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Doutoranda, travesti bissexual lança livro sobre vida de prostituta

"E se eu fosse puta" é o livro da travesti bissexual Amara Moira e conta suas experiências como prostituta

Doutoranda, travesti bissexual lança livro sobre vida de prostituta
Notícias ao Minuto Brasil

13:08 - 31/07/16 por Notícias Ao Minuto

Brasil Unicamp

Amara Moira assumiu a condição de condição de travesti bissexual há três anos. Nascida em Campinas, filha da classe média, formada em Letras e atualmente doutoranda em Literatura e escritora do livro "E se eu fosse puta".

A reportagem d'O Globo conversou por e-mail com a jovem, ela conta que sofreu muito bullying na escola, era nerd, péssima nos esportes e a maior leitora das bibliotecas onde estudou. "Como nunca fui uma criança feminina, consegui evitar a violência", recorda Amora.

A travesti explica que quando era adolescente percebeu que era capaz de se relacionar com homens e mulheres. "Gostar de homens sempre me deixou em crise. Sou fruto de uma sociedade homofóbica e nunca consegui superar os traços que deixou em mim. Só depois de me assumir travesti (e, por favor, “a” travesti, no feminino), passou a ser uma questão tranquila", conta.

A coragem de se assumir travesti surgiu quando ela entrou para a militância LGBT. "Ao conhecer na universidade pessoas trans respeitadas, superei meu maior medo: da noite para o dia, perder família, amigos, direito de estudar, de ter um emprego que pudesse ser chamado de emprego e não a única opção que permitem às travestis: prostituição", destaca.

Questionado sobre a sua experiência como prostituta, Amara responde. "A prostituição é uma de minhas fontes de inspiração. Meu doutorado é em Literatura. O medo da prostituição retardou minha transição, mas, quando me assumo Amara e militante, percebo que as figuras que lutaram para que eu hoje pudesse existir pagaram com a vida por serem travestis ou viveram vidas absurdamente sofridas, eram quase todas prostitutas. Pessoas me tratavam como prostituta mesmo eu não sendo, por me verem travesti. Homens só se permitiam flertar comigo, dizer que eu era bonita, quando eu estava no bairro de prostituição onde minhas amigas viviam. Não havia muito espaço para relações afetivas, ou para me sentir bela. Começar a me prostituir era então, em algum grau, o que esperavam de mim, e o que estava ao meu alcance para não enlouquecer, especialmente quando ainda estava tão frágil, dando os primeiros passos como Amara. E o dinheiro me ajudaria a acelerar o processo", relata.

Amara conta que atualmente não trabalha como prostituta devido a um problema de saúde e explica que ganha uma bolsa de doutorado da Unicamp que paga as suas contas. "Até o final do ano ainda a recebo, mas a partir do ano que vem precisarei descobrir outra forma de fazer dinheiro (e dentre elas estará a prostituição com certeza)", cogita.

A travesti também fez revelações sobre sua vida amorosa. "Enquanto eu me prostituía, me apaixonei por um cliente, mas é difícil sustentar um amor quando te tratam tão mal, só te querem na sombra. Para minha sorte, sou bissexual e estou namorando uma mulher cisgênero (cujo gênero é o mesmo registrado no nascimento) que amo muito, que nunca teve vergonha de mim nem do fato de eu ser prostituta", revela.

Amara, que fala abertamente sobre a prostituição, diz que a profissão foi a forma que ela encontrou para se sentir bonita, desejada. "Sinto muito prazer em transar, especialmente com anônimos, mas me desgasta o fato de nos tratarem tão mal, seja por transfobia, seja por terem gozado e já não conseguirem mais aceitar o desejo. Fora isso, a prostituição me força a escrever, me mostra a urgência de transformá-la em texto, talvez porque tenho cabeça de escritora e não sei entrar numa situação extrema e não imaginar de cara como ela ficaria no papel", esclarece.

"E SE EU FOSSE PUTA"

A obra de Amara é escrita em primeira pessoa e numa linguagem que se quer poética, melódica. O livro traz as experiências da travesti enquanto prostituta e os primeiros passos que como Amara. "São depoimentos impactantes, pesados, mas creio que o jeito de narrar acaba trazendo o leitor pra dentro do jogo e o fazendo viver a história junto comigo".

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