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Argentina pede discrição ao Brasil sobre voo SP-Malvinas

O motivo é o temor de uma crise política decorrente do estabelecimento da rota, que terá duas escalas mensais, uma de ida e outra volta, na cidade argentina de Córdoba

Argentina pede discrição ao Brasil sobre voo SP-Malvinas
Notícias ao Minuto Brasil

23:30 - 18/11/19 por Folhapress

Mundo BRASIL-ARGENTINA

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O governo argentino pediu que nenhuma autoridade federal brasileira comentasse ou prestigiasse o lançamento de novo voo ligando São Paulo às ilhas Falklands, conhecidas no país vizinho como Malvinas.

O motivo é o temor de uma crise política decorrente do estabelecimento da rota, que terá duas escalas mensais, uma de ida e outra volta, na cidade argentina de Córdoba. Ele será feito pela chileno-brasileira Latam e começa a operar na próxima quarta (20) com um Boeing 767-300ER.

O pedido, informal, chegou por meio de canais diplomáticos e foi aceito pelo Itamaraty. A preocupação de Buenos Aires é que a eventual presença de políticos em eventos relacionados à inauguração do serviço passasse a impressão de que o Brasil endossa a soberania do Reino Unido sobre as ilhas.

O Brasil reconhece o pleito argentino sobre o arquipélago e chama as ilhas de Malvinas.

As Falklands foram objeto de uma guerra entre argentinos e britânicos, em 1982. Em decadência política, a ditadura argentina liderada pelo general Leopoldo Galtieri invadiu o arquipélago.

A então primeira-ministra britânica Margaret Thatcher decidiu enviar uma força naval para retomar o território, o que conseguiu 74 dias depois da invasão. Como resultado, morreram 649 argentinos, 255 britânicos e três ilhéus. A ditadura argentina entrou em colapso a seguir.

Pessoas que acompanharam o caso na diplomacia brasileira dizem que não havia nenhuma perspectiva de tal endosso de políticos ao lançamento ou ao voo em si, o que mostra o quão sensível ainda é a questão das Falklands no vizinho, em especial neste momento – o governo de Mauricio Macri foi derrotado nas urnas pelo peronista Alberto Fernández em outubro. Ao responder ao cumprimento britânico pela vitória, o futuro presidente iniciou seu texto dizendo que não renunciaria ao desejo de governar as ilhas.

A questão é que a rota, na prática, é uma ligação disfarçada entre a Argentina e as ilhas. Não é algo inédito: a Latam opera desde 1999 um voo semelhante, que sai de Punta Arenas (Chile) e faz a mesma escala dupla mensal na argentina Río Gallegos.

À época, houve uma chuva de críticas sobre o que seria um reconhecimento indireto de que as ilhas são britânicas. As Falklands foram incorporadas ao Império Britânico em 1833, e são hoje um território ultramarino de Londres.

E o são por opção de 99,8% de seus cerca de 3.400 habitantes, segundo plebiscito realizado sobre o tema em 2013.

A reivindicação argentina vem do fato de que, antes de 1833, o país foi um dos que disputou a colonização das ilhas - o primeiro assentamento local foi francês, em 1764.

A inauguração da rota paulistana foi duramente criticada, especialmente por políticos peronistas como Rosana Bertone, a governadora da Província da Terra do Fogo.

O voo inaugurado em 1999 e o novo foram estabelecidos em governos de oposição ao peronismo – Carlos Menem antes e Macri agora –, mas os governos peronistas dominados pela família Kirchner entre eles nada fizeram para suspendê-los.

Desde 2016, já sob Macri, a Argentina e o Reino Unido vinham tomando medidas de confiança mútua sobre as ilhas.

No fim de outubro deste ano, Londres devolveu a pequena estátua de Nossa Senhora de Luján, tomada dos soldados invasores argentinos que levaram a imagem da padroeira de seu país para as ilhas em 1982. O papa Francisco, que é argentino e próximo do peronismo, abençoou o objeto no Vaticano.

Além da questão histórica, há interesses econômicos. A prospecção de petróleo no entorno das Falklands está travada devido ao fato de a Argentina reivindicar também as águas territoriais da região.

Hoje, as ilhas são autossuficientes. Têm um Produto Interno Bruto anual equivalente a R$ 540 milhões, oriundos da pesca, da lã de suas 500 mil ovelhas e do turismo, mas o petróleo é o que chama atenção: as reservas sob o mar estão estimadas em 1 bilhão de barris - hoje o Brasil todo tem 12 vezes isso.

O voo da Latam sairá duas vezes por mês de São Paulo, uma delas com escala em Córdoba, rumo ao aeródromo de Mount Pleasant. O lugar abriga os mais avançados caças do Hemisfério Sul, usualmente operando quatro modelos Eurofighter Typhoon.

A frequência obrigará o visitante a passar ao menos uma semana em Stanley, a capital e única cidade das Falklands, se quiser pegar o voo de volta na mesma rota. No site da Latam, cada perna da viagem começa em R$ 2.259.

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