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Resultados maquiam a nuvem negra da natação, diz Cielo

Nadador se diz preocupado com a falta de recursos para fazer a preparação para o campeonato

Resultados maquiam a nuvem negra da natação, diz Cielo
Notícias ao Minuto Brasil

11:36 - 21/05/17 por Notícias Ao Minuto

Esporte Natação

Após a decepção de não ir aos Jogos Olímpicos do Rio, Cesar Cielo, 30, retornou às piscinas no início do mês no Troféu Maria Lenk, no Rio.

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Apesar do hiato competitivo de um ano, obteve vaga para nadar os 50 m livre e o revezamento 4 x 100 m livre no Mundial de Budapeste, em julho. Em meio ao regresso, Cielo acusa sentimento ambivalente. Empolgado com a convocação, também se diz preocupado com a falta de recursos para fazer a preparação para o campeonato.

A CBDA (Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos) teve quatro dirigentes cúpula presos em abril pela Polícia Federal, por desvio de verbas, perdeu ou teve corte de patrocínios e não deve enviar os 16 atletas convocados para se preparar em torneios no exterior, o que era praxe.

A entidade terá eleição presidencial no início de junho.

Nesta entrevista exclusiva, ele também fala sobre chance de medalha, o período de baixa e a "nuvem negra" que ainda paira sobre a natação.

*

Pergunta - Você decidiu voltar a competir em meio à maior crise do esporte aquático nacional. Como você avalia o retorno diante deste cenário?

Cesar Cielo - Estava nervoso e ansioso por voltar. Antes da prova dos 50 m livre [no Troféu Maria Lenk], eu tinha vontade de ir bem com muita gente me olhando. Eu estava expondo minha carreira mais uma vez. Mais do que para as outras pessoas, era importante para mim provar que 2015 e 2016 [quando ficou fora dos Jogos Olímpicos do Rio] foram um ponto fora da curva.

- O Troféu Maria Lenk mostrou bons resultados. Ajuda a retomar a reputação da natação?

Para a natação foi bom. Depois de tudo o que aconteceu, a gente ter resultados na piscina é importante. Mas, sinceramente, maquiou um pouco a nuvem negra, que ainda está aí. Nós não temos dinheiro para disputar nenhuma competição antes do Mundial, por exemplo. Então, por uma semana mostramos que a natação está bem e isso nos deu esperança, mas a realidade é que o país não está nada bem.

- O quanto isso pode afetar a preparação para Budapeste?

A natação, em especial, está sem dinheiro e aparecem coisas novas a todo momento a um mês da eleição [para a presidência da CBDA]. A comunidade aquática tem incertezas, apesar de eu ter certeza de que podemos trazer muitas medalhas do Mundial. Mas não se sabe como será a aclimatação, se vamos a torneios de preparação e o que acontecerá após o Mundial. Acho que a incerteza é a de não ter uma liderança tomando conta disso. Nunca teve a longo prazo, e agora menos ainda.

- O quanto não saber como será a preparação pode afetar o desempenho no evento?

Faz falta. O principal objetivo do treinamento é a competição, é nadar o mais rápido possível. O fato de a gente acordar às 5h30 e passar meses se privando de alguma alimentação é só por aqueles 21s da competição. Vamos tentar fazer tomadas de tempo no Pinheiros ou outros lugares, mas uma competição organizada como preparatório final vai fazer falta. O teste acaba sendo só o Mundial mesmo. Vamos ver o que acontece só na cara do gol. Já fizemos dessa forma antes e deu certo.

- Mas não é o ideal.

Não é o ideal. Ainda vou buscar patrocínios [para competir no exterior] e ver se conseguimos algumas ações independentes. Se conseguir, é bônus, vamos ficar muito felizes. Eu já entrei em contato com algumas empresas que podem nos ajudar. Da mesma forma que conseguimos resultados dentro da piscina, precisamos mostrar que conseguimos nos virar fora, para não ficar tão dependente do sistema. Se der um problema, está todo mundo no fundo do poço e não há o que fazer.

- Você foi um dos atletas olímpicos mais bem-sucedidos financeiramente no país. Como está a situação atualmente?

