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'Power' tem elenco forte, mas piloto automático da era Marvel atrapalha

Rodrigo Santoro está no elenco

'Power' tem elenco forte, mas piloto automático da era Marvel atrapalha
Notícias ao Minuto Brasil

09:42 - 17/08/20 por Folhapress

Cultura CINE-CRÍTICA

FOLHAPRESS - A pandemia, sabemos todos, desmoralizou nossos super-heróis. O que esperar de seus superescudos, superforça, supertudo, se foram incapazes de detectar um mero e invisível vírus? Pior: como vai se virar o cinema para se manter no piloto automático da era Marvel & similares?

Algumas respostas: na série "Hunters", a Amazon propõe o super-heroísmo de personagens em princípio comuns, lidando com problemas e inimigos reais (Holocausto, neonazismo).

Netflix segue mais ou menos a mesma linha com "Power" (apresentado sem tradução do título). Mudar para que tudo continue igual é a divisa dos produtores.

Aqui, a adolescente Robin (Dominique Fishback) começa a traficar uma nova e espetaculosa droga, com o fim exclusivo de pagar suas contas. Tem a proteção do policial Frank (Joseph Gordon-Levitt), que consome uma nova e espetaculosa droga com o fim de melhor combater sua difusão. Um terceiro elemento envolvido na trama é o ex-militar Art (Jamie Foxx).

A trama: Nova Orleans é a cidade escolhida para testar uma nova droga, capaz de dar ao usuário um poder de super-herói (ou supervilão) durante cinco minutos. A droga ainda está em fase de testes. Tanto pode fazer o usuário quebrar a banca quanto se arrebentar.

Digamos que o roteiro se permite certas facilidades nesse setor. Assim, quando Frank toma a droga, os efeitos são sempre positivos, o que não acontece a todos. Já o ex-militar tem algo de especial: como se tivesse caído ao nascer num pote da superdroga, que nem aquele personagem de "Asterix". Deduz-se, no entanto, que se trata de algo mais grave: talvez uma questão genética, talvez uma experiência envolvendo algum laboratório militar etc.

Daí resulta algo rasteiro e outro tanto interessante. O rasteiro vem dos conselhos de Art a Robin: o sistema é feito para aniquilar os negros (como se ela não soubesse); ela que não se envolva com drogas, estude e trate de encontrar o seu real talento. A jovem trafica apenas para financiar uma caríssima operação que a mãe precisa fazer (recado do filme à América: falta um SUS por lá).

O essencial nesse movimento é que, num filme em que a ação domina de maneira convencional, embora levada agradavelmente pelos realizadores, a única coisa realmente interessante são os momentos em que as relações humanas se impõem: quando Robin abraça a mãe, por exemplo.

Momentos fugazes, mas que ajudam a equilibrar o conjunto, a romper com a sequência frenética de acontecimentos, a criar a necessidade de algum entendimento, de algum mistério nos personagens, a criar neles alguma verdade, ao menos o bastante para que o clímax possa ser seguido com algum interesse.

"Power" não evita a saturação de efeitos que tem dominado o cinema comercial americano, mas oferece uma saída para o mundo dos vivos, da gente "normal", como a lembrar que, afinal, as questões humanas costumam se resolver entre humanos, e não por forças super-heroicas. Só isso já o coloca um degrau acima dos filmes de ação habituais. O elenco forte (destaque para Dominique Fishback, surpreendente) também ajuda.

Por fim: o tema suposto do filme (a obtenção de um poder quase infinito), quase tão velho quanto a humanidade, está em outro lugar. Os superpoderes de hoje já existem, mas estão em outras partes; agem, mas quase não sentimos que agem.

POWERAvaliação: bomOnde: Disponível na NetflixClassificação: 16 anosElenco: Jamie Foxx, Dominique Fishback, Rodrigo Santoro e Joseph Gordon-LevittProdução: EUA, 2020Direção: Henry Joost e Ariel Schulman

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