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'A ficha dessa gente não cai', diz economista sobre PMDB

Na opinião de Eduardo Giannetti, partido mostrou que não entende as mudanças em curso no país

'A ficha dessa gente não cai', diz 
economista sobre PMDB
Notícias ao Minuto Brasil

09:22 - 27/11/16 por Estadao Conteudo

Economia Economia Brasileira

Para o economista Eduardo Giannetti, o balanço da semana que passou é desastroso. O PMDB mostrou que não entende as mudanças em curso no Brasil. "Depois de tudo que se investigou e se apurou no Mensalão e na Lava Jato, a cúpula do PMDB insiste nas mesmas práticas patrimonialistas, de confusão entre público e privado, como se sentisse eternamente imune à igualdade perante a lei", disse. O mais grave, na sua avaliação, é que a nova crise institucional coloca em risco a recuperação da economia. "O quadro, que já era frágil, piora".

E tudo isso com um agravante: pode acirrar a indignação popular e levar as pessoas às ruas. "Manifestações são os fenômenos sociais mais caprichosos e difíceis de serem previstos." Para Giannetti, até os avanços na negociação entre União e Estados para resolver a crise fiscal precisam ser vistos com parcimônia: "Era fundamental que a União garantisse contrapartidas dos Estados, mas a negociação não resolve um problema de fundo: o federalismo truncado".

A seguir, os principais trechos da entrevista que ele concedeu ao jornal O Estado de S. Paulo.

Um ministro, que pediu exoneração, faz denúncias sérias que levam à queda de outro ministro e levantam dúvidas de que o próprio presidente de República participou de tráfico de influência. Qual o impacto sobre a economia dessa reviravolta na cena política?

Algum efeito sobre a economia terá. O quadro, que já era frágil, piora. Antecipa a materialização de um risco político que, pelo histórico da cúpula do PMDB, todos já conheciam e previam. Mas o que não dá para entender é como essa cúpula do PMDB, depois de tudo que se investigou e se apurou no Mensalão e na Lava Jato, insiste nas mesmas práticas patrimonialistas, de confusão entre público e privado, como se sentisse eternamente imune à igualdade perante a lei, como se o poder existisse para favorecê-los e angariar privilégios nas decisões de política pública. Como é que um ministro de Estado, no meio dessa situação tão frágil, tenta interferir numa questão pública em defesa de seu interesse pessoal? E talvez tenha feito isso até como beneplácito do presidente? Continuam agindo como se nada estivesse acontecendo. É incrível: a ficha dessa gente não cai. É especialmente preocupante que tudo isso prejudique e eventualmente possa comprometer o trabalho de uma equipe econômica da maior qualidade técnica e disposta a consertar os equívocos.

Como ficam as medidas na área econômica que o próprio governo precisa implementar? Dá para aprovar a Previdência num ambiente de baixa popularidade que se aprofunda?

É cedo para dizer se vai comprometer a estratégia da equipe econômica. Também se sabe que a reforma da Previdência é complexa em qualquer ambiente. Mas é certo que, quanto mais fragilizado estiver o governo, quanto mais depreciado estiver o seu capital político, mais difícil fica. Por isso, é preciso senso de urgência para dar início à reforma o quanto antes. A fragilização do governo Temer é questão de tempo.

Alguns têm defendido que, como a crise política interfere na recuperação econômica, o País não deveria levar a faxina ética às últimas consequências. Para o senhor, existe um limite?

As duas questões são imperativas. Não podemos esquecer que Brasil bateu num paredão: 12 milhões de pessoas hoje procuram emprego, mas não encontram, e outros 6 milhões de brasileiros estão desalentados - sequer procuram emprego. São 18 milhões sem trabalho. Temos também 60 milhões de inadimplentes. O investimento está em queda há dez semestres. Muitas empresas estão numa situação periclitante. E ainda temos mais de 3 mil obras paralisadas só no âmbito federal. E a recuperação da economia brasileira em 2017 ainda é muito nebulosa. O agravamento desse quadro vai nos levar para uma crise social de proporções imprevisíveis. Há urgência em estancar a crise. Mas tão preponderante quanto sair da recessão é manter a investigação da Lava Lato. Precisamos descobrir uma maneira de separar essas duas coisas. As duas coisas precisam ser feitas. Não podemos admitir o uso do imperativo econômico para aprovar medidas que atenuem a punição dos que cometeram delitos com recursos públicos e com o financiamento de campanha.