Está difícil. Nesses próximos dois anos o sustento vai ser o clube e a marca esportiva. Enquanto não se definir o que a CBDA vai fazer e qual o futuro, vai ser assim. Eu imagino que os Correios não vão repassar mais recursos como antes. Eles tinham alguns patrocínios individuais [Cielo também recebia apoio], mas eu não conto mais com isso [é patrocinado pela Unimed].

Eu tenho trabalhado mais com ajudas: marca de suplemento que dá linha de produtos; clínica que uso de todas as formas possíveis. A gente está trabalhando dessa forma. Não é o ideal, mas força a aprender a se virar e não ficar escravo do sistema. É importante que o esportista brasileiro entenda que vai ganhar dinheiro para investir na carreira e ir atrás do sonho, e não fazer um pé de meia. É preciso mudar a mentalidade.

- Você acha possível resgatar aquele Cielo campeão olímpico e mundial de anos atrás?

Difícil responder assim. O principal objetivo desse ano era manter a evolução, e nadei os 50 m livre para 21s79 no Maria Lenk. Eu gostaria de obter uma marca melhor antes do Mundial, e lá fazer um tempo ainda menor. O que mais me agrada é o desafio da competição, mas tecnicamente eu me sinto um milhão por cento melhor hoje. Quando era jovem, acabava sendo meio inconsequente e isso é bom, porque você encara os medos. Hoje, sou mais cauteloso e tento estudar a situação.

- Você sempre foi conhecido pela exigência, mas ela não pode ter prejudicado e feito você perder os Jogos do Rio?

Sempre busquei coisas novas. Mentalmente, eu já estava em uma briga interna porque não tinha aquela coisa de buscar um pouco mais, o que sempre tive. Em 2015, não conseguia achar motivação para treinar, e isso foi complicado. Eu liguei o modo automático e falei que ia deixar rolar.

Não dava para viver com aquele nível de exigência, caso contrário minha família ia me pôr para fora de casa. Deixei rolar, mas não funciono dessa forma. Meu diferencial sempre foi saber controlar a exigência e usá-la como fogo no dia a dia. É o que tenho feito agora. Ser briguento foi o que me salvou, no final das contas. Se eu brigava, era porque eu precisava mudar alguma coisa. Não podia deixar nunca de ter essa busca interna por algo melhor.

- Você hoje acha que está mais equilibrada essa questão?

Acho que sim. Estou tentando levar mais na boa. As pessoas estão com essa sensação. Aparentemente, acho que tenho conseguido. Internamente, ainda brigo muito porque não gosto de baixar a bola, eu acho que é uma fraqueza. A minha exigência continua a mesma. Continuo maluco controlando braçada, controlando o treino todo, as coisas que faço dentro e fora da água. Estou com a expectativa de voltar a nadar como antes até o final do ano. Para esse Mundial, só pus o objetivo de cada vez tirar um pouco mais porque isso vai me colocar em uma situação interessante lá.

- Você falou em chegar à final dos 50 m livre no Mundial. É este o objetivo?

Sim, imagino ir à final.

- E brigar por medalha?

Aí eu já acho mais difícil. Não é que seja mais difícil, mas não penso nisso. Hoje o cenário mostra adversários mais rápidos. Se eu conseguir lapidar esse 21s79 que fiz no Maria Lenk entraria em uma final. O importante é entrar na final. Entrou, zera tudo, são os oito e estarei na briga. Nessa hora, tenho experiência de sobra e o cenário muda.

- A perspectiva de voltar aos melhores do mundo faz pensar nos Jogos de Tóquio-2020?

Não sei. Não estou pensando nisso. Hoje, não faz parte dos meus pensamentos. Agora meu pensamento é voltar a nadar [na casa de] 21s3, que foi o que coloquei como meta. Talvez 21s2. O objetivo é voltar a fazer os melhores tempos da minha vida até o final de 2018. Se a gente chegar nisso e enxergar que 2020 é uma possibilidade, normal. Pode ser que eu chegue ali e esteja feliz, me dê por satisfeito. Meu objetivo é obter essa marca e aí pintar um cenário novo. Mas vou levar semestre por semestre. Com informações da Folhapress.

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