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Aécio rejeita Tebet e diz que PSDB foi egoísta, traiu Doria e implodiu terceira via

O deputado defende que o PSDB tenha candidatura própria, mesmo que sem perspectivas de vitória

Aécio rejeita Tebet e diz que PSDB foi egoísta, traiu Doria e implodiu terceira via
Notícias ao Minuto Brasil

05:45 - 16/05/22 por Folhapress

Política Deputado

BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - Um dos principais nomes do PSDB, o deputado Aécio Neves (MG) tece duras críticas à conduta do presidente do partido, o ex-deputado Bruno Araújo (PE), no processo de construção da candidatura tucana ao Palácio do Planalto.

O parlamentar acusa Araújo de tirar protagonismo da sigla e argumenta que ele trabalha para que João Doria (SP), vencedor das prévias na legenda, não seja candidato à Presidência. Para Aécio, Araújo atua mais como "advogado" do governador de São Paulo, Rodrigo Garcia, que busca a reeleição, do que como líder nacional do PSDB.

O caminho para rifar Doria seria um acerto pelo qual o PSDB apoiaria a candidatura de Simone Tebet (MDB-MS) à Presidência. Aécio refuta esse acordo.

"O Doria sempre foi o bode que precisava ser retirado da sala para viabilizar a candidatura de Rodrigo Garcia", afirma Aécio em entrevista à Folha.

O deputado defende que o PSDB tenha candidatura própria, mesmo que sem perspectivas de vitória; e avalia que o ex-governador gaúcho Eduardo Leite (PSDB) teria sido o melhor nome para liderar a terceira via no país.

O PSDB hoje está repleto de divergências internas. Qual deve ser o caminho do PSDB, na sua avaliação?

Aécio Neves - Tudo que estamos vivendo hoje é consequência de equívocos que foram cometidos. A terceira via implodiu pelo pragmatismo de uns e pelo egoísmo do PSDB. Você não pode cobrar que um partido como o União Brasil, recém-fundado, lidere um projeto nacional. No futuro, talvez sim, mas hoje ele tem duas prioridades: recuperar a sua bancada para voltar a irrigar o duto dos financiamentos eleitorais e eleger governadores

O MDB, por outro lado, é um partido que tem uma história gloriosa, mas está em busca de uma reconciliação com seu passado. Ainda mais depois de dez anos de sociedade com o desgoverno do PT.

Mas o PSDB não. Aí é que entra a minha crítica ao que ocorreu até aqui.

Qual é a crítica?

Aécio Neves - O PSDB não se colocou à altura do papel que deveria estar desempenhando. O próprio presidente [do partido,] Bruno Araújo, optou por ser muito mais advogado dos interesses da candidatura de Rodrigo Garcia [para o Governo de São Paulo] do que presidente nacional do PSDB, um partido que poderia estar liderando a terceira via.

Diferentemente do União Brasil e do MDB, nós tivemos a oportunidade para isso. Nós tivemos a candidatura do Eduardo [Leite (PSDB-RS)], que poderia estar adiante [nas pesquisas].

Mas desde o início o objetivo foi criar as condições para que João Doria saísse do Governo de São Paulo e permitisse ao Rodrigo Garcia construir a sua candidatura. Não tenho nada contra [Garcia], a candidatura dele é bem-vinda, mas não ao custo da inviabilização do PSDB.

O Doria sempre foi o bode que precisava ser retirado da sala para viabilizar a candidatura do Rodrigo Garcia. Por isso que as prévias foram feitas completamente fora do tempo, sem que houvesse outra candidatura. O Leite só surge como candidato quatro meses depois de anunciadas as prévias.

O nome do Doria foi escolhido nas prévias em novembro, mas desde então o sr. trabalhou por Leite. Foi inclusive acusado de golpe pelos seus pares. Por que o senhor não legitimou as prévias?

Aécio Neves - Isso beira o ridículo. O golpe houve quando tentaram fraudar as prévias, incluindo eleitores não habilitados com base em recursos públicos.

Estabeleceu-se um verdadeiro mercado persa no PSDB para cooptar companheiros nossos, que acabaram dando vitória ao Doria. E muitos desses compromissos foram respaldados pelo Governo de São Paulo e pelo [então] vice-governador Rodrigo Garcia.

Tudo para tirar o Doria do incômodo lugar de governador de São Paulo. E no momento em que Doria teve um átimo de lucidez e resolveu permanecer no governo, ele foi ejetado da cadeira.

Agora, [é ruim] retirarmos uma candidatura para apoiar o MDB única e exclusivamente para justificar a saída do Doria; um partido que jamais cogitou apoiar uma candidatura do PSDB.

