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Esquerdista, Glenn Greenwald ganha fãs improváveis na direita por defesa da liberdade

Comentarista da rádio Jovem Pan e figura de proa do opinionismo bolsonarista, Rodrigo Constantino foi um dos que fizeram coro em prol do jornalista

Esquerdista, Glenn Greenwald ganha fãs improváveis na direita por defesa da liberdade
Notícias ao Minuto Brasil

12:34 - 27/11/21 por Folhapress

Política GLENN-GREENWALD

FÁBIO ZANINI
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Conhecido por suas posições progressistas, o jornalista americano Glenn Greenwald passou a ser admirado recentemente por uma plateia inusitada: a direita brasileira.
Greenwald, que vive no Rio de Janeiro, entrou na mira de bolsonaristas e lavajatistas há pouco mais de dois anos, quando revelou diálogos mantidos pelo ex-juiz Sergio Moro com procuradores, no caso que ficou conhecido como Vaza Jato. Foi atacado, teve a prisão e a deportação pedidas e ganhou a alcunha de "Verdevaldo", tradução jocosa de seu nome.


De alguns meses para cá, no entanto, ele vem ganhando elogios surpreendentes no mundo destro.


Comentarista da rádio Jovem Pan e figura de proa do opinionismo bolsonarista, Rodrigo Constantino foi um dos que fizeram coro em prol do jornalista.


"O Glenn é um cara de esquerda, mas honesto, e detona a ex-imprensa brasileira, que assumiu que os alvos dos disparos de Rittenhouse eram negros para encaixar numa narrativa prévia", escreveu Constantino em publicação no Twitter.


O influenciador conservador Kim Paim e o escritor Leandro Narloch, também jornalista, se manifestaram seguindo a mesma linha, elogiando a "versão americana" de Glenn, remetendo a publicações em inglês em que ele critica a esquerda identitária.


Há diversos outros exemplos, como o do empresário e influenciador Leandro Ruschel, que depois se arrependeu e apagou um tuíte elogioso a Glenn.


O motivo da nova admiração pelo jornalista é sua defesa da liberdade de expressão, hoje um valor associado mais à direita, tanto no Brasil como nos EUA.


Figura influente na imprensa americana, Glenn se tornou um crítico de jornalistas de esquerda, de lideranças do Partido Democrata e do governo Joe Biden. Frequentemente participa de programas na Fox News, emissora de TV próxima ao Partido Republicano e ao ex-presidente Donald Trump.


Em entrevista recente ao jornal Folha de S.Paulo Glenn disse que não se tornou uma pessoa de direita, apenas se mantém fiel a princípios que defende há décadas. E afirma que não se importa dos elogios recebidos de trumpistas e bolsonaristas.


"Talvez dizer que eu sou elogiado por eles seja uma palavra um pouco forte. O que estou vendo é dizerem: 'meu Deus, não consigo acreditar que estou concordando com alguma coisa que ele está falando'", afirma.


Glenn acredita a simpatia que desperta nos apoiadores do presidente Bolsonaro tenha em parte relação com as mudanças na conjuntura política.


"Na época da Vaza Jato, o alvo principal era o Sergio Moro, que em 2019 era um membro do governo Bolsonaro bem importante. Havia uma união entre bolsonaristas e lavajatistas. Quando eu estava criticando o Moro, eu era inimigo do governo Bolsonaro. E obviamente tudo isso mudou, agora Moro ironicamente é o inimigo número 1 do Bolsonaro. Muitos agora dizem: 'Glenn tinha razão'", afirma.


Ele diz que se surpreende com a pouca importância dada pela esquerda ao tema da liberdade. "Quando cresci como um adolescente gay nos EUA, nas décadas de 70 e 80, a censura era uma ferramenta usada pela direita. Queria censurar filmes, músicas. A liberdade de expressão era um valor associado à esquerda. Mas agora aqui no Brasil, muitas vezes a censura é apoiada pela esquerda e o alvo é a direita, principalmente bolsonaristas", afirma.


Isso tem relação, segundo o jornalista, com a forma como as novas gerações de esquerda enxergam o tema, já que elas não têm a memória da censura aplicada pelo regime militar no Brasil.


"No Brasil a liberdade de expressão é quase tratada pela esquerda brasileira como uma ideia fascista, autoritária. Isso para mim é incrível, porque a ditadura militar usou a censura contra a esquerda", diz.


Em outra divergência com esquerdistas, ele diz ser contrário a estabelecer restrições a opiniões, desde que não envolvam a prática de crime.


"Não podemos ter limites na questão de opiniões políticas. Obviamente, tem de haver limites de difamação. Não posso publicar um artigo dizendo que você é pedófilo, por exemplo, ou cometer uma fraude".


Na semana passada, Glenn e seu marido, o deputado federal David Miranda (PSOL-RJ), receberam críticas da esquerda por participarem de um programa do Flow, canal de podcasts popular entre a direita e que recentemente sofreu acusações de defender que sejam toleradas opiniões racistas.


O jornalista diz que aceitou o convite porque avalia que é importante ter contatos "fora da bolha".


"Me incomoda que a esquerda e a direita nunca concordem em nada. Precisamos ter valores e princípios comuns. Para mudar a sociedade, é preciso conversar com pessoas que não concordem com você", diz.

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