutenção de caminhadas e carreatas, só que agora com algum esforço para limitar o número de participantes e obrigar o uso de máscara

Eleição na pandemia tem briga sobre Doria, incerteza e velho normal em SP
Notícias ao Minuto Brasil

13:52 - 15/11/20 por Folhapress

Política ELEIÇÕES-SP

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Eleição? Que eleição? Até 1º de julho, quando o Congresso aprovou a mudança das eleições municipais de 2020 de outubro para novembro por causa do novo coronavírus, essa dúvida atormentava pretensos candidatos na principal cidade do país.


A mudança, é verdade, atingiria também todas as outras cidades brasileiras, mas mexia com os planos de três dos quatro postulantes que chegam agora à frente na batalha pela Prefeitura de São Paulo.


Bruno Covas (PSDB), Guilherme Boulos (PSOL) e Márcio França (PSB) estavam com suas candidaturas engatilhadas quando souberam que embarcariam em algo inédito: uma campanha eleitoral no meio de uma pandemia.


Celso Russomanno (Republicanos) estava em outro estágio: ainda cotado para vice de Covas, criava suspense sobre a chance de se lançar à terceira tentativa consecutiva de virar prefeito. Ao se anunciar como cabeça de chapa, no limite do prazo, em 16 de setembro, a máscara já era item incorporado à rotina de todos.


E o que se prenunciava como uma campanha inteiramente atípica, na forma e no conteúdo, virou aos poucos adaptação às novas regras sanitárias e desembocou em práticas nem tão novas assim.


A previsão inicial de ausência total de atos de rua deu espaço à flexibilização, com a manutenção de caminhadas e carreatas, só que agora com algum esforço para limitar o número de participantes e obrigar o uso de máscara.


Ficou só na intenção, em muitos casos, a tentativa de impor distância mínima entre as pessoas. E com isso veio o repeteco das clássicas cenas de campanha: abraço, selfie, aperto de mão, criança no colo.


Com variações, foi o que se viu no dia a dia dos 13 candidatos que poderão ser escolhidos pelos moradores de São Paulo neste domingo (15).


A percepção de políticos experientes é de uma eleição sui generis, em que a pandemia dominou a atenção da população. A principais emissoras de TV cancelaram os debates, usados pelas campanhas para criar fatos novos na corrida, escolher oponentes e, afinal, aparecer.


Foram só dois eventos televisivos no primeiro turno, um na Band, no início da campanha, e outro na TV Cultura, na última quinta-feira (12). Outros canais alegaram impossibilidade de reunir tantos postulantes, aglomeração que, segundo eles, atravancaria os embates e aumentaria o risco de contágio.


O candidato à reeleição, Covas –32% na pesquisa Datafolha divulgada na quarta (11)– , vê uma disputa entre Boulos (16%), Russomanno (14%) e França (12%) pela outra vaga no segundo turno.


Durante a campanha, cada um traçou sua estratégia, focando mais ou menos a periferia, as igrejas, as entidades de classe ou as boas e velhas carreatas pela cidade.


A Folha analisou os 465 compromissos divulgados à imprensa pelas campanhas dos quatro candidatos mais bem posicionados desde 27 de setembro, dia que começou oficialmente a campanha, até a noite de sábado (14).


Na média, um terço das agendas anunciadas por eles aconteceu nas periferias da cidade, e 7% tiveram conotações religiosas, seja participação em missas e cultos ou encontro com sacerdotes.


O candidato com maior presença na periferia foi Boulos, que marcou 38% de seus compromissos longe das regiões centrais da cidade.


Ele tem tido dificuldade em conquistar a preferência dos eleitores mais pobres, segundo o Datafolha. A pesquisa mostra que ele, favorito entre mais jovens e mais escolarizados, tem apenas 8% entre quem ganha até dois salários mínimos e 3% entre quem tem apenas o ensino fundamental.


Essas parcelas da população escolhem Covas e Russomanno. Os dois candidatos foram os que menos estiveram na periferia, local de 28% das agendas de Covas e 27% das de Russomanno.


Dos 31 compromissos religiosos feitos pelos candidatos neste ano, 19 foram do atual prefeito, cujo vice faz parte da bancada católica da Câmara. Nenhum dos eventos religiosos de que os quatro favoritos participaram fugiram das religiões cristãs: todos os compromissos se deram em igrejas evangélicas ou católicas.


Sem grandes marcas como prefeito, Covas fez uma campanha focada em superação e na própria história, que inclui a ligação com o avô, o ex-governador Mario Covas, e a batalha que enfrenta contra um câncer no trato digestivo.


Baseada no slogan "força, foco e fé", repetido exaustivamente com um jingle grudento, a campanha do tucano escondeu seu padrinho, o governador João Doria (PSDB), e até a própria sigla, alvejada na Lava Jato.


A estratégia, até aqui, se mostrou bem sucedida, com o aumento nas intenções de voto e a queda expressiva na rejeição, mesmo em meio à artilharia pesada dos adversários contra Doria e a tentativa de desgastar o prefeito com a associação ao governador, de quem herdou o cargo.


O sucesso de Covas sugere que a onda que ajudou a eleger Jair Bolsonaro (sem partido) em 2018 perdeu força na capital, deixando candidatos extremistas para trás. Covas conseguiu chegar em situação de vantagem sendo um personagem do establishment político, com um discurso centrista e moderado.