Houve também manobras para anistiar políticos envolvidos nas denúncias de caixa 2 de campanha...

Sou radicalmente contrário à anistia para o caixa 2. Se insistirem nisso, vão provocar a reação popular. Salta aos olhos a questão da Justiça. Na Lava Jato, a gente vê os empreiteiros presos, os operadores presos, os diretores da Petrobrás presos e os políticos soltos. O fórum privilegiado dá à casta governamental brasileira a vantagem de não serem punidos e condenados. Não dá para aceitar que não se tenha nenhuma condenação de político em exercício do cargo. Já ficou claro que a Lava Jato não é perseguição ao PT. Prenderam Eduardo Cunha, Sérgio Cabral e Anthony Garotinho - mas só depois de perderem o mandato. Está faltando pegar quem está no exercício do mandato. Mas o estresse institucional é geral. A coisa está fluida. A gente precisa fazer um reordenamento das relações intragovernamentais e entre os poderes. Nas duas dimensões: vertical e horizontal. Não dá para ter um sistema em que Judiciário e Legislativo atuam em causa própria e se autoconferem salários descolados da realidade do resto dos trabalhadores. O benefício médio - veja bem, médio - dos inativos e pensionistas da União, Estados e municípios no Brasil é cinco vezes maior do que a média do brasileiro. É um sistema de castas.

O sr. mencionou que pode haver uma reação popular. Qual seria o efeito a essa altura das manifestações de rua?

Manifestações de ruas são imponderáveis. São os fenômenos sociais mais caprichosos e difíceis de serem previstos na história das nações. Eu uso a metáfora do grão de areia. Vem do estudo de alguns físicos. Você solta um grão sobre uma torre de areia. Um grãozinho. Três coisas podem ocorrer. O grãozinho para no topo e fica lá: nada acontece. O grãozinho escorrega lentamente até a base e a torre continua de pé. Mas também pode acontecer que o grão caia naquele ponto em que faz a torre desabar. Os grãozinhos estão caindo todo dia na torre da política brasileira. Tendo a crer que ainda vai cair um grão que vai fazer essa torre desabar. Aprovar uma medida para livrar os políticos das punições pelo caixa 2 vai causar tal descontentamento que pode fazer a torre vir abaixo.

A virada à direita na eleição municipal já não é o indício disso?

Os grupos de extrema direita se beneficiam da atmosfera de medo de que as coisas possam caminhar para o caos. O arranjo de poder que o Brasil tinha desde a redemocratização acabou. O momento é propício para manifestações surpreendentes - como a invasão da Câmara por um grupo que pedia a volta da ditadura.

A semana também foi de negociação entre União e Estados. Ao menos nesse terreno o sr. viu avanços?

Era fundamental que a União garantisse contrapartidas dos Estados. Mas a PEC de gasto dos Estados, o congelamento de salários e a contribuição maior para a Previdência, apesar de medidas fundamentais, não resolvem o problema de fundo.

Que problema de fundo?

O que eu chamo de federalismo truncado. Em 1988, a Constituição optou pelo Estado Federativo. Ou seja, fomos do Estado centralizado na União, modelo dos militares, para o Estado descentralizado, onde atribuições foram transferidas para Estados e municípios. Mas houve um erro grave no desenho: obrigações foram descentralizadas - educação, saúde, saneamento. Mas a autoridade para tributar continuou concentrada no governo central. É preciso rever esse modelo para deter a crise fiscal. (Alexa Salomão) As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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