Eu nunca quis a candidatura do Doria, acho que será um momento trágico para o PSDB. Mas ele ganhou as prévias, não ganhou? Maculadas, tínhamos um candidato que podia estar hoje lá na frente, com outros apoios. O PSDB ignorou isso.

Quando o sr. decidiu tentar viabilizar a candidatura de Leite...

Aécio Neves - Eu já estava identificando o que está acontecendo hoje. O Doria nunca foi candidato.

Eu quero que deixar clara a minha solidariedade ao Doria porque uma coisa é você enfrentar um adversário de frente e dizer que ele não era a pessoa adequada para liderar o PSDB. Mas agora se busca uma construção, através de uma encenação burlesca, de uma pesquisa que já se sabe o resultado. Querem dizer: não pode ser o Doria porque ele tem uma alta rejeição, então tem que ser a Simone.

O Doria está conhecendo a face triste da política, que é a traição pelos seus próprios companheiros.
Folha - Por que não acredita na candidatura da Simone Tebet?

Aécio Neves - Eu vou defender sempre que o PSDB tenha candidatura própria. O preço para retirada do Doria pelos seus pretensos aliados não pode ser nos colocarem em outra incerteza. Nós não sabemos nem sequer se o MDB vai ter condições de homologar a candidatura da Simone. Simone tem todas as qualidades para ser candidata, mas rejeito um acordo com MDB agora.

O que deve ser feito com Doria e a candidatura do PSDB, na sua opinião?

Aécio Neves - Quem trouxe Mateus ao mundo que o embale. Esse não é o nome que a cúpula do PSDB quis, que nos privou de ter uma candidatura que emocionasse, empolgasse o país? Pois bem. Se querem retirar a candidatura do Doria, que não nos privem da possibilidade de nós mesmos construímos o nosso destino.

Por que crê que Leite reúne mais condições?

Aécio Neves - Porque o Doria tem 60% de rejeição. O Eduardo Leite tem um discurso novo, oxigenaria o partido mesmo que não ganhasse. Eu lamento que o Doria tenha sido escolhido, trabalhei pelo Leite. Mas o mínimo que se esperava daqueles que apoiaram o Doria era que estivessem agora tentando viabilizar a sua candidatura.

O sr. aponta Bruno Araújo e Garcia como os dois principais responsáveis por essa articulação?

Aécio Neves - Claro que há outros, mas pelo papel que ocupam [eles são os principais]. Garcia foi avalista de muitos acordos que viraram votos na bancada [durante as prévias]. E muitos que viraram deixaram o PSDB. O PSDB perdeu 10, 11 deputados, [sendo que] 80% votaram no Doria nas prévias. Resolveram suas vidas e foram apoiar outros candidatos.

Como reverter um eventual apoio à candidatura de Tebet, caso esse seja o resultado?

Aécio Neves - O presidente Bruno Araújo e a Executiva não têm autoridade para firmar nenhum compromisso de aliança. Essa responsabilidade é da convenção partidária. E na convenção vão surgir candidaturas do PSDB. Vão surgir outros nomes novos.

Quais?

Aécio Neves - Não vou antecipar. Nem que seja só para demarcar o campo. Tem deputado dizendo "eu topo ser candidato".

O sr. é contra o acordo com o MDB. Diante disso, prefere que o PSDB mantenha a candidatura de Doria ou é preciso pensar outro nome?

Aécio Neves - Não sou contra a aliança com o MDB, quero que o partido tenha liberdade, alternativas. Se a candidatura do Doria for retirada pelos seus aliados, [que a sigla] possa definir se o melhor caminho é não ter candidatura –o que não defendo–, aliar-se ao MDB ou ter candidatura própria. A minha posição é pela candidatura própria.

Na convenção, vou defender que o PSDB tenha candidatura própria. Mas não está mais nas minhas mãos, sou um derrotado nesse processo. Nós perdemos as prévias e o Leite fez muito bem, quando viu que o partido não levava em consideração a sua candidatura, de se voltar para o Rio Grande do Sul. Porque agora só quem pode eventualmente retirar a candidatura [do Doria] são aqueles que o apoiaram, que votaram nele nas prévias.

Leite ainda é uma alternativa no PSDB?

Aécio Neves - Eu acho muito difícil. Acho que o tempo passou, ele está cuidando do Rio Grande do Sul.

Ele vai ser candidato ao governo?

Aécio Neves - Eu defendo que ele tem que ser candidato a alguma coisa.