Pesquisas mostram que prefeitos que lidaram com o coronavírus com base na ciência e não no negacionismo se beneficiaram eleitoralmente. Mesmo adversários de Covas veem acerto na aposta tucana na racionalidade, despertada pela pandemia, e não na emoção que marcou 2018.


Por outro lado, o outsider Guilherme Boulos pode ir para o segundo turno, contrariando as expectativas quanto ao líder do maior movimento sem-teto do país, com fama de radical e que responde a processo por vandalismo.


Com um candidato do PT eleitoralmente fraco como Jilmar Tatto, Boulos virou o grande nome da esquerda nesta eleição, angariando inclusive o apoio de petistas históricos, como Chico Buarque.


Com apenas 17 segundos na TV, mirou nos jovens e encontrou um nicho receptivo, sendo ativo na rede social TikTok e apostando à exaustão nos memes. Lançou jingle ao ritmo da pisadinha, variante da moda do forró, transformou o único bem declarado, um carro Celta, em piada.


Num arranjo de última hora, Celso Russomanno passou a representar o teste do bolsonarismo nas urnas, depois da avalanche vitoriosa em 2018 –seguida de perda expressiva de apoio e popularidade do presidente em dois anos.


O único vídeo gravado com Bolsonaro, de improviso no aeroporto de Congonhas, deixa transparecer que, apesar da alegada amizade de longa data entre eles, falta entrosamento.


"Nossas bandeiras são as mesmas, né? A liberdade econômica, defesa da família, não é presidente?", pergunta Russomanno e, sem script, aguarda o que vem pela frente.


Conservadorismo e combate à doutrinação em sala de aula, responde Bolsonaro. Russomanno, que tinha o bordão "vamos falar de São Paulo?", trocou propostas por bandeiras ideológicas.


Bolsonaro havia dito que ficaria fora das eleições municipais, mas viu em Russomanno uma chance de frear a vitória de Covas e, com isso, as pretensões de Doria para 2022. Já o candidato do Republicanos enxergou a chance de ancorar promessas em recursos federais (incertos, mas que vendeu como realidade).


Depois de frustrada uma união à coligação tucana e de resistir à terceira candidatura, Russomanno teve que pôr de pé sua campanha na última hora. O Republicanos foi ausente, faltou verba do fundo eleitoral e toda a estratégia coube ao marqueteiro Elsinho Mouco.


Russomanno, governista de ocasião que já apoiou Dilma Rousseff (PT) e Doria, foi obrigado a novamente fazer um giro ideológico. Adotou a cartilha do bolsonarismo, apelando a fake news e atacando Bruno-Doria e a esquerda, enquanto deixava em segundo plano o perfil conciliador do jornalista focado em direitos do consumidor.


O resultado não foi o esperado, e Russomanno derreteu nas pesquisas como em 2012 e 2016. Segundo o Datafolha, metade dos moradores de São Paulo rejeita Bolsonaro. A dúvida é se a parte que é fiel ao presidente –e abraçou Russomanno na falta de representante melhor– é suficiente para levá-lo ao segundo turno.


França testará nas urnas a força da retórica anti-Doria. O ex-governador, que ocupou a cadeira em 2018 por nove meses após a renúncia de Geraldo Alckmin (PSDB) para concorrer à Presidência, deve a Doria, indiretamente, sua presença neste pleito.


O político da Baixada Santista, que virou morador de São Paulo há cerca de um ano, decidiu tentar a prefeitura após ter derrotado na cidade o atual governador, na eleição de 2018. França, que obteve quase 1 milhão de votos a mais na capital do que o concorrente, fez da marca um mantra.


Em sua tática de associar Covas a Doria, bate de frente com políticos dos quais até outro dia era aliado. Conhecido por transitar da esquerda à direita, ele rompeu com o PSDB após ter trabalhado na articulação da candidatura do partido em 2016, personificada no empresário então neófito na política.


Agora, usa a versatilidade como um ativo, explorando a característica de negociador para se vender como um moderado, que dialoga com todos os espectros e tem experiência de gestão.


Sua campanha teve um início errático, a partir do já célebre encontro com Bolsonaro, que ele depois negou ter sido um aceno político. Ao longo da disputa, no entanto, deixou claro não ver problema em receber votos de bolsonaristas, fermentando críticas na esquerda.


Com a postura híbrida, conseguiu passar ao largo de maiores polêmicas, adotou um tom conciliador e lançou mão da ironia em vários momentos de ataque aos rivais –além de Covas, antagonizou Boulos, com quem passou boa parte do tempo em empate técnico nas pesquisas.


Na decisão que autorizou a divulgação da pesquisa Datafolha na quarta-feira (11), o juiz Afonso Celso da Silva determinou que a publicação fosse acompanhada do esclarecimento abaixo.


"A presente pesquisa se encontra impugnada na Justiça Eleitoral em virtude da alegada ausência, em seus resultados, da consideração do nível econômico dos entrevistados, bem como pela divisão do grau de instrução destes, no plano amostral, ter sido em duas categorias (nível fundamental e médio - 67%; nível superior -33%)."

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