‘Há coisas que quero expressar fora do cinema’, diz David Cronenberg
Cineasta canadense falou sobre sua relação com a literatura durante evento em Lisboa
© REUTERS/Eric Gaillard
Cultura Festival
O diretor David Cronenberg conversou sobre o processo de criação de filmes a partir de obras literárias e revelou relação íntima com a escrita em uma masterclass realizada na noite desta segunda-feira (20) durante o Lisbon & Sintra Film Festival, em Lisboa.
Formado em Literatura, o cineasta canadense revelou ter imaginado desde a infância seguir carreira na área. “Meu pai era escritor. Eu costumava dormir com o som das teclas da máquina de escrever”, relembra. O diretor chegou a ter um livro de contos publicado na juventude e, em 2014, lançou ‘Consumidos’, romance aclamado pela crítica.
A obra, que levou oito anos para ser escrita e foi pensada inicialmente como o roteiro de ul filme, conta a história de um casal de jornalistas que cai numa conspiração global envolvendo sexo e morte em meio a buscas por reportagens sensacionalistas. Para o diretor, a literatura permite uma espécie de auto-descoberta. “Gosto da complexidade do diálogo interno que a escrita permita. Ela se conecta ao seu próprio passado e a coisas que você já leu.”
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Ao longo de sua trajetória, Cronenberg se manteve próximo à prática literária por ser roteirista de boa parte de seus filmes. “Uma das coisas que me surpreendeu [ao escrever um romance] foi a diferença em relação à escrita de roteiros. No fim, o que importa no roteiro são os diálogos… Não é preciso detalhar muito as características físicas de um personagem, pois você pode acabar escolhendo um ator completamente diferente para o papel”, explica.
Escrever um romance é algo mais próximo de dirigir um filme porque o escritor é responsável pela escolha de elenco, de locações, da edição. Em alguma medida, a literatura é uma forma de arte superior ao cinema”No mesmo ano de lançamento de ‘Consumidos’, Cronenberg lançou seu filme longa-metragem mais recente, ‘Mapas para as Estrelas’. O diretor mantém mistério sobre planos futuros. “Sinto que encerrei um ciclo. Há coisas que quero expressar fora do cinema”, afirma.
Ao comentar sobre o processo de criação de filmes como ‘Mistérios e Paixões’ (1991), ‘Crash’ (1996) e ‘Spider’ (2002), todos adaptações de livros, o cineasta destacou a necessidade de não tentar reproduzir a obra literária no cinema. “É impossível adaptar um livro para a tela. Você precisa recriar, destruir o livro para ser fiel à obra”.
O debate com David Cronenberg foi mediado pelo professor Donato Santeramo e pelo produtor Paulo Branco. O diretor canadense preside o júri da mostra competitiva desta edição do Lisbon & Sintra Film Festival.