Mas dentro do PSDB quem é alternativa?

Aécio Neves - Eu não sei.

Tasso Jereissati?

Aécio Neves - [Na última reunião da Executiva], eu ouvi gente sugerindo que o nome deles [Leite e Tasso] fossem colocados nessa pesquisa. Eu nem entrei nisso porque acho que a pesquisa é uma bobagem, uma farsa. É uma forma pouco corajosa para o presidente do PSDB poder dizer que "Doria não dá mais", atender ao Garcia e preterir o interesse do PSDB.

O sr. é uma opção da terceira via no PSDB?

Aécio Neves - Não cogito isso. Eu pretendo ser candidato a deputado federal.

O sr. diz que a terceira via implodiu e que os candidatos postos têm baixa intenção de votos. Mas o mesmo poderia ocorrer com Leite...

Aécio Neves - Eu não acho. A minha opinião é que nesse momento o Eduardo Leite teria o apoio desses partidos, porque estamos falando de algo palpável. Hoje ele estaria com uma candidatura competitiva.

Entre Lula e Bolsonaro, qual deve ser a posição do PSDB?

Aécio Neves - Indicar uma candidatura própria mesmo que seja para perder. Perder unido nesta hora é uma grande coisa.

Mesmo que seja o Doria?

Aécio Neves - Se for esse o destino, que cada um assuma a sua responsabilidade.

Se na eleição o PSDB vai diminuir de tamanho, qual será o papel do partido?

Aécio Neves - Eu não vou desistir do PSDB. O PSDB terá um papel decisivo, independentemente do tamanho da bancada. Nosso encontro está marcado no pós-eleição. O PSDB não é hospedeiro de projetos. Vamos recuperar nosso papel como um partido que tem projeto de país sendo oposição a Lula ou Bolsonaro. Mas temos que existir para isso.

Bolsonaro tem criticado reiteradamente o processo eleitoral. Acha que se trata de uma bravata ou ele pode tomar uma medida autoritária?

Aécio Neves - Eu acho certo exagero achar que Bolsonaro possa atentar contra a democracia. Ele não terá forças e condições para isso.

O sr. questionou o processo eleitoral após perder em 2014. Sua postura não gerou um precedente perigoso?

Aécio Neves - Esse debate sobre as urnas foi contaminado pelo radicalismo das posições tanto do presidente como do TSE [Tribunal Superior Eleitoral] à época do ministro Barroso.

Acho que todos os processos eleitorais no mundo estão em processo de aprimoramento. Devemos, depois das eleições e fora desse ambiente, discutir de que forma garantir que a população brasileira no seu conjunto confie no sistema, seja qual for ele.

Criou-se essa narrativa que eu contestei o resultado das eleições [de 2014]. Mentira. Às 20h30, quando o TSE anunciou o resultado, eu liguei para a candidata Dilma Rousseff para parabenizá-la pelas eleições, desejando que ela pudesse ter forças e condições de unir o Brasil. Essa é a liturgia que as democracias cumprem.

Vocês decidiram lançar o Marcus Pestana ao Governo de Minas. Por que a decisão de não apoiar o governador Romeu Zema?

Aécio Neves - O Pestana é anos-luz mais qualificado que qualquer um na disputa. O Zema não está à altura do que Minas precisa. [O Pestana] tem toda a condição de crescer pela fragilidade do seu adversário.

O sr. é alvo de processo na Justiça, baseado na delação do Joesley Batista, da JBS, e reconhece que isso atrapalhou o PSDB.

Aécio Neves - O dano foi enorme, pessoal e para o partido. Isso foi desmascarado pela Justiça, que mostrou que aquilo foi uma farsa perpetrada pelo Joesley com a ajuda do procurador Marcello Miller. Nós vamos atuar na Justiça para responsabilizar os autores dessa farsa.

Mas o MPF (Ministério Público Federal) vai recorrer da sua absolvição pela Justiça de São Paulo.

Aécio Neves - O MPF recorre sobre tudo. Você já viu o MPF deixar de recorrer? Eu passei cinco anos com todo tipo de acusação, todos os dias, de todas as mídias. Não se constranja em dizer que eu fui absolvido, porque essa é a realidade.Raio-X Aécio Neves (PSDB-MG), 62

Deputado federal pela quinta vez, foi senador e governador de Minas Gerais por dois mandatos. Disputou a Presidência da República em 2014 e acabou em segundo lugar, perdendo para a ex-presidente Dilma Rousseff (PT). Neto do ex-presidente Tancredo Neves, é formado em economia pela PUC de Minas Gerais.

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