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Famílias vivem em situação crítica em ocupação no Complexo do Alemão

Centenas de pessoas residem desde março deste ano, sob condições precárias de saúde e higiene, em um antigo galpão industrial abandonado. São os moradores da Nova Tuffy, uma ocupação que surgiu no Complexo do Alemão e cresceu rapidamente. Elas decidiram ir para o galpão por causa da falta de condições de pagar um aluguel. Segundo a associação dos moradores do local, já são mais de 1.800 famílias.

Famílias vivem em situação crítica em ocupação no Complexo do Alemão
Notícias ao Minuto Brasil

19:59 - 16/10/14 por Agência Brasil

Brasil Favela

Apesar das condições sub-humanas de moradia, as famílias não querem sair antes de ter uma solução definitiva que garanta moradia própria nas proximidades do Complexo do Alemão, onde a maioria nasceu e cresceu. A Justiça concedeu, no dia 31 de março, a reintegração de posse para a família dos antigos proprietários da Tuffy, indústria que produzia utensílios domésticos, mas fechou as portas há muitos anos.

As divisões com panos, que demarcavam originalmente cada lote, deram lugar a barracos em compensado, divididos por corredores estreitos, onde circulam adultos e crianças, em meio a insetos e esgoto. Os dois únicos banheiros entupiram e as famílias dependem de poucas bicas para conseguir água. Outra preocupação é com o emaranhado de fios pendurados que alimentam a rede elétrica, alguns apresentam superaquecimento, aumentando o risco de incêndio.

O presidente da Associação de Moradores da Nova Tuffy, Carlos Alberto da Conceição, disse que as famílias lutam para conquistar a casa própria. “Nós queremos uma moradia digna. Que o governo enxergue a nossa situação, com falta de água tratada, de esgoto, de eletricidade. Já tivemos até barracos que pegaram fogo. As pessoas vieram por falta de condições de pagar os aluguéis. Outras, porque não tinham moradia, viviam na rua ou com parentes. Aqui acharam uma forma de ter um pedacinho de terra delas mesmas.”

Carlos Alberto disse ainda que, apesar de o local estar praticamente lotado, ele não nega acesso a novas famílias. “A cada dia vêm pessoas pedindo um lugar para morar. Eu não tenho como negar, pois me encontrava na mesma situação, morando de aluguel, sem condições de arcar com o preço”, explicou o presidente da associação. Segundo ele, as melhorias no Complexo do Alemão, com a instalação de unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) e a construção de um teleférico, fizeram disparar o valor dos alugueis: “Antes eu pagava R$ 280, depois passou para R$ 520, em uma casa de um só quarto”.

Para o vice-presidente da associação, Roberto Souza Rocha Júnior, que foi um dos primeiros a ocupar e organizar o local, a situação só piorou. “Não tem como melhorar em um lugar desse. Nós sobrevivemos porque somos guerreiros. As coisas só vão melhorar quando tivermos a nossa casa própria. Aqui as crianças ficam doentes, não têm direito a uma área de lazer e ainda corremos o risco de incêndio, porque tem muita fiação”, disse.

A reclamação da valorização dos aluguéis na comunidade é comum entre os moradores da Tuffy. “O aluguel aqui, na comunidade, está caro, na faixa de R$ 450 a R$ 500. Nós não temos condições de pagar e, por isso, viemos para cá. Eu ganho uma base de R$ 900 e não tenho como pagar aluguel e comprar comida”, disse a técnica de enfermagem Shirlley Marcos da Silva, que mora com a mãe, a filha e duas netas.

Outras famílias foram para a ocupação para sair da situação de rua, como a pernambucana Elisângela Andrade Santana: “Fiquei cinco meses morando na rua, com meus três filhos. Aí um colega me indicou este lugar e eu vim. Já faz sete meses que estou aqui. Tenho fé em Deus que daqui nós vamos conseguir alguma coisa”, disse.

A diarista Gláucia Anacleto mora com dez netos na parte mais crítica da ocupação, o chamado porão, onde não tem nenhuma janela e o ar é difícil de respirar. O mais complicado, segundo ela, é conseguir comida para as crianças. “Para alimentar essa criançada, só a misericórdia de Deus. A gente deixa para almoçar quanto já estiver perto de jantar”.

A pensionista Neuza Monteiro, de 73 anos, também é moradora do porão. Sua casa ficava ao lado de uma bica, o que era considerado um privilégio, mas que agora está completamente seca: “Minha situação não está nada bem. Agora piorou, pois cortaram a água. Eu vim para cá porque o aluguel subiu muito e minha pensão não cobria. Era pagar o aluguel ou comer. Queria que esses políticos que estão aí olhassem mais por nós e nos dessem um lugar decente para morar”, cobrou.

Procurada, a Secretaria Estadual de Assistência Social e Direitos Humanos deu a seguinte reposta por e-mail: “Como se trata de uma invasão, quem cuida, inclusive das questões assistenciais, é o município”. A prefeitura do Rio informou que está acompanhando a situação dos moradores e aguarda a decisão da Justiça sobre a reintegração de posse. As secretarias de Habitação e Desenvolvimento Social foram oficiadas a oferecerem auxílio aos moradores, após a saída deles do local após o cumprimento da reintegração de posse. A Secretaria Estadual de Habitação, também em nota, disse que o “estado e a prefeitura estão trabalhando em um planejamento de ações a serem implementadas na Tuffy”.

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