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Governo Bolsonaro faz chamada em ministérios e estatais para engrossar 7 de Setembro

Um ofício assinado pelo secretário especial de Comunicação, André de Sousa Costa, foi enviado no dia 22 de agosto para toda a Esplanada.

Governo Bolsonaro faz chamada em ministérios e estatais para engrossar 7 de Setembro
Notícias ao Minuto Brasil

16:00 - 03/09/22 por Folhapress

Política SETE-SETEMBRO

LUCAS MARCHESINI E RANIER BRAGON
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - O governo Jair Bolsonaro (PL) distribuiu a ministérios e estatais, como a Caixa Econômica Federal, lotes de ingressos para que servidores compareçam ao desfile militar de 7 de Setembro, na Esplanada dos Ministérios.


Um ofício assinado pelo secretário especial de Comunicação, André de Sousa Costa, foi enviado no dia 22 de agosto para toda a Esplanada. No total, 22 ministérios e órgãos receberam o documento, que disponibilizou uma planilha para que os servidores interessados preenchessem os seus nomes e o de pessoas que quisessem convidar.


"A procura por informações relativas aos convites para o desfile cívico-militar em comemoração aos 200 anos da Independência do Brasil tem sido muito alta, demandando alguns esclarecimentos em relação à disponibilização de vagas para servidores interessados em participar", justifica o texto, replicado internamente pelos ministérios e estatais a seus respectivos servidores.


O desfile de 7 de Setembro deste ano está cercado de expectativas após Bolsonaro ter usado a data no ano passado para insuflar atos golpistas. Com o cenário eleitoral, o presidente também tem feito chamamentos para apoiadores irem às ruas em seu apoio no feriado – e fala ainda em dar uma resposta aos manifestos pró-democracia de 11 de agosto.
O último desfile cívico-militar do 7 de Setembro ocorreu em 2019. Nos dois anos seguintes, o evento não foi realizado em detrimento à pandemia da Covid-19, e no ano passado Bolsonaro impulsionou manifestações em Brasília e em São Paulo.


Em ambos os eventos, o presidente atacou membros do STF (Supremo Tribunal Federal) e, em São Paulo, chegou a dizer que desobedeceria decisões da corte. Nos dias seguintes, ele recuou e assinou uma carta articulada pelo ex-presidente Michel Temer (MDB) para tentar distender os ânimos.


"Nós devemos sim, porque eu falo em nome de vocês, determinar que todos os presos políticos sejam postos em liberdade. Dizer a vocês que qualquer decisão do senhor Alexandre de Moraes [ministro do STF] esse presidente não mais cumprirá. A paciência do nosso povo já se esgotou", afirmou Bolsonaro na ocasião, em ato na avenida Paulista.
Neste ano, Bolsonaro e seus aliados também promoverão diversas manifestações a menos de um mês das eleições. Além do evento em Brasília, que ocorrerá pela manhã, o presidente deverá ir ao Rio de Janeiro na parte da tarde.


No ofício distribuído, a Secom e outros ministérios indicam que o número de vagas inicialmente disponibilizado aos servidores e convidados estava limitado a 400 por pasta, com possibilidade de ampliação.


Os ofícios disparados informaram também que cada servidor poderia convidar até dez pessoas para acompanhar o desfile.
A reportagem questionou desde a semana passada a secretaria e vários ministérios, mas não obteve resposta sobre o número final de ingressos direcionados, qual teria sido a demanda, a justificativa e precedentes.


A estrutura do desfile é dividida em três áreas: arquibancadas de acesso restrito e arquibancadas livres. As tribunas são tradicionalmente reservadas para a Presidência da República, Itamaraty, Ministério da Defesa e convidados especiais. É nesse setor que ficará o presidente Bolsonaro.


As arquibancadas de acesso restrito são as mais próximas da tribuna e é nesse setor que serão alocados os servidores e seus convidados.
A Caixa afirmou que "recebeu esses convites para o desfile cívico-militar" alusivo ao Dia da Independência do Brasil "como acontece tradicionalmente todos os anos" e que "enviou mensagem interna disponibilizando essas vagas para quem estivesse interessado em assistir ao desfile".


Integrantes de estatais e ministérios em gestões anteriores afirmaram, sob reserva, que não havia distribuição massiva de ingressos para servidores e convidados; e que a arquibancada de acesso restrito era ocupada pelo Ministério da Defesa, pelo Governo do Distrito Federal e convidados de parlamentares.


Ministros de governos anteriores também disseram sob reserva que esse tipo de convocação massiva foge do padrão de desfiles anteriores.
No passado, servidores interessados em participar conseguiam ingressos, eventualmente, sob demanda específica.


O Banco do Brasil, por exemplo, afirmou ter recebido neste ano convite apenas para a presidência da instituição, consoante o protocolo que rege a solenidade, e "que comparecerá ao evento, assim como ocorreu no ano passado".


Em seu primeiro ano de governo, Bolsonaro interrompeu a parada militar e, num gesto de apoio público, chamou o então ministro da Justiça, Sergio Moro, e desfilou abraçado a ele pela Esplanada dos Ministérios, quebrando os protocolos do evento.


Mais adiante no governo, Moro e Bolsonaro romperam. O ex-juiz da Lava Jato e hoje candidato ao Senado pelo Paraná deixou o Ministério da Justiça acusando Bolsonaro de interferência indevida na Polícia Federal.


Além da convocação de servidores, o desfile deste ano deve ter a participação de 28 tratores especialmente convidados pelo Palácio do Planalto.


Eles foram incluídos na programação para representar o agronegócio, setor em que Bolsonaro tem forte apoio.


Segundo a programação do desfile, serão mais de 5.700 pessoas desfilando a pé, em viaturas ou a cavalo.


São integrantes das Forças Armadas, além de policiais federais, rodoviários federais, bombeiros, veteranos e estudantes de escolas públicas do Distrito Federal, entre outros.


Tradicionalmente não há discurso de autoridades no desfile de 7 de Setembro. Mas, como há a previsão de manifestações em apoio a Bolsonaro na sequência, a expectativa entre aliados é a de que o presidente fale em um carro de som em Brasília antes de viajar ao Rio de Janeiro.


No Rio, Bolsonaro deve participar de um ato com apoiadores em Copacabana. O presidente mobilizou militares para haver demonstrações com aviões da FAB (Força Aérea Brasileira) e com navios da Marinha durante as manifestações.